Missa do 10º dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 3,9-15; 2Coríntios 4,13 – 5,1; Marcos 3,20-35.
O Senhor Deus dirige a nós hoje a
mesma pergunta que dirigiu a Adão: “Onde você está?” (Gn 3,9). Ora, Deus sabe
todas as coisas e nos conhece por dentro. Por que Ele nos perguntaria “onde”
nós estamos? Exatamente para tomarmos consciência do quê estamos fazendo conosco
e com a vida que Ele nos deu. Diante dessa pergunta, Adão reconheceu que havia
pecado, que estava tentando se esconder de Deus e que sentia vergonha da sua
nudez.
Onde eu estou nesse momento? Como
estou lidando com os meus afetos e desejos? Como está minha vida familiar,
profissional e espiritual? Eu estou em estado de pecado, de oposição à vontade de
Deus, ou estou procurando viver segundo Sua vontade? Eu tenho consciência de
que pecar significa fazer o que é mal aos olhos de Deus (cf. Sl 51,6), mesmo
que aquilo pareça bom aos meus olhos? Adão transferiu a responsabilidade do seu
pecado a Eva, e esta, por sua vez, à serpente. Eu assumo a responsabilidade
pela minha vida, pelos meus atos, ou tenho a mania de transferir para os outros
a responsabilidade por minha vida não estar dando certo?
Todos nós pecamos. “A serpente me
enganou e eu comi” (Gn 3,13). Todos nós nos enganamos, achando que aquilo que
demos permissão para que entrasse em nossa vida nos fizesse feliz, mas só nos
deu um momento de prazer que, depois, aumentou o nosso vazio e a nossa
frustração. Aliás, a grande porta de entrada para o pecado em nossa vida é não
saber lidar com a frustração. Por não estarmos dispostos a aprender a lidar com
a frustração, assim que ela aparece buscamos formas erradas de compensá-la,
fazendo mal a nós mesmos e aos outros. Não esqueçamos que a propaganda e as
redes sociais despertam em nós constantes sentimentos de frustração, quando a
verdade é uma só: “A felicidade não depende do que não temos, mas do bom uso
que fazemos daquilo que temos” (provérbio chinês).
Jesus nos dá uma grande consolação
no Evangelho de hoje: “Tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como
qualquer blasfêmia que tiverem dito” (Mc 3,28). Também o salmista afirma: “Em
vós se encontra o perdão” (Sl 130,4); “no Senhor se encontra toda graça e
copiosa redenção. Ele vem libertar a Israel de toda a sua culpa” (Sl 130,7-8). Nenhum
pecado nos aprisiona para sempre, a menos que nada façamos para nos libertar
dele. Além disso, aquilo que não podemos o Senhor pode: “onde foi grande o
pecado, muito maior foi a graça” (Rm 5,20); onde eu sou derrotado pelo meu
pecado, ali a graça de Deus pode agir e me libertar do domínio do pecado.
Contudo, o mesmo Jesus que afirmou: “Tudo
será perdoado aos homens” (Mc 2,28), também nos advertiu: “Quem blasfemar
contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado
eterno” (Mc 2,29). E São Marcos evangelista explica: “Jesus falou isso, porque
diziam: ‘Ele está possuído por um espírito mau’” (Mc 2,30). Quando Jesus
iniciou sua missão, disse: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me
consagrou com a unção” (Lc 4,18). Se Jesus “passou por este mundo fazendo o bem
e curando a todos os que estavam dominados pelo diabo” (At 10,37), foi porque
Ele estava investido do poder do Espírito Santo. Atribuir ao espírito do mal
uma obra que foi realizada pelo Espírito Santo é um pecado que não tem perdão.
A melhor forma de compreendermos o
que é esse pecado que não tem perdão é recordar a função do Espírito Santo em
relação ao mundo: “Quando o Espírito Santo vier, convencerá o mundo a respeito
do pecado” (cf. Jo 16,8). Quando o Espírito Santo, o “Espírito da Verdade” (Jo
16,13) me convence de que eu estou errado, e a minha atitude de pecado está me
afastando de Deus, e mesmo assim eu não aceito a Verdade do Espírito Santo e
insisto em permanecer na mentira do meu pecado, estou me excluindo da salvação.
Uma última palavra: o pecado entra
em nós pelos olhos. Enquanto o apóstolo Paulo afirmou: “Voltamos os nossos
olhares para as coisas invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é
visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno” (2Cor 4,18), a nossa
geração só enxerga o que é ilusório, transitório e passageiro, mantendo-se cega
para o que é invisível e eterno. Constantemente nossos olhos vivem distraídos
pelas mentiras e seduções que o mundo inventa para desviar o nosso olhar d’Aquele
que é “o Invisível” (Hb 11,27), “o Deus escondido” (Is 45,15). Portanto, se
queremos nos libertar das armadilhas do pecado, precisamos reeducar os nossos
olhos, a nossa maneira de ver a vida: como entendemos o nosso envelhecimento (a
ruína do “homem exterior”), as tribulações momentâneas e a tenda temporária em
que habitamos. O nosso olhar precisa “levantar-se” e se tornar capaz de
enxergar nossa própria interioridade, a glória eterna que nos aguarda e a
moradia no céu, construída pelo próprio Deus, para aqueles que buscam viver
segundo a Sua vontade.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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