Missa da Epifania (manifestação) do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.
Na
vida de muitas pessoas tem acontecido o que alguns teólogos chamam de “eclipse
de Deus”. Devido a uma doença, uma perda, um grande sofrimento; devido ao vazio
existencial ou à perda de sentido de vida; devido ao excesso de materialismo, a
luz de Deus (a presença de Deus) tem se apagado dentro dessas pessoas. Elas já
não veem mais – nem muito menos conseguem sentir – a manifestação de Deus em
suas vidas. Além disso, não podemos deixar de mencionar que o “eclipse de Deus”
também é produzido pelo contratestemunho de cristãos que não vivem segundo o
Evangelho...
A
boa notícia é que, mesmo que muitos estejam experimentando em sua vida um certo
“eclipse de Deus”, no coração de toda pessoa, até mesmo daquela que pensa não
crer em Deus, existe uma busca por Deus, pela Verdade, uma busca por sentido: “É
tua face, Senhor, que eu procuro, não me escondas a tua face” (Sl 27,9). Todo
ser humano busca a Deus. Em alguns, essa busca é consciente; em outros,
inconsciente. Quando a pessoa não sabe interpretar o clamor por Deus em seu
coração, acaba dando respostas erradas, como as drogas, o consumismo, o
ativismo, as relações sexuais sem compromisso etc.
Muitos
hoje desistiram de buscar a Deus, porque constataram que o caminho da fé é
árduo, exige perseverança, pois é um caminho feito não apenas de respostas, mas
de muitas perguntas. Outro problema é o comodismo espiritual: pessoas que
dirigem os olhos para as Escrituras, mas não dirigem os pés para caminharem ao
encontro do Senhor; conhecem a verdade, mas não querem se aproximar dela. Contudo,
o encontro dos magos com Jesus nos mostra que a nossa busca por Deus nunca será
inútil: “Aquele que se aproxima de Deus deve crer que ele existe e que
recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). Nas noites escuras da nossa fé, Deus
sempre providenciará uma estrela para nos guiar, até que possamos estar diante
de seu Filho, reconhecendo-O como nosso Salvador, como Aquele que o nosso
coração sempre buscou.
A
luz da estrela que guiou os magos até Jesus nos provoca a vivermos de tal modo
que a nossa existência fale de Deus para as pessoas que estão à nossa volta,
lembrando que eu não posso conduzir alguém para Deus se eu mesmo não vivo em
Deus. Nossa maior tragédia enquanto cristãos, é quando nossas atitudes ocultam
Deus, afastando as pessoas da Igreja. Devemos “falar” de Deus para as pessoas
com a nossa vida, apesar das nossas fraquezas. Além disso, nossa tarefa como
luz, como manifestação de Deus para as pessoas do nosso tempo, sempre será
vivida em contraste com as trevas. De fato, a luz só é percebida no contraste
com a escuridão. Isso significa que o cristão deve diferenciar-se do mundo, no
sentido de não viver como uma pessoa “mundana”. Isso também significa que a luz
da nossa vivência cristã deve se manifestar justamente no meio da escuridão do
mundo. Quando os cristãos se distanciam do mundo e se resguardam dentro das
igrejas, estão fazendo o oposto do que a estrela fez, impedindo as pessoas de
serem provocadas e buscar Deus em seu caminho de vida.
Ainda
sobre isso, é importante considerar que muitas pessoas do nosso tempo reagem à
luz como se fossem morcegos. Habituadas à escuridão do individualismo, da
indiferença para com as injustiças à sua volta, essas pessoas não estão abertas
à luz, ao menos não num primeiro momento. Por isso, o cristão não pode
pretender ser um holofote que agride com sua luz os olhos das outras pessoas,
impondo-lhes a “verdade” da sua ortodoxia, da sua “rigidez” religiosa. A luz
deve dialogar com quem está habituado a viver na escuridão, convidando a pessoa
a fazer um caminho, a abrir-se a um processo de aproximação gradual da luz, da
verdade, até que ela compreenda que o benefício de viver na luz é muito mais saudável e libertador do que os ganhos secundários das trevas.
Assim como fizeram os magos diante
de Jesus, hoje nossos joelhos se dobram diante do Pai, agradecendo-O pelo
nascimento de seu Filho, manifestação do seu amor pelo ser humano e do seu
desejo de salvá-lo. Agradecemos cada estrela que o Pai faz brilhar no céu
escuro da humanidade, provocando cada ser humano a sair da escuridão em que se
encontra e a fazer um caminho de libertação, deixando-se iluminar, conduzir e
curar por Aquele que é o Caminho, a resposta à pergunta mais profunda que o ser
humano tem de felicidade, de paz e de sentido para a sua vida. Diante do ouro,
do incenso e da mirra que os magos ofereceram a Jesus, pedimos que o Pai nos
ensine a enxergar em cada ser humano o ouro da sua dignidade e da sua
unicidade, o incenso do sagrado que carrega em si como filho amado de Deus e a
mirra da sua fragilidade, espaço por meio do qual a força do Pai se manifesta
como amor que redime, como bálsamo que alivia a dor e como convite ao
amadurecimento e à superação dos seus erros.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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