Missa do 3º dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 3,13-15.17-19; 1João 2,1-5a; Lucas 24,35-48.
Estamos no 3º domingo do tempo pascal e
o Evangelho narra para nós a terceira aparição de Jesus ressuscitado aos
discípulos. Ele os encontra preocupados e cheios de dúvidas: “Por que estais
preocupados, e porque tendes dúvidas no coração?” (Lc 24,38). Também nós temos
o coração cheio de dúvidas e de preocupações: instabilidade econômica,
relacionamentos frágeis, doenças e violência que ameaçam a vida, futuro dos
filhos, desinformação provinda das redes sociais e, mais do que tudo, a
sensação de que estamos abandonados e nós mesmos (crise de fé).
Para dissipar as preocupações e dúvidas
dos discípulos, Jesus lhes dirige primeiramente uma palavra: “A paz esteja
convosco!” (Lc 24,36). Essa palavra está presente em praticamente todas as
aparições do Ressuscitado (cf. Jo 20,19.21.28). A paz que o Ressuscitado nos
oferece não ignora as nossas angústias, dúvidas, tribulações e preocupações,
mas é a paz daquele que venceu o mundo: “Eu vos disse tais coisas para terdes
paz em mim. No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!”
(Jo 16,33). Nós só podemos ter paz “em” Jesus, permanecendo unidos a Ele, na
comunhão com a presença no Evangelho e na Eucaristia. Mesmo que Ele tenha
ressuscitado, as tribulações continuarão a existir, sobretudo na vida dos seus
discípulos, pois o mundo é contrário ao Evangelho.
Eis a segunda atitude do Senhor
ressuscitado: “‘Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede!
Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho’. E
dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés” (Lc 24,39-40). A
ressurreição glorificou o corpo de Jesus, de modo que ele está modificado, o
que dificulta que os seus discípulos o reconheçam imediatamente. No entanto, o
corpo glorificado do Senhor carrega as marcas da sua crucificação. O
Ressuscitado é o Crucificado! Tanto os discípulos ontem, como nós hoje,
precisamos compreender que Jesus não é um fantasma! Ele é uma presença real no
meio de nós, na palavra do Evangelho e no sacramento da Eucaristia! É por isso
que ele insiste em “comer” na presença dos seus discípulos: “‘Tendes aqui
alguma coisa para comer?’ Deram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele o tomou e
comeu diante deles” (Lc 24,41-43).
Ninguém de nós duvida que Jesus morreu
numa cruz, mas quantos de nós o sentem vivo, ressuscitado, no coração?
Precisamos levar a sério sua promessa: “Eu estou convosco todos os dias, até a
consumação dos séculos” (Mt 28,20). “Eu estou com você! Eu estou em você,
através do Espírito Santo. Cada vez que você acolhe com fé a minha palavra no
Evangelho e recebe o meu Corpo e Sangue na Eucaristia, minha presença se
atualiza em você e na sua vida. Você não está sozinho!”.
A terceira atitude dos Ressuscitado é
relembrar aos discípulos aquilo que as Escrituras (Bíblia) profetizaram a seu
respeito: “Era preciso que se cumprisse tudo
o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc
35,44). Para o evangelista Lucas, todo acontecimento que se deu na vida de
Jesus nunca foi obra do acaso, mas permissão do Pai. O Pai previu e permitiu o
sofrimento e a morte de seu Filho em vista da nossa salvação: “Assim está
escrito: ‘O Cristo sofrerá
e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome, serão anunciados a conversão
e o perdão dos pecados a todas as nações’” (Lc 35,46-47).
Exatamente como Jesus, nós não estamos
no mundo abandonados às mãos do acaso. Na vida de cada um de nós que cremos
existe um “é preciso”. Se nós não queremos ser engolidos por nossas dúvidas e
preocupações, “é preciso” buscar diariamente no Evangelho a Palavra do
Ressuscitado, para vencermos o mundo. Se nós acreditamos que nossa vida tem um
sentido, que a nossa existência tem uma razão de ser, que a nossa realização
pessoal depende da fidelidade à tarefa que a vida nos confiou, temos que tomar
consciência do nosso “é preciso”: É preciso enfrentar o que estou enfrentando;
é preciso lutar para me manter fiel à vontade de Deus; é preciso me manter
firme na minha vida de oração; é preciso dizer ‘não’ a mim mesmo, renunciar ao
pecado e ‘morrer’ para o mundo, se eu quiser ser verdadeiramente salvo...
As três leituras bíblicas de hoje nos
falam de conversão e de perdão dos pecados: “Arrependei-vos, portanto, e
convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados” (At 2,19); “Se alguém
pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de
expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados
do mundo inteiro” (1Jo 2,1-2); “No seu nome (na pessoa do Senhor ressuscitado),
serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações” (Lc
24,47). Como anda a nossa consciência em relação ao pecado. No sentido bíblico,
pecar significa “fazer o que é mal aos olhos de Deus” (cf. Sl 51,6). A maioria
das pessoas não está preocupada em não pecar, mas em ser feliz, ainda que essa
felicidade faça o mal à própria vida delas, dos outros ou do planeta. Todo
pecado gera a morte naquele que peca (cf. Rm 5,12). Quem insiste em viver numa
situação de pecado, invalida a ressurreição de Cristo para si. Da mesma forma
como “Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras”
(Lc 24,35), necessitamos que Ele nos torne conscientes em relação a qual
atitude precisamos nos arrepender e nos converter, para que façamos a passagem
da morte provocada pelo pecado para a vida que só o Ressuscitado pode nos dar.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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