quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

O MAL PRECISA DA NOSSA PERMISSÃO PARA AGIR EM NÓS

 Missa do 4º dom. comum. Deuteronômio 18,15-20; 1Coríntios 7,32-35; Marcos 1,21-28

 

            Muitos duvidam da existência de Deus, mas ninguém duvida da existência do mal. Enquanto Deus não é evidente, o mal é; nós o vemos agir concretamente no mundo, através da guerra, da violência, do ódio nas redes sociais, da desestruturação das famílias, da desigualdade social, do egoísmo, do individualismo e da ganância sem limites, da escravidão dos vícios, do suicídio etc.

            Jesus chama o mal pelo nome: diabo, homicida (assassino), mentiroso e pai da mentira (cf. Jo 8,44). Qualquer pessoa, qualquer empresa, qualquer economia, qualquer política e qualquer religião que ataquem a vida e promovam a morte estão a serviço do mal. Hoje, o mal chega com muito mais facilidade até as pessoas por meio das redes sociais, as quais disseminam mentiras, desinformação e discursos de ódio. Como se isso não bastasse, existe um espaço oculto na Internet chamado “Deep web”, nome que significa “Internet profunda”. Os internautas que navegam ali são criminosos, assassinos, traficantes de drogas, de armas e de pessoas, pedófilos, participantes de seitas satânicas e grupos que pregam atividades imorais e violência explícita contra os seres humanos.

            O fato é que existe hoje cada vez mais um fascínio doentio pelo mal. Alguns chegam a afirmar que “Deus demora; o mal responde rápido”. Muitas pessoas aderem ao mal porque querem respostas rápidas para os seus problemas ou para os seus desejos, e a forma preferida com que o mal seduz as pessoas é a promessa do enriquecimento. Não é à toa que a Escritura diz: “A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, por cujo desejo desenfreado alguns se afastaram da fé, e se afligem a si mesmos com muitos tormentos” (1Tm 6,10). O desejo desenfreado pelo enriquecimento destrói não só casamentos, mas distancia os pais dos filhos e faz com que alguns deles se percam.

            A forma como o mal mostra a sua face escancarada para nós, no mundo de hoje, foi prevista por Jesus: “A maldade crescerá a tal ponto que o amor se esfriará no coração de muitas pessoas. Mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24,12). Apesar da sua força destrutiva – lembremos que ele é homicida! –, o mal não entra em nossa vida sem a nossa permissão. Ele precisa do nosso consentimento para agir, para adentrar em nós e começar o seu processo de sedução, mentira, enganação e ilusão. Ele só precisa que lhe abramos a porta e o deixemos entrar; o resto ele faz sozinho.

            Existe uma forma de detectarmos a presença do mal em nós: o contato com a palavra de Jesus. Foi ouvindo essa palavra que “um homem possuído por um espírito mau” (Mc 1,23), reagiu ao que Jesus estava dizendo e gritou: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus” (Mc 1,24). O espírito mau usa o plural – “nos destruir” – porque ele representa o mundo demoníaco, com Satanás e seus anjos. De fato, Jesus veio destruir o mal; ele veio nos tirar do domínio de Satanás e nos devolver aos cuidados de Deus. Mas é preciso que cada pessoa decida romper com o mal; decida fechar a porta que ela mesma abriu para o mal entrar em sua vida. Numa palavra, é preciso que a pessoa renuncie aos ganhos secundários que o mal lhe oferece, enquanto destrói a sua alma.  

            Quando Jesus ordenou: “Cala-te e sai dele!”, “o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu” (Mc 1,25-26). Depois que o mal se instala em nossa vida, ele resiste a sair. É a chamada “crise de abstinência”. Nós precisamos suportar o vazio deixado pela perda das falsas compensações que o mal nos dava; precisamos lutar com firmeza e perseverança na direção de Deus, lembrando dessas palavras: “Resistam ao diabo e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus e ele se aproximará de vocês” (Tg 4,7-8).

