Missa do 9º dom. comum. Palavra de Deus: Deuteronômio 5,12-15; 2Coríntios 4,6-11; Marcos 2,23-28
“Guarda o dia de sábado, para o
santificares” (Dt 5,12). Antes de refletirmos sobre o significado desse
mandamento, precisamos responder a uma pergunta: Por que os cristãos, com
exceção dos adventistas do sétimo dia, guardam o domingo e não o sábado? Porque
Jesus ressuscitou não no sétimo dia, mas no primeiro dia da semana e visitou os
discípulos especialmente aos domingos e não aos sábados (cf. Lc 24,13; Jo 20,1.19.26;
Ap 1,10). Justamente por isso, a palavra “domingo” significa “dia do Senhor”.
Qual o sentido do sábado, no Antigo
Testamento? Ele celebrava duas coisas importantes: a primeira, o descanso de
Deus (cf. Dt 5,14); a segunda, a libertação de Israel da escravidão do Egito
(cf. Dt 5,15). Descansar um dia na semana é essencial para a nossa saúde física
e mental (emocional). Além disso, esse descanso não se refere somente ao ser
humano, mas ao planeta, à Terra: ela também precisa de descanso, no sentido de
que o ser humano não pode se relacionar com ela como um predador, mas como um
cuidador.
A lei do descanso questiona como
vivemos o nosso domingo ou o dia de folga da semana. Normalmente, as pessoas
enchem esse dia com ocupações que impedem um verdadeiro descanso, além de dar
prioridade à diversão. O domingo ou o dia de folga da semana é um momento
sagrado para estar com a família, para ter aquela conversa necessária, para
alimentar os vínculos com aqueles com quem moramos juntos e pouco ou nada
convivemos durante a semana, para silenciar e refletir sobre si mesmo e,
principalmente, para vincular-se mais profundamente a Deus, pois “se Deus não
constrói a nossa casa, em vão nós trabalhamos” (Sl 127,1).
Se existem pessoas ou empresas que
nunca param – o mercado tem pressa e sacrifica tudo em nome da sua ganância
desmedida –, nós temos também aqueles que estão sempre muito ocupados em não
fazer nada. A preguiça e o comodismo hoje são dois pecados muito presentes nas
novas gerações, “deseducadas” desde cedo a receberem tudo na mão e a não
esforçar-se para obter nada trabalhando. Aqui é preciso lembrar-se da
advertência bíblica: “Quem não quer trabalhar também não deve comer” (2Ts
3,10).
Ainda a respeito da lei do descanso,
o livro do Deuteronômio sublinha o perigo da escravidão: “Lembra-te de que
foste escravo no Egito e que de lá o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte
e braço estendido. É por isso que o Senhor teu Deus te mandou guardar o sábado”
(Dt 5,15). Ninguém de nós foi escravo no Egito, mas temos outros tipos de
escravidão: celular, computador, filmes e séries – pessoas que passam o final
de semana “maratonando séries” –, bebida alcoólica e outras drogas, pornografia,
jogos de vídeo game etc. Esquecemos do alerta feito pelo apóstolo Paulo: “‘Posso
fazer tudo o que quero’ – ou seja, sou livre! – ‘mas não me deixarei escravizar
por coisa alguma’” (1Cor 6,12).
Como Jesus viveu a lei do sábado? Ele
a viveu segundo o espírito e não segundo a letra. Ao ser questionado por ter
curado um paralítico num dia de sábado, Jesus respondeu: “Meu Pai trabalha
sempre e eu também trabalho” (Jo 5,17). Ao ser questionado sobre o fato de os
seus discípulos “trabalharem” para comer num dia de sábado, Jesus afirmou que o
cuidado com a vida humana está acima de qualquer lei, seja ela civil, seja
religiosa. Toda religião que presta culto a Deus descuidando ou sendo
indiferente às necessidades de um ser humano não entendeu o mandamento de “guardar
e santificar o dia do Senhor”. Se o próprio Deus trabalha pela salvação do ser
humano, como podem pessoas “crentes” nada fazerem pelo bem do mesmo ser humano,
usando como justificativa uma lei religiosa interpretada – convenientemente – de
maneira errada? Ainda uma outra pergunta que a atitude de Jesus nos coloca: eu
trabalho para alimentar meu vínculo com as pessoas que amo e também meu vínculo
com Deus?
Por fim, o apóstolo Paulo nos
recordou que todos nós somos vasos de barro. No dia do Senhor, especialmente,
somos convidados a nos colocar nas mãos do nosso Oleiro Divino, para que ele
trabalhe o vaso que somos em vista do nosso aperfeiçoamento. Sem esse deixar-se
cuidar por Deus e sem nos alimentarmos da sua Palavra e da Eucaristia de seu
Filho, somos engolidos pela angústia, perdemos a esperança, experimentamos o
desamparo e corremos o risco de nos sentirmos aniquilados (destruídos)
interiormente. Se cada vez mais os acontecimentos nos recordam que “por toda
parte e sempre levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus” (2Cor
4,10), precisamos vivenciar o domingo, dia do Senhor, como o momento em que “a
vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos” (2Cor 4,10).
Pe. Paulo Cezar Mazzi