quinta-feira, 23 de maio de 2024

O CRIADOR, O REDENTOR E O CONSOLADOR

 Missa da Santíssima Trindade. Palavra de Deus: Deuteronômio 4,32-34.39-40; Romanos 8,14-17; Mateus 28,16-20.

 

            “Voltai-vos para mim e sereis salvos, homens todos dos confins de toda a terra, porque eu sou Deus e não há nenhum outro!” (Is 45,22). “Eu sou Deus e não há nenhum outro”. Apesar da diversidade de igrejas e religiões no mundo, a maioria das pessoas acredita na existência de um único Deus. No entanto, quem é o Deus em quem nós cremos? Essa é a pergunta que a celebração de hoje quer responder: o Deus em quem nós cremos Se revelou a nós na Sagrada Escritura como Pai, Filho e Espírito Santo e nós, cristãos, fomos batizados exatamente “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, conforme a ordem que Jesus deu aos seus discípulos (cf. Mt 28,19).

            Nós cremos em Deus Pai. Sendo Pai, Deus é a origem da vida, a origem de tudo o que existe: “A palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas. Ele falou e toda a terra foi criada, ele ordenou e as coisas todas existiram” (Sl 33,6.9). Desde o ventre materno Ele já nos conhecia e pronunciou o nosso nome (cf. Sl 139,13; Is 49,1; Jr 1,5). Portanto, a nossa existência é um desejo de Deus. Porque cada um de nós é único, a nossa existência contém uma palavra única de Deus para a humanidade.

            O mesmo Deus que é Pai colocou em nosso coração o Espírito de seu Filho – recordemos de que celebramos Pentecostes domingo passado! – e esse Espírito clama: “‘Abá, ó Pai!’ O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus” (Rm 8,15-16). A presença do Espírito Santo em nós atesta, comprova, confirma que não estamos jogados no mundo ao acaso e que não somos órfãos: o mesmo Deus que nos criou é o Pai que nos ama e cuida de nós. O que o Pai deseja é que nós nos relacionemos com Ele como uma criança se relaciona com seu pai. A palavra “Abá” traduz a confiança absoluta que a criança pequena tem no seu pai. É exatamente isso que o Pai quer de nós: que confiemos n’Ele absolutamente; que essa confiança nos faça a cada dia nos lançar em Seus braços e confiar que Ele não apenas sabe do que precisamos, mas que também faz com que tudo concorra para o bem daqueles que confiam esperando em seu amor (cf. Rm 8,28): “O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem, e que confiam esperando em seu amor, para da morte libertar as suas vidas e alimentá-los quando é tempo de penúria” (Sl 33,19-20).

            Nós cremos em Deus Filho. Por amor à humanidade e para salvá-la, o Pai enviou o seu Filho único, Jesus Cristo (cf. Jo 3,16). Jesus veio nos revelar o verdadeiro rosto do Pai: Ele é bom para aqueles que precisam que Ele o seja. Por meio de Jesus Cristo todas as pessoas podem ter acesso ao Pai (cf. Ef 2,18). Jesus “é a Imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), de modo que nós só podemos conhecer o Pai por meio do Filho (cf. Jo 1,18; Mt 11,27). Além disso, Pai e Filho trabalham juntos pela salvação da humanidade, como Jesus afirmou: “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho” (Jo 5,17). Desse modo, todos devem honrar o Filho como honram o Pai: “Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou” (Jo 5,23). 

Cada um de nós foi confiado pelo Pai às mãos do Filho: “Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vem a mim eu não o rejeitarei... A vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nada do que ele me deu, mas o ressuscite no último dia” (Jo 6,37.39). Essa é a nossa confiança: o Pai concedeu ao Filho o poder de salvar todo ser humano (cf. Jo 17,2), e esse poder age em nós através do Espírito Santo. Santo Agostinho dizia: “Aquele que te criou sem ti não te salva sem ti”, isto é, sem a nossa colaboração, sem a nossa obediência ao Espírito de Deus. É por isso que o apóstolo Paulo fala da necessidade de nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo. Nem sempre Ele nos conduzirá para onde desejamos ir, mas sim para onde precisamos ir, em vista da nossa salvação. Quando opomos resistência ao Espírito Santo, Ele respeita a nossa liberdade e nos deixa nas mãos do nosso ego, que muitas vezes fere a nós mesmos e aos outros.

Nós cremos em Deus Espírito Santo. Como vimos domingo passado, o Espírito é o “Defensor” que Jesus nos prometeu, o “Espírito da Verdade” que deve nos conduzir à plena verdade. Ele é a força do Alto que nos faz testemunhas do Evangelho por todo o mundo (cf. At 1,8). Segundo o apóstolo Paulo, a missão do Espírito Santo é nos conduzir para a nossa glorificação (cf. Rm 8,17), ou seja, completar a obra que o Pai e o Filho começaram em nós. Ele orienta a Igreja na sua missão no mundo – “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2,7.11.17.29; 3,6.13.22) – sustentando-a ao longo dos séculos, enquanto a mesma aguarda a vinda do seu Esposo: “O Espírito e a Esposa dizem: ‘Vem!” (Ap 22,17).

            Renovemos a nossa fé no Pai Criador, no Filho Redentor e no Espírito Santo Consolador...

 

            Pe. Paulo Cezar Mazzi

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