            Uma última palavra. O mal raramente se apresenta sob a sua real aparência; ele sempre se propõe a nós como algo bom, vantajoso, prazeroso, confortador, compensador. Quanto menos tolerância temos à frustração, ao sofrimento, à espera pela intervenção de Deus em nossa vida, mais caímos nas armadilhas do maligno. E para aqueles que são adeptos da teoria: “Deus demora; o mal responde rápido”, lembrem-se de que Deus dá gratuitamente, enquanto o mal cobra, e cobra caro, cada coisa que nos dá. Seu preço é um só: a corrupção da nossa alma, a perda da nossa salvação.

 

            Pe. Paulo Cezar Mazzi   

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

PARE DE RETARDAR SUA MUDANÇA!

 Missa do 3º dom. comum. Palavra de Deus: Jonas 3,1-5.10; 1Coríntios 7,29-31; Marcos 1,14-20.

 

            O que você faria se recebesse um diagnóstico médico de que tem somente dois meses de vida? Normalmente, quando as pessoas se dão conta de que têm pouco tempo de vida, decidem fazer mudanças que nunca tiveram coragem de fazer: decidem perdoar ou pedir perdão, decidem admitir verdades que nunca admitiram, decidem se abrir para Deus, decidem falar o que nunca tiveram coragem de falar, decidem romper com uma situação de pecado que sempre as acompanhou durante toda a vida...

            Ao longo da nossa existência, vamos tomando consciência de que precisamos mudar, precisamos nos corrigir, precisamos abandonar certos hábitos que fazem mal a nós mesmos, à nossa família, ao mundo em que vivemos. No entanto, a maioria protela a mudança, seja porque não quer perder os ganhos secundários que as atitudes erradas lhe proporcionam, seja porque mudar dá trabalho; exige firmeza, perseverança, renúncia, luta consigo mesmo.

            Só um choque de realidade é capaz de nos tirar da nossa fantasia; só a evidência da destruição pode nos fazer mudar as atitudes que estão nos destruindo; só a consciência da morte pode nos fazer repensar a maneira como vivemos nossa vida até hoje; só a certeza de que o tempo que temos aqui é muito mais curto do que imaginamos pode nos fazer rever nossos valores e nossas atitudes.

            Nínive, capital da poderosa Assíria, fazia e acontecia; achava-se imune a qualquer calamidade, a qualquer risco de destruição. Mas ela foi derrubada da sua ilusão de onipotência ao ouvir a pregação de Jonas: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída” (Jn 3,4). Jonas deixou os ninivitas conscientes de que, se não mudassem suas atitudes, seriam destruídos pelo mal que causavam com o seu estilo de vida egoísta e individualista. Os ninivitas aceitaram fazer um doloroso processo de mudança e salvaram a si mesmos e à cidade.  

            Muitas coisas ruins têm acontecido. No entanto, mesmo com o mundo “desabando” à nossa volta, nós seguimos na correria da nossa vida com a ilusória pretensão de achar que o mal que atinge os outros nunca nos atingirá. Esquecemos do alerta de Jesus: “Se vocês não se converterem, morrerão todos do mesmo modo” (Lc 13,3). Todos nós sabemos que algo precisa mudar no mundo, nas pessoas, nas empresas, nas famílias, nas igrejas, mas quem de nós está disposto a mudar? Mudar dá trabalho e exige esforço, constância, paciência, perseverança, e a nossa geração não tem tolerância com processos. Os ninivitas tiveram um tempo de quarenta dias para mudar suas atitudes, e souberam aproveitar esse tempo. Nós, muitas vezes, não tomamos a decisão de mudar porque achamos que vamos ter tempo para isso depois, e nos esquecemos de que “o tempo está abreviado” (1Cor 7,29).

            O que o apóstolo Paulo quer dizer com “tempo abreviado”? O mesmo que Jesus: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15). A história humana não está nas mãos do acaso, nem das pessoas que pensam determinar os rumos da humanidade. Deus é o Senhor do tempo e da história. Quando Jesus afirma que o Reino de Deus está próximo está se referindo à intervenção final que Deus fará na história humana, intervenção que consiste em exercer um julgamento, separando o justo do injusto e pondo fim ao mal. Portanto, essa intervenção significa condenação para os injustos e salvação definitiva para os justos.

