Missa do 5º dom. Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 9,26-31; 1João 3,18-24; João 15,1-8.
O processo de industrialização
retirou o homem do campo e o transportou para a cidade, fazendo-o perder o
contato com a terra. Além disso, o avanço da tecnologia se impôs de tal forma
que a maioria das pessoas vive desconectada da natureza, o que nos distancia
muito das palavras do Evangelho de hoje: videira, agricultor, ramos, frutos. Por
isso, a única palavra que talvez nos ajude a compreender o ensinamento de Jesus
no dia de hoje seja a palavra “cultivo”. Se a maior parte da humanidade vive
longe do lugar onde se cultivam plantas e se produzem frutos – ainda que
dependa absolutamente do alimento para viver –, todo ser humano é chamado a
cultivar relações, sem as quais a sua vida se torna insuportavelmente
solitária.
Cultivar relações significa cultivar
vínculos. Ao mencionar diversas vezes a palavra “permanecer”, Jesus nos convida
a cultivar o vínculo que temos com Ele, pois, sem tal vínculo, nós nada podemos
fazer: “Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque
sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). O problema é que “permanecer” é uma
atitude cada vez mais rara na vida moderna: as pessoas não permanecem mais por
muito tempo no mesmo emprego, na mesma empresa, no mesmo relacionamento, na
mesma cidade, na mesma igreja etc. No lugar do “permanecer” entrou o desenraizar-se:
não se cria mais raízes, o que significa que não se cria mais vínculos
profundos.
Jesus deixa claro que, sem vínculo
profundo, não existe fruto. Se o galho não permanece vinculado ao tronco da
árvore, não recebe a seiva que procede do tronco e não consegue produzir fruto
algum. Essa verdade deve nos fazer examinar as áreas da nossa vida que estão
murchando, secando ou morrendo por descuido da nossa parte em relação ao
cultivo. Quando não se cultiva um relacionamento, o mesmo perde o sentido;
murcha, seca e não produz mais fruto, isto é, não alimenta afetivamente as
pessoas envolvidas naquele relacionamento.
O cultivo do nosso relacionamento
com Jesus passa por quatro coisas: vida de oração, contato diário com o
Evangelho, comunhão com a Eucaristia e solidariedade com os necessitados, com
os quais Jesus se identifica. Porém, não deveríamos cultivar essas atitudes
unicamente visando o fruto, sobretudo se ele for material (teologia da prosperidade).
Como nos sentiríamos se percebêssemos que uma pessoa se vincula a nós não por
amor, mas por interesse? Jesus conhece o ser humano por dentro (cf. Jo 2,25);
Ele sabe quais são as reais motivações que levam uma pessoa a se vincular a
Ele: se é por causa d’Ele ou se é por causa de algo que a pessoa espera
conseguir d’Ele.
Ao se comparar ao tronco de uma
árvore e ao nos comparar aos galhos da mesma, Jesus fala do Pai como um
agricultor que executa duas tarefas importantes: corta os galhos que nada
produzem e poda aqueles que produzem, para que produzam frutos melhores ainda.
Cortar e jogar fora um galho que nada produz significa lembrar que “quem não
vive para servir, não serve para viver” (Mahatma Gandhi). Em outras palavras, “aquele
que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg 4,17). Nenhum ser humano
deve viver como parasita. Então, o que dizer dessa geração que nasceu para ser
servida? (Ou o mais correto seria afirmar que “foi educada a ser servida”).
A outra função do agricultor é podar
os galhos que produzem frutos, para que se tornem mais fortes, mais fecundos, e
seus frutos sejam melhores ainda. Toda poda causa dor na árvore. Isso está
provado cientificamente. O Pai não tem receio em nos podar, em nos causar dor,
quando aquela poda é necessária para o nosso crescimento, para nos tornar mais
fecundos, melhores seres humanos e melhores cristãos. Como interpretamos essas
podas? Elas são acolhidas com a confiança de que o Pai sabe o que está fazendo,
ou se tornam causa de revolta da nossa parte para com Ele? O que o Pai hoje
está querendo podar em nossa vida, porque aquilo está sugando nossas melhores
energias e tornando os nossos frutos doentes, fracos e insuficientes?
De certa forma, cada um de nós é uma
árvore que o divino Agricultor plantou na Terra, para produzirmos o fruto da
bondade, da justiça, da fraternidade, da vida e da esperança. Nós estamos frutificando
aonde a mão do Pai nos plantou? Nossas raízes estão em Deus? Somos pessoas
capazes de “permanecer”, de ter disciplina e constância na vida de oração, de
meditação diária da Palavra de Deus, de comunhão com Jesus na Eucaristia e na
pessoa do próximo? Estamos correndo o risco de sermos cortados e jogados ao
fogo por causa da nossa preguiça ou má vontade em fazer o bem de que somos
capazes? Temos cultivado diariamente os relacionamentos que são significativos
para a nossa vida?
Pe.
Paulo Cezar Mazzi