Missa da Assunção de Nossa Senhora. Palavra de Deus: Apocalipse 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; 1Coríntios 15,20-27a; Lucas 1,39-56.
Existem
dois movimentos básicos: subir e descer. De segunda a sexta, as notícias nos
falam das Bolsas de Valores do mundo: “Tal Bolsa subiu”, “Tal Bolsa caiu”; “As
ações de determinada empresa subiram”, “As ações de determinada empresa caíram”.
No campo pessoal, nós gostaríamos sempre de “subir” e nunca “cair”, mas a vida
de todo ser humano tem momentos de subida e de descida, de caída. Por isso, é
importante nos lembrarmos do Salmo 139,7-8: “Para onde ir, longo do teu
espírito? Para onde fugir, longe da tua presença? Se subo aos céus, tu lá
estás; se desço ao abismo, ali também te encontro”. Se a nossa vida, sobretudo
no campo emocional, se alterna entre subida e descida, precisamos ter a certeza
de que, quer nos sintamos fortes e vencedores (subida), quer nos sintamos fracos
e derrotados (descida), Deus está conosco em cada momento.
Embora
existam propagandas enganadoras a respeito de Deus como Aquele que quer você sempre
subindo na vida, fazendo sucesso e prosperando, a Sagrada Escritura nos fala de
Deus como Aquele que tanto pode nos levantar, como nos derrubar, se esse
derrubar for necessário para nos corrigir, em vista da nossa salvação: “É o
Senhor quem nos humilha e nos exalta” (1Sm 2,7); “Eu, o Senhor, abaixo a árvore
alta e elevo a árvore baixa” (Ez 17,24). Enfim, como Nossa Senhora acabou de
proclamar: “O Todo-poderoso fez grandes coisas em meu
favor... Ele mostrou a força de seu braço... Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes” (Lc 1,49.51.52).
Manter-nos
fiéis a Deus enquanto estamos surfando em cima da onda é muito fácil. O
problema é quando somos derrubados pelo próprio Deus do trono da nossa
arrogância, porque a nossa subida se deu por meio de métodos sujos, desleais e
injustos. Sempre que a nossa subida nos tornar desumanos, presunçosos, nos
achando melhores do que os outros, distantes dos que sofrem, colocando nossa
segurança em nós mesmos, a vida irá nos derrubar: “Quanto mais alto, maior é a
queda” (Harvey Specter). Ser derrubado do trono da nossa presunção é o único
remédio amargo que pode nos salvar, porque nos devolve ao Deus que se fez
humano, simples e humilde em seu Filho Jesus.
Ao
celebrarmos hoje a elevação de Maria em corpo e alma ao céu, nos recordamos de
que não podemos querer subir na vida a qualquer preço, enquanto perdemos a
nossa alma, excluindo-nos do céu. Além disso, só é elevado ao céu aquele que, a
exemplo de Nossa Senhora, soube descer às profundezas de si mesmo (humildade) e
às profundezas sociais, onde se encontravam pessoas que foram sistematicamente
derrubadas na vida pelo mundo injusto e desigual em que vivemos.
A
imagem da “mulher vestida de sol, tendo a lua
debaixo dos pés
e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap
12,1) é a imagem nossa enquanto Igreja, destinados à ressurreição (vestidos de
sol), à vida eterna (ter lua debaixo dos pés significa viver acima do tempo
terreno), chamados a receber a coroa da glória, conforme a Palavra: “Combate o bom
combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual você foi chamado” (1Tm
6,12); “Mostre-se fiel até à morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (Ap 2,10).
Exatamente como a mulher do Apocalipse, nós, cristãos, temos um combate a
combater: gerar vida e esperança em um mundo cada vez mais sujeito ao Dragão do
mal, que dissemina violência e morte.
Mas,
perguntarão alguns: Que chance nós temos de vencer o Dragão do mal? A resposta
está no próprio Apocalipse: a mulher “deu à luz um filho homem”. Antes que o
Dragão o atacasse, “o Filho foi levado para junto de Deus e do seu trono”
enquanto que “a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um
lugar”. Portanto mulher e filho salvos por Deus! Nós, Igreja, temos a missão de
gerar fé em um mundo que deixou de crer não só no poder de Deus perante o mal,
mas de crer em valores como bondade, justiça, solidariedade, cuidado com o bem
comum etc. Também é missão nossa, enquanto Igreja, gerarmos esperança no
coração das pessoas que, cada vez mais facilidade, deixam de esperar, contagiando-se
mutuamente com uma doença chamada desesperança, o que também significa falta de
sentido para a vida. Se nos é proposto um combate, precisamos abraçá-lo por um
único motivo: “Se nós trabalhamos e lutamos é porque pomos a nossa esperança no
Deus vivo, Salvador de todos os homens, sobretudo dos que têm fé” (1Tm 4,10).
O
corpo que trabalha e luta na terra em favor da justiça, vida e da esperança está
destinado à ressurreição (cf. 1Cor 15,43-44). Assim aconteceu com Nossa Senhora,
assim acontecerá conosco, se perseverarmos até o fim na prática do bem. Confiemos
o nosso combate diário à intercessão daquela que fez a experiência da força do
braço de Deus em sua vida e na vida do seu povo: “À Vossa Proteção recorremos,
Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas
livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita. Amém”.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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