            “O tempo está abreviado” (1Cor 7,29). Nós não temos o tempo que pensamos ter para somente depois fazermos as mudanças que sabemos serem necessárias em nossa vida. Daí o apelo de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15). Não há ninguém que não precise mudar em algum aspecto da sua vida. Essa mudança deve ser guiada pelo Evangelho. Ele é “força de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1,16). Se “a figura deste mundo passa” (1Cor 7,31), o Evangelho é Palavra eterna e também palavra de Vida eterna.

            Três questões: 1) O que está correndo o risco de ser destruído em minha vida por falta de uma decisão firme da minha parta de mudar? 2) O que eu tenho feito do meu tempo? 3) Diante da certeza de que Deus intervirá na história, como Ele me encontrará: como uma pessoa justa a ser levada para o seu Reino ou como uma pessoa injusta a ser condenada à destruição?

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi



quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

TORNE-SE QUEM VOCÊ FOI CHAMADO(A) A SER!

 Missa do 2º dom. comum. Palavra de Deus: 1Samuel 3,3b-10.19; 1Coríntios 6,13c-15a.17-20; João 1,35-42.

 

            Os textos bíblicos que hoje ouvimos nos colocam diante da vocação do profeta Samuel e dos três primeiros discípulos de Jesus: André, João e Pedro. A vocação desses homens nos lembra que a nossa existência é fruto de uma escolha, de um chamado da parte de Deus: “Desde o ventre materno o Senhor me chamou, desde o ventre de minha mãe pronunciou o meu nome” (Is 49,1). A razão de ser da nossa existência não é uma escolha humana, mas divina; não é fruto do acaso, mas de uma vontade: Deus nos desejou, nos quis, nos chamou à vida em vista de uma tarefa, de uma missão, de uma vocação, e devemos estar cientes de que “a nossa vocação nunca é em função de nós mesmos. Deus não nos chama para nos promover ou nos privilegiar, mas para nos enviar para junto de situações que precisam ser mudadas” (José Lisboa M. Oliveira).

            “Samuel, Samuel!” (1Sm 3,4). Samuel era adolescente quando foi chamado por Deus e foi chamado num contexto de degradação da religião: “Os filhos de Eli (sacerdote) eram vagabundos” (1Sm 2,12) e “se deitavam com as mulheres que permaneciam à entrada da Tenda da Reunião” (1Sm 2,23). Séculos mais tarde, um outro jovem ouviria o Crucificado lhe chamar para uma difícil missão: “Francisco, reconstrói minha Igreja, que está em ruínas!”. Hoje Deus chama você para reconstruir a unidade da Igreja, cujo Pontífice (ponte e ponto de unidade) é sistematicamente agredido e desacreditado nas redes sociais por grupos “católicos” conservadores; você é chamado a reconstruir famílias, a fortalecer escolas, a desenvolver a boa Política e a justa Justiça; a defender o meio ambiente; a proteger crianças abusadas dentro de casa; enfim, a revitalizar sua Paróquia, envelhecida e necessitava de “sangue novo nas suas veias” (Pe. Zezinho).

            Samuel teve dificuldade em entender que era o Senhor Deus quem o chamava, e não o sacerdote Eli (cf. 1Sm 3,5.6). Deus não fala diretamente aos nossos ouvidos, mas através da realidade na qual estamos inseridos. Ele nos fala, sobretudo, através da dor de pessoas e de situações que precisam ser mudadas! Mas, como ouvir o chamado do Senhor quando estamos voltados unicamente para nós mesmos, ignorando a realidade à nossa volta, buscando apenas os nossos interesses financeiros ou afetivos, vivendo uma espiritualidade que nos mantém distantes do mundo, enquanto Deus “grita” a nós do meio desse mesmo mundo: “Essas pessoas precisam ser salvas!”?

            Samuel foi orientado a responder ao chamado de Deus com essas palavras: “Senhor, fala, que teu servo escuta!” (1Sm 3,9). Qual tem sido a nossa resposta ao chamado diário que Deus nos faz, por meio da realidade na qual estamos inseridos? Estamos tendo coragem de ouvir o Senhor, ou temos mantido nossos ouvidos e nossa consciência ocupados, cheios de barulho, atordoados por inúmeras desinformações, distanciados da realidade pela indústria da distração, tudo para não ouvirmos a voz de Deus no mais profundo de nós mesmos?

