quinta-feira, 17 de agosto de 2023

ABRAÇAR O COMBATE QUE NOS É PROPOSTO

 Missa da Assunção de Nossa Senhora. Palavra de Deus: Apocalipse 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; 1Coríntios 15,20-27a; Lucas 1,39-56.

 

            Existem dois movimentos básicos: subir e descer. De segunda a sexta, as notícias nos falam das Bolsas de Valores do mundo: “Tal Bolsa subiu”, “Tal Bolsa caiu”; “As ações de determinada empresa subiram”, “As ações de determinada empresa caíram”. No campo pessoal, nós gostaríamos sempre de “subir” e nunca “cair”, mas a vida de todo ser humano tem momentos de subida e de descida, de caída. Por isso, é importante nos lembrarmos do Salmo 139,7-8: “Para onde ir, longo do teu espírito? Para onde fugir, longe da tua presença? Se subo aos céus, tu lá estás; se desço ao abismo, ali também te encontro”. Se a nossa vida, sobretudo no campo emocional, se alterna entre subida e descida, precisamos ter a certeza de que, quer nos sintamos fortes e vencedores (subida), quer nos sintamos fracos e derrotados (descida), Deus está conosco em cada momento.

            Embora existam propagandas enganadoras a respeito de Deus como Aquele que quer você sempre subindo na vida, fazendo sucesso e prosperando, a Sagrada Escritura nos fala de Deus como Aquele que tanto pode nos levantar, como nos derrubar, se esse derrubar for necessário para nos corrigir, em vista da nossa salvação: “É o Senhor quem nos humilha e nos exalta” (1Sm 2,7); “Eu, o Senhor, abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa” (Ez 17,24). Enfim, como Nossa Senhora acabou de proclamar: “O Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor... Ele mostrou a força de seu braço... Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes” (Lc 1,49.51.52).

            Manter-nos fiéis a Deus enquanto estamos surfando em cima da onda é muito fácil. O problema é quando somos derrubados pelo próprio Deus do trono da nossa arrogância, porque a nossa subida se deu por meio de métodos sujos, desleais e injustos. Sempre que a nossa subida nos tornar desumanos, presunçosos, nos achando melhores do que os outros, distantes dos que sofrem, colocando nossa segurança em nós mesmos, a vida irá nos derrubar: “Quanto mais alto, maior é a queda” (Harvey Specter). Ser derrubado do trono da nossa presunção é o único remédio amargo que pode nos salvar, porque nos devolve ao Deus que se fez humano, simples e humilde em seu Filho Jesus.

            Ao celebrarmos hoje a elevação de Maria em corpo e alma ao céu, nos recordamos de que não podemos querer subir na vida a qualquer preço, enquanto perdemos a nossa alma, excluindo-nos do céu. Além disso, só é elevado ao céu aquele que, a exemplo de Nossa Senhora, soube descer às profundezas de si mesmo (humildade) e às profundezas sociais, onde se encontravam pessoas que foram sistematicamente derrubadas na vida pelo mundo injusto e desigual em que vivemos.

            A imagem da “mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1) é a imagem nossa enquanto Igreja, destinados à ressurreição (vestidos de sol), à vida eterna (ter lua debaixo dos pés significa viver acima do tempo terreno), chamados a receber a coroa da glória, conforme a Palavra: “Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual você foi chamado” (1Tm 6,12); “Mostre-se fiel até à morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (Ap 2,10). Exatamente como a mulher do Apocalipse, nós, cristãos, temos um combate a combater: gerar vida e esperança em um mundo cada vez mais sujeito ao Dragão do mal, que dissemina violência e morte.

            Mas, perguntarão alguns: Que chance nós temos de vencer o Dragão do mal? A resposta está no próprio Apocalipse: a mulher “deu à luz um filho homem”. Antes que o Dragão o atacasse, “o Filho foi levado para junto de Deus e do seu trono” enquanto que “a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar”. Portanto mulher e filho salvos por Deus! Nós, Igreja, temos a missão de gerar fé em um mundo que deixou de crer não só no poder de Deus perante o mal, mas de crer em valores como bondade, justiça, solidariedade, cuidado com o bem comum etc. Também é missão nossa, enquanto Igreja, gerarmos esperança no coração das pessoas que, cada vez mais facilidade, deixam de esperar, contagiando-se mutuamente com uma doença chamada desesperança, o que também significa falta de sentido para a vida. Se nos é proposto um combate, precisamos abraçá-lo por um único motivo: “Se nós trabalhamos e lutamos é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, sobretudo dos que têm fé” (1Tm 4,10).  

O corpo que trabalha e luta na terra em favor da justiça, vida e da esperança está destinado à ressurreição (cf. 1Cor 15,43-44). Assim aconteceu com Nossa Senhora, assim acontecerá conosco, se perseverarmos até o fim na prática do bem. Confiemos o nosso combate diário à intercessão daquela que fez a experiência da força do braço de Deus em sua vida e na vida do seu povo: “À Vossa Proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita. Amém”.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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