sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

NOSSA VIDA DEVE "FALAR" DE DEUS COMO UMA ESTRELA "FALA" DE LUZ NO CÉU ESCURO DA NOITE

 Missa da Epifania (manifestação) do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.

 

Na vida de muitas pessoas tem acontecido o que alguns teólogos chamam de “eclipse de Deus”. Devido a uma doença, uma perda, um grande sofrimento; devido ao vazio existencial ou à perda de sentido de vida; devido ao excesso de materialismo, a luz de Deus (a presença de Deus) tem se apagado dentro dessas pessoas. Elas já não veem mais – nem muito menos conseguem sentir – a manifestação de Deus em suas vidas. Além disso, não podemos deixar de mencionar que o “eclipse de Deus” também é produzido pelo contratestemunho de cristãos que não vivem segundo o Evangelho...

A boa notícia é que, mesmo que muitos estejam experimentando em sua vida um certo “eclipse de Deus”, no coração de toda pessoa, até mesmo daquela que pensa não crer em Deus, existe uma busca por Deus, pela Verdade, uma busca por sentido: “É tua face, Senhor, que eu procuro, não me escondas a tua face” (Sl 27,9). Todo ser humano busca a Deus. Em alguns, essa busca é consciente; em outros, inconsciente. Quando a pessoa não sabe interpretar o clamor por Deus em seu coração, acaba dando respostas erradas, como as drogas, o consumismo, o ativismo, as relações sexuais sem compromisso etc.

Muitos hoje desistiram de buscar a Deus, porque constataram que o caminho da fé é árduo, exige perseverança, pois é um caminho feito não apenas de respostas, mas de muitas perguntas. Outro problema é o comodismo espiritual: pessoas que dirigem os olhos para as Escrituras, mas não dirigem os pés para caminharem ao encontro do Senhor; conhecem a verdade, mas não querem se aproximar dela. Contudo, o encontro dos magos com Jesus nos mostra que a nossa busca por Deus nunca será inútil: “Aquele que se aproxima de Deus deve crer que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). Nas noites escuras da nossa fé, Deus sempre providenciará uma estrela para nos guiar, até que possamos estar diante de seu Filho, reconhecendo-O como nosso Salvador, como Aquele que o nosso coração sempre buscou.

A luz da estrela que guiou os magos até Jesus nos provoca a vivermos de tal modo que a nossa existência fale de Deus para as pessoas que estão à nossa volta, lembrando que eu não posso conduzir alguém para Deus se eu mesmo não vivo em Deus. Nossa maior tragédia enquanto cristãos, é quando nossas atitudes ocultam Deus, afastando as pessoas da Igreja. Devemos “falar” de Deus para as pessoas com a nossa vida, apesar das nossas fraquezas. Além disso, nossa tarefa como luz, como manifestação de Deus para as pessoas do nosso tempo, sempre será vivida em contraste com as trevas. De fato, a luz só é percebida no contraste com a escuridão. Isso significa que o cristão deve diferenciar-se do mundo, no sentido de não viver como uma pessoa “mundana”. Isso também significa que a luz da nossa vivência cristã deve se manifestar justamente no meio da escuridão do mundo. Quando os cristãos se distanciam do mundo e se resguardam dentro das igrejas, estão fazendo o oposto do que a estrela fez, impedindo as pessoas de serem provocadas e buscar Deus em seu caminho de vida.

Ainda sobre isso, é importante considerar que muitas pessoas do nosso tempo reagem à luz como se fossem morcegos. Habituadas à escuridão do individualismo, da indiferença para com as injustiças à sua volta, essas pessoas não estão abertas à luz, ao menos não num primeiro momento. Por isso, o cristão não pode pretender ser um holofote que agride com sua luz os olhos das outras pessoas, impondo-lhes a “verdade” da sua ortodoxia, da sua “rigidez” religiosa. A luz deve dialogar com quem está habituado a viver na escuridão, convidando a pessoa a fazer um caminho, a abrir-se a um processo de aproximação gradual da luz, da verdade, até que ela compreenda que o benefício de viver na luz é muito mais saudável e libertador do que os ganhos secundários das trevas. 

            Assim como fizeram os magos diante de Jesus, hoje nossos joelhos se dobram diante do Pai, agradecendo-O pelo nascimento de seu Filho, manifestação do seu amor pelo ser humano e do seu desejo de salvá-lo. Agradecemos cada estrela que o Pai faz brilhar no céu escuro da humanidade, provocando cada ser humano a sair da escuridão em que se encontra e a fazer um caminho de libertação, deixando-se iluminar, conduzir e curar por Aquele que é o Caminho, a resposta à pergunta mais profunda que o ser humano tem de felicidade, de paz e de sentido para a sua vida. Diante do ouro, do incenso e da mirra que os magos ofereceram a Jesus, pedimos que o Pai nos ensine a enxergar em cada ser humano o ouro da sua dignidade e da sua unicidade, o incenso do sagrado que carrega em si como filho amado de Deus e a mirra da sua fragilidade, espaço por meio do qual a força do Pai se manifesta como amor que redime, como bálsamo que alivia a dor e como convite ao amadurecimento e à superação dos seus erros.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi  

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