            A dois discípulos de João Batista que começaram a segui-lo, Jesus perguntou: “O que vocês estão procurando?” (Jo 1,38). O que você está procurando quando passa horas jogando, apostando ou vendo postagens nas redes sociais? O que você está procurando quando maratona séries, assiste a filmes, vê pornografia na Internet ou assiste aos vídeos do seu influencer preferido? O que você está procurando quando ingere bebida alcoólica e/ou drogas; quando faz uma nova tatuagem, quando se sacrifica para ter um corpo “sarado”? O que você está buscando quando faz sua oração em casa, lê a Bíblia, ouve músicas católicas ou vai à missa? O que você está buscando quando faz o que faz no seu dia a dia? Você está buscando ser fiel à vocação, ao chamado que recebeu de Deus, ou a se distanciar o quanto possível disso?

                “O que vocês estão procurando?” (Jo 1,38). Quando temos a coragem de parar a correria do dia a dia e a nos colocar diante dessa pergunta de Jesus, a nossa vida tem uma chance de recuperar o seu sentido e nós podemos sair das mãos (expectativas ou cobranças) dos outros e tomarmos as rédeas da nossa existência, orientando-a para aquilo que fomos chamados a fazer; mais do que isso, para aquilo que fomos chamados a ser. “Torne-se o que você é”, disse Píndaro, filósofo grego do séc. V aC. Essa verdade pode ser traduzida também em: “Torne-se o que você foi chamado a ser”. Somente quando sintonizamos o nosso coração com o coração de Deus; somente quando respondemos positivamente ao chamado que recebemos; somente quando somos fiéis à vocação que recebemos é que nos realizamos como pessoas.

            Uma última palavra: toda e qualquer vocação será vivida a partir da corporeidade da pessoa. Cinco vezes o apóstolo Paulo usou a palavra “corpo” no breve texto que ouvimos hoje. Dois extremos precisam ser evitados, quando consideramos o nosso corpo: o primeiro vem das pregações moralistas, para as quais tudo o que se refere ao corpo é pecaminoso e demoníaco. O outro extremo é a constante erotização do corpo, produzida pela indústria de consumo. Muitos de nós precisam reconciliar-se com o próprio corpo – aceitar-se como se é. Muitos precisam ouvir o próprio corpo – ele é uma caixa de ressonância da nossa alma (vida emocional). Muitos precisam rever sua espiritualidade, pois o Deus em quem nós cremos “se fez carne” (Jo 1,14): toda espiritualidade que nega ou despreza o corpo é doentia. Da mesma forma como descobrimos a nossa vocação em contato com a realidade na qual estamos inseridos, nós a vivemos a partir da nossa carne, do nosso corpo, o qual deve se tornar “carne” de Deus, toque de Deus, presença concreta de Deus, “afeto” de Deus para as pessoas que fomos chamados a servir.

             

Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

NOSSA VIDA DEVE "FALAR" DE DEUS COMO UMA ESTRELA "FALA" DE LUZ NO CÉU ESCURO DA NOITE

 Missa da Epifania (manifestação) do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.

 

Na vida de muitas pessoas tem acontecido o que alguns teólogos chamam de “eclipse de Deus”. Devido a uma doença, uma perda, um grande sofrimento; devido ao vazio existencial ou à perda de sentido de vida; devido ao excesso de materialismo, a luz de Deus (a presença de Deus) tem se apagado dentro dessas pessoas. Elas já não veem mais – nem muito menos conseguem sentir – a manifestação de Deus em suas vidas. Além disso, não podemos deixar de mencionar que o “eclipse de Deus” também é produzido pelo contratestemunho de cristãos que não vivem segundo o Evangelho...

