Missa de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios 12,3b-7.12-13; João 15,26-27; 16,12-15.
Todos os textos bíblicos da festa
de hoje – Pentecostes (cinquenta dias após a Páscoa) –, nos remetem para a
pessoa do Espírito Santo de Deus. O que a água é para as plantas, o que o ar é
para tudo o que vive e que respira, assim o Espírito Santo é para nós: absolutamente
necessário. “Se tirais o seu respiro, elas perecem e voltam para o pó de onde
vieram. Enviais o vosso espírito e renascem e da terra toda a face renovais”
(Sl 104,29-30); “Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele”
(Sequência de Pentecostes).
Jesus já havia comparado o Espírito
de Deus ao vento: você não o vê, mas sente os seus efeitos (cf. Jo 3,8). Desse
modo, nós vemos o Espírito Santo capacitar os discípulos a anunciar o Evangelho
na língua de cada povo: “Todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de
Deus na nossa própria língua!” (At 1,11). Toda pessoa que se deixa conduzir
pelo Espírito de Deus comunica amor, esperança, palavras que favorecem o perdão
e a reconciliação, palavras que derrubam muros e constroem pontes, transformando
a divisão em comunhão, o distanciamento em aproximação, o desentendimento em
compreensão.
As línguas de fogo que o Espírito
Santo derramou sobre os discípulos no dia de Pentecostes questionam não somente
as palavras que saem diariamente da nossa boca, mas, sobretudo, aquelas que
enviamos diariamente pelas redes sociais. São palavras que edificam, que
favorecem a unidade, que constroem fraternidade, que transmitem fé e esperança,
ou são palavras que abrem feridas, que levantam muros de inimizade, que
alimentam distanciamento e separação entre as pessoas? As palavras que
comunicamos em casa ou no ambiente de trabalho têm provocado aproximação ou
distanciamento; elas favorecem a paz ou alimentam a guerra entre nós?
Ao falar da presença do Espírito Santo
na Igreja, o apóstolo Paulo deixa claro que ninguém tem todos os dons do
Espírito Santo, assim como ninguém está privado de todo e qualquer dom: “A cada
um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7). Onde
está o Espírito Santo, ali está o interesse pelo bem comum. Em outras palavras,
quando nos fechamos em nós mesmos e não colaboramos pelo bem comum – família,
local de trabalho, igreja, sociedade humana – significa que não estamos nos
deixando conduzir pelo Espírito Santo, mas pelo nosso próprio ego, que pensa
somente em si e jamais no bem comum. Portanto, o apóstolo Paulo deixa claro que
o Espírito Santo nunca nos é dado para a promoção de nós mesmos, para a nossa
vaidade ou para que nos sintamos melhores do que os outros, mas para que abracemos
uma causa que vise o bem comum, o bem de todos os que estão à nossa volta.
A palavra de ordem do nosso tempo é “diversidade”.
Em nome do respeito à diversidade, somos proibidos de manifestar nossas
opiniões para não “ferir” quem pensa diferente de nós. Ora, “há diversidade de
dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é
o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as
coisas em todos” (1Cor 12,5-6). O respeito à “diversidade” não pode se tornar
uma justificativa para não nos esforçarmos em trabalhar pela unidade, seja da
família, seja do local de trabalho, seja da Igreja, seja da sociedade humana.
Paulo repetiu por três vezes a expressão “um mesmo”. Independente da
diversidade que marca a cultura moderna, “todos somos irmãos” (cf. Mt 23,8),
como nos lembrou a Campanha da Fraternidade deste ano; todos estamos no mesmo
barco; todos habitamos no mesmo planeta; todos temos um só Deus por Pai, um só
Salvador – Jesus Cristo – e somos animados por um só Espírito. Se é obra do
espírito diabólico dividir, é obra do Espírito de Deus unir. Neste sentido, não
existe neutralidade: ou somos cristãos movidos por um espírito diabólico, ou
movidos pelo Espírito de Deus, o qual trabalha sempre pela unidade.
Jesus entende o Espírito Santo como
nosso Defensor. Não é função do Espírito Santo nos defender daquilo que somos
chamados a enfrentar, em vista da nossa cura, da nossa conversão e do nosso
crescimento. Também não é função do Espírito Santo nos defender do mundo, mas
justamente o contrário: nos encorajar para testemunharmos o Evangelho justamente
num mundo contrário aos valores do Evangelho. Se há algo em relação ao qual o
Espírito Santo deseja nos defender é em relação ao medo, à covardia, à
acomodação, ao fechamento sobre nós mesmos e à indiferença para com o que
acontece à nossa volta.
Além de chamar o Espírito Santo de nosso
“Defensor”, Jesus o chama também de “Espírito da Verdade”. O nosso Deus é “o
Deus da Verdade” (cf. Is 65,16); o próprio Jesus declarou ser “a Verdade” (Jo
14,6); portanto, o Espírito do Pai e do Filho só pode ser “o Espírito da
Verdade” (Jo 16,13). Se a Verdade cura, a mentira adoece; se a Verdade liberta,
a mentira nos mantém prisioneiros; se a Verdade dói, a mentira pode não doer,
por nos manter anestesiados, mas ela apenas retarda o momento do encontro com a
Verdade, pois Jesus nos garantiu que “não há nada escondido que um dia não
venha a ser revelado” (Mt 10,26).
Para a Sagrada Escritura, encontrar-se
com a verdade é sinônimo de ser salvo. De fato, Deus “quer que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Quando ignoramos
a verdade passamos a vida como um elefante preso a uma estaca por uma pequena
corda, o qual desconhece a própria força em romper com a corda e libertar-se da
sua prisão. Inúmeras pessoas passam a vida prisioneiras do espírito da mentira –
o diabo é o pai da mentira (cf. Jo 8,44) – seja por medo de romper com aquela
dependência doentia, seja por ignorar a própria condição de prisioneiro(a)s.
Jesus nos convida a permitir que o Espírito da Verdade nos conduza para fora
das mentiras do mundo, e nos faça homens e mulheres verdadeiramente livres.
Neste dia de Pentecostes, recordemos
a promessa de Jesus: “O Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem” (Lc
11,13). Peçamos ao Pai que derrame o Espírito Santo sobre toda carne, sobre
todo ser humano, sobre tudo o que precisa ser curado, liberto, transformado e
salvo na face da terra, no coração da criação e, principalmente, no coração de
cada ser humano.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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