Missa do 3º dom. comum. Palavra de Deus: Jonas 3,1-5.10; 1Coríntios 7,29-31; Marcos 1,14-20.
O
que você faria se recebesse um diagnóstico médico de que tem somente dois meses
de vida? Normalmente, quando as pessoas se dão conta de que têm pouco tempo de
vida, decidem fazer mudanças que nunca tiveram coragem de fazer: decidem
perdoar ou pedir perdão, decidem admitir verdades que nunca admitiram, decidem
se abrir para Deus, decidem falar o que nunca tiveram coragem de falar, decidem
romper com uma situação de pecado que sempre as acompanhou durante toda a
vida...
Ao
longo da nossa existência, vamos tomando consciência de que precisamos mudar,
precisamos nos corrigir, precisamos abandonar certos hábitos que fazem mal a
nós mesmos, à nossa família, ao mundo em que vivemos. No entanto, a maioria
protela a mudança, seja porque não quer perder os ganhos secundários que as
atitudes erradas lhe proporcionam, seja porque mudar dá trabalho; exige
firmeza, perseverança, renúncia, luta consigo mesmo.
Só
um choque de realidade é capaz de nos tirar da nossa fantasia; só a evidência
da destruição pode nos fazer mudar as atitudes que estão nos destruindo; só a
consciência da morte pode nos fazer repensar a maneira como vivemos nossa vida
até hoje; só a certeza de que o tempo que temos aqui é muito mais curto do que
imaginamos pode nos fazer rever nossos valores e nossas atitudes.
Nínive,
capital da poderosa Assíria, fazia e acontecia; achava-se imune a qualquer
calamidade, a qualquer risco de destruição. Mas ela foi derrubada da sua ilusão
de onipotência ao ouvir a pregação de Jonas: “Ainda quarenta dias, e Nínive
será destruída” (Jn 3,4). Jonas deixou os ninivitas conscientes de que, se não
mudassem suas atitudes, seriam destruídos pelo mal que causavam com o seu
estilo de vida egoísta e individualista. Os ninivitas aceitaram fazer um
doloroso processo de mudança e salvaram a si mesmos e à cidade.
Muitas
coisas ruins têm acontecido. No entanto, mesmo com o mundo “desabando” à nossa
volta, nós seguimos na correria da nossa vida com a ilusória pretensão de achar
que o mal que atinge os outros nunca nos atingirá. Esquecemos do alerta de
Jesus: “Se vocês não se converterem, morrerão todos do mesmo modo” (Lc 13,3). Todos
nós sabemos que algo precisa mudar no mundo, nas pessoas, nas empresas, nas
famílias, nas igrejas, mas quem de nós está disposto a mudar? Mudar dá trabalho
e exige esforço, constância, paciência, perseverança, e a nossa geração não tem
tolerância com processos. Os ninivitas tiveram um tempo de quarenta dias para
mudar suas atitudes, e souberam aproveitar esse tempo. Nós, muitas vezes, não
tomamos a decisão de mudar porque achamos que vamos ter tempo para isso depois,
e nos esquecemos de que “o tempo está abreviado” (1Cor 7,29).
O
que o apóstolo Paulo quer dizer com “tempo abreviado”? O mesmo que Jesus: “O
tempo já se completou
e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15). A história humana não está nas mãos do acaso, nem das pessoas que pensam
determinar os rumos da humanidade. Deus é o Senhor do tempo e da história.
Quando Jesus afirma que o Reino de Deus está próximo está se referindo à
intervenção final que Deus fará na história humana, intervenção que consiste em
exercer um julgamento, separando o justo do injusto e pondo fim ao mal.
Portanto, essa intervenção significa condenação para os injustos e salvação
definitiva para os justos.
“O
tempo está abreviado” (1Cor 7,29). Nós não temos o tempo que pensamos ter para
somente depois fazermos as mudanças que sabemos serem necessárias em nossa
vida. Daí o apelo de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15). Não
há ninguém que não precise mudar em algum aspecto da sua vida. Essa mudança
deve ser guiada pelo Evangelho. Ele é “força de Deus para a salvação de todo
aquele que crê” (Rm 1,16). Se “a figura deste mundo passa” (1Cor 7,31), o
Evangelho é Palavra eterna e também palavra de Vida eterna.
Três questões: 1) O que está
correndo o risco de ser destruído em minha vida por falta de uma decisão firme
da minha parta de mudar? 2) O que eu tenho feito do meu tempo? 3) Diante da certeza
de que Deus intervirá na história, como Ele me encontrará: como uma pessoa
justa a ser levada para o seu Reino ou como uma pessoa injusta a ser condenada
à destruição?
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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