Missa do 4º dom. comum. Deuteronômio 18,15-20; 1Coríntios 7,32-35; Marcos 1,21-28
Muitos duvidam da existência de
Deus, mas ninguém duvida da existência do mal. Enquanto Deus não é evidente, o
mal é; nós o vemos agir concretamente no mundo, através da guerra, da
violência, do ódio nas redes sociais, da desestruturação das famílias, da
desigualdade social, do egoísmo, do individualismo e da ganância sem limites, da
escravidão dos vícios, do suicídio etc.
Jesus chama o mal pelo nome: diabo, homicida
(assassino), mentiroso e pai da mentira (cf. Jo 8,44). Qualquer pessoa,
qualquer empresa, qualquer economia, qualquer política e qualquer religião que ataquem
a vida e promovam a morte estão a serviço do mal. Hoje, o mal chega com muito
mais facilidade até as pessoas por meio das redes sociais, as quais disseminam
mentiras, desinformação e discursos de ódio. Como se isso não bastasse, existe
um espaço oculto na Internet chamado “Deep web”, nome que significa “Internet
profunda”. Os internautas que navegam ali são criminosos, assassinos, traficantes
de drogas, de armas e de pessoas, pedófilos, participantes de seitas satânicas
e grupos que pregam atividades imorais e violência explícita contra os seres
humanos.
O fato é que existe hoje cada vez
mais um fascínio doentio pelo mal. Alguns chegam a afirmar que “Deus demora; o
mal responde rápido”. Muitas pessoas aderem ao mal porque querem respostas
rápidas para os seus problemas ou para os seus desejos, e a forma preferida com
que o mal seduz as pessoas é a promessa do enriquecimento. Não é à toa que a
Escritura diz: “A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, por cujo desejo
desenfreado alguns se afastaram da fé, e se afligem a si mesmos com muitos
tormentos” (1Tm 6,10). O desejo desenfreado pelo enriquecimento destrói não só
casamentos, mas distancia os pais dos filhos e faz com que alguns deles se
percam.
A forma como o mal mostra a sua face
escancarada para nós, no mundo de hoje, foi prevista por Jesus: “A maldade
crescerá a tal ponto que o amor se esfriará no coração de muitas pessoas. Mas
aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24,12). Apesar da sua
força destrutiva – lembremos que ele é homicida! –, o mal não entra em nossa vida
sem a nossa permissão. Ele precisa do nosso consentimento para agir, para
adentrar em nós e começar o seu processo de sedução, mentira, enganação e
ilusão. Ele só precisa que lhe abramos a porta e o deixemos entrar; o resto ele
faz sozinho.
Existe uma forma de detectarmos a
presença do mal em nós: o contato com a palavra de Jesus. Foi ouvindo essa
palavra que “um homem possuído por um espírito mau” (Mc 1,23), reagiu ao que Jesus
estava dizendo e gritou: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos
destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus” (Mc 1,24). O espírito mau usa
o plural – “nos destruir” – porque ele representa o mundo demoníaco, com
Satanás e seus anjos. De fato, Jesus veio destruir o mal; ele veio nos tirar do
domínio de Satanás e nos devolver aos cuidados de Deus. Mas é preciso que cada
pessoa decida romper com o mal; decida fechar a porta que ela mesma abriu para
o mal entrar em sua vida. Numa palavra, é preciso que a pessoa renuncie aos
ganhos secundários que o mal lhe oferece, enquanto destrói a sua alma.
Quando Jesus ordenou: “Cala-te e sai
dele!”, “o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e
saiu” (Mc 1,25-26). Depois que o mal se instala em nossa vida, ele resiste a sair.
É a chamada “crise de abstinência”. Nós precisamos suportar o vazio deixado
pela perda das falsas compensações que o mal nos dava; precisamos lutar com
firmeza e perseverança na direção de Deus, lembrando dessas palavras: “Resistam
ao diabo e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus e ele se aproximará de
vocês” (Tg 4,7-8).
Uma última palavra. O mal raramente se
apresenta sob a sua real aparência; ele sempre se propõe a nós como algo bom, vantajoso,
prazeroso, confortador, compensador. Quanto menos tolerância temos à
frustração, ao sofrimento, à espera pela intervenção de Deus em nossa vida, mais
caímos nas armadilhas do maligno. E para aqueles que são adeptos da teoria: “Deus
demora; o mal responde rápido”, lembrem-se de que Deus dá gratuitamente,
enquanto o mal cobra, e cobra caro, cada coisa que nos dá. Seu preço é um só: a
corrupção da nossa alma, a perda da nossa salvação.
Pe. Paulo Cezar Mazzi