A boa notícia é que, mesmo que muitos estejam experimentando em sua vida um certo “eclipse de Deus”, no coração de toda pessoa, até mesmo daquela que pensa não crer em Deus, existe uma busca por Deus, pela Verdade, uma busca por sentido: “É tua face, Senhor, que eu procuro, não me escondas a tua face” (Sl 27,9). Todo ser humano busca a Deus. Em alguns, essa busca é consciente; em outros, inconsciente. Quando a pessoa não sabe interpretar o clamor por Deus em seu coração, acaba dando respostas erradas, como as drogas, o consumismo, o ativismo, as relações sexuais sem compromisso etc.

Muitos hoje desistiram de buscar a Deus, porque constataram que o caminho da fé é árduo, exige perseverança, pois é um caminho feito não apenas de respostas, mas de muitas perguntas. Outro problema é o comodismo espiritual: pessoas que dirigem os olhos para as Escrituras, mas não dirigem os pés para caminharem ao encontro do Senhor; conhecem a verdade, mas não querem se aproximar dela. Contudo, o encontro dos magos com Jesus nos mostra que a nossa busca por Deus nunca será inútil: “Aquele que se aproxima de Deus deve crer que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). Nas noites escuras da nossa fé, Deus sempre providenciará uma estrela para nos guiar, até que possamos estar diante de seu Filho, reconhecendo-O como nosso Salvador, como Aquele que o nosso coração sempre buscou.

A luz da estrela que guiou os magos até Jesus nos provoca a vivermos de tal modo que a nossa existência fale de Deus para as pessoas que estão à nossa volta, lembrando que eu não posso conduzir alguém para Deus se eu mesmo não vivo em Deus. Nossa maior tragédia enquanto cristãos, é quando nossas atitudes ocultam Deus, afastando as pessoas da Igreja. Devemos “falar” de Deus para as pessoas com a nossa vida, apesar das nossas fraquezas. Além disso, nossa tarefa como luz, como manifestação de Deus para as pessoas do nosso tempo, sempre será vivida em contraste com as trevas. De fato, a luz só é percebida no contraste com a escuridão. Isso significa que o cristão deve diferenciar-se do mundo, no sentido de não viver como uma pessoa “mundana”. Isso também significa que a luz da nossa vivência cristã deve se manifestar justamente no meio da escuridão do mundo. Quando os cristãos se distanciam do mundo e se resguardam dentro das igrejas, estão fazendo o oposto do que a estrela fez, impedindo as pessoas de serem provocadas e buscar Deus em seu caminho de vida.

Ainda sobre isso, é importante considerar que muitas pessoas do nosso tempo reagem à luz como se fossem morcegos. Habituadas à escuridão do individualismo, da indiferença para com as injustiças à sua volta, essas pessoas não estão abertas à luz, ao menos não num primeiro momento. Por isso, o cristão não pode pretender ser um holofote que agride com sua luz os olhos das outras pessoas, impondo-lhes a “verdade” da sua ortodoxia, da sua “rigidez” religiosa. A luz deve dialogar com quem está habituado a viver na escuridão, convidando a pessoa a fazer um caminho, a abrir-se a um processo de aproximação gradual da luz, da verdade, até que ela compreenda que o benefício de viver na luz é muito mais saudável e libertador do que os ganhos secundários das trevas. 

            Assim como fizeram os magos diante de Jesus, hoje nossos joelhos se dobram diante do Pai, agradecendo-O pelo nascimento de seu Filho, manifestação do seu amor pelo ser humano e do seu desejo de salvá-lo. Agradecemos cada estrela que o Pai faz brilhar no céu escuro da humanidade, provocando cada ser humano a sair da escuridão em que se encontra e a fazer um caminho de libertação, deixando-se iluminar, conduzir e curar por Aquele que é o Caminho, a resposta à pergunta mais profunda que o ser humano tem de felicidade, de paz e de sentido para a sua vida. Diante do ouro, do incenso e da mirra que os magos ofereceram a Jesus, pedimos que o Pai nos ensine a enxergar em cada ser humano o ouro da sua dignidade e da sua unicidade, o incenso do sagrado que carrega em si como filho amado de Deus e a mirra da sua fragilidade, espaço por meio do qual a força do Pai se manifesta como amor que redime, como bálsamo que alivia a dor e como convite ao amadurecimento e à superação dos seus erros.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi