Missa do 5º dom. Quaresma. Palavra de Deus: Ezequiel 37,12-14; Romanos 8,8-11; João 11,1-6.11.14-15.17.19-27.33-45
Durante a experiência do exílio na
Babilônia (séc. VI aC), o povo de Israel se sentia sepultado, morto, enterrado
vivo. No entanto, junto desse povo estava o profeta Ezequiel; primeiro, para torná-lo
consciente da sua responsabilidade no exílio (sua infidelidade); depois, para
mantê-lo firme na fé e na esperança de que o exílio não duraria para sempre.
Daí a promessa de Deus a esse povo: “Eu vou abrir as sepulturas de vocês... Vou
fazê-los sair de dentro delas... Vou colocar o meu espírito em vocês, para que
voltem a viver” (citação livre de Ez 37,12-14). Dentro de qual sepultura você
se encontra nesse momento? O quê você sepultou, enterrou, por julgar que isso
já está morto em sua vida? Qual é a sua responsabilidade diante daquilo que
está morrendo ou morreu dentro de você?
Embora a promessa de Deus a Israel
tenha se cumprido no ano 538 aC, quando Ciro, o rei Persa, derrotou a Babilônia
e fez o povo de Israel voltar à sua terra, é em Jesus Cristo que temos a
verdadeira ressurreição, operada pelo poder da sua Palavra, que faz passar da
morte para a vida todo aquele que nela crê (cf. Jo 5,24-25). A ele chegou um pedido
urgente de Marta e de Maria, a respeito da gravidade da doença de Lázaro, irmão
delas: “Senhor, aquele que amas está doente” (Jo 11,3). Ao
ressaltar o
amor e a amizade que Jesus tinha para com essa família, formada por três irmãos,
o Evangelho está nos dizendo duas coisas: primeiro, o amor de Jesus por nós não
significa que seremos blindados contra a dor e o sofrimento em nossa vida;
segundo, quando a dor nos visita, não significa que Jesus ou o Pai não nos amem.
“Senhor, aquele que amas está doente” (Jo 11,3). A respeito de quantas pessoas hoje nós dirigimos essa mesma oração a Jesus? A quantidade de pessoas enfermas à nossa volta cresce sempre mais. Como afirmou o Papa Francisco, nós não podemos pretender ser saudáveis vivendo num mundo doente como o nosso. Justamente o mundo que, a partir da ciência e da tecnologia, nos promete uma vida sem dor e sem morte, também produz cada vez mais sofrimento e morte. Muitas pessoas estão enfermas física, psíquica ou espiritualmente. Nossa intercessão por elas é muito importante.
“Quando ouviu que este (Lázaro) estava doente, Jesus ficou ainda
dois dias no lugar onde se encontrava” (Jo 11,6). Apesar de Lázaro precisar
urgentemente do socorro de Jesus, este permaneceu ainda dois dias onde se
encontrava. Nossas urgências não têm o poder de forçar Deus a agir. Ele sabe da
nossa situação; Ele ouve a nossa oração, mas é soberano na sua vontade. Se Ele
não intervém no momento em que mais necessitamos, não é porque seja indiferente
ao que nos acontece, ou porque não nos ame, mas porque tem um propósito maior
para a nossa vida ou para a vida daqueles pelos quais oramos.
A verdade é que Jesus permitiu que Lázaro morresse,
e o fez por nossa causa: “Lázaro está morto. Mas por causa
de vocês, alegro-me por não ter estado lá, para que vocês
creiam” (Jo 11,14-15). Jesus não quer que a nossa fé pare na morte. “Se temos
esperança em Cristo somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão
de todos os homens” (1Cor 15,19). Muito mais do que uma cura temporária, muito
mais do que mais alguns anos de vida terrena, o que Jesus tem para nos oferecer
é a vida eterna. Não podemos reduzir nossa fé em Cristo às nossas necessidades
materiais e passageiras deste mundo. Todos nós já enterramos pessoas, sonhos,
alegrias e esperanças. Mas hoje Jesus nos convida a desenterrar a nossa fé. Todos
nós já perdemos pessoas e coisas em nossa vida, mas, diante dessas perdas,
precisamos recuperar a nossa fé.
“Quando Jesus chegou, encontrou
Lázaro sepultado havia quatro dias” (Jo 11,17). Até o terceiro dia, havia
esperança de que algum milagre pudesse acontecer (cf. Os 6,2). Mas o quarto dia
significa que não há nada mais que possa ser feito. Qual é o seu quarto dia? O quarto
dia é a morte de um ente querido ou o fim do casamento; o quarto dia é tudo
aquilo que não há mais como ser salvo ou mudado. O quarto dia nos diz: “Acabou,
e é preciso aceitar esse fato!”. O quarto dia nos obriga a enterrar a nossa
esperança e a sermos realistas: não há mais nada que possa ser feito. A única
saída é enterrar o que morreu e tentar seguir em frente, vivendo um dia de cada
vez.
Todos nós temos o quarto dia em nossa história de
vida, e precisamos entregá-lo a Jesus. Só ele pode intervir nessa situação. Só
ele pode ressuscitar o que morreu em nós. Só ele pode nos tirar de dentro das
nossas sepulturas e nos fazer viver não mais a partir da fraqueza da carne, mas
da força do Espírito (cf. Rm 8,8). Só ele é a Ressurreição e a Vida! E ele nos
garante: “Teu irmão ressuscitará!”. Teu filho ressuscitará! Teu sonho, tua
esperança e teu sentido de vida ressuscitarão! “Você crê nisso?” (Jo 11,26).
Àquele
que crê, Jesus ordena de “tirar a pedra” que lacra a sepultura onde foi
enterrada a sua esperança. A pedra precisou se retirada, para que Lázaro
ouvisse a voz de Jesus, que gritou: “Lázaro, venha
para fora!” (Jo 11,43). Nós também precisamos retirar a pedra que
colocamos em cima de nós mesmos, em cima da nossa fé, quando decidimos não
rezar mais, não ajudar mais ninguém, não frequentar mais nenhuma religião, não
trabalhar mais, não estudar mais, não viver mais... “Lázaro, venha para fora!”
(Jo 11,43). Que venha para fora tudo aquilo que você enterrou: sua fé, sua
esperança, seu amor, seu sentido de vida, sua vontade, seus sonhos, seus
projetos, sua vontade de voltar a viver...
Enquanto
estiver na terra, a vida e a morte se farão sentir dentro de nós; ora desejaremos
viver, ora morrer; ora veremos sentido em estarmos vivos, ora não; ora
lutaremos e trabalharemos por um mundo melhor, ora desistiremos de tudo. Uma
palavra nos ajuda a lidar com essa alternância de estado de espírito: “Embora vosso corpo esteja ferido de morte por
causa do pecado, vosso espírito está cheio de vida, graças à justiça. E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus
dentre os mortos mora em vós, então aquele que
ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos
corpos mortais
por meio do seu Espírito que mora em vós” (Rm
8,10-11).
Segundo o apóstolo Paulo, o Espírito Santo é a
garantia da nossa ressurreição (cf. Ef 1,13-14; 4,30). Retiremos a pedra!
Abramos as nossas sepulturas, para que o sopro de vida que vem de Deus nos faça
reviver. Clamemos Àquele que é nossa Ressurreição e nossa Vida! Não reduzamos a
nossa fé em Cristo à vida presente, mas permitamos que ela nos abra à vida
futura, na qual não haverá mais morte, nem luto, nem dor (cf. Ap 21,4).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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