Missa do 4. dom. Quaresma. Palavra de Deus: 1 Samuel 16,1b.6-7.10-13a; Efésios 5,8-14; João 9,1-3.6-9.13-17.24-25.31-41.
Alguns não conseguem enxergar uma
saída para a sua vida, uma solução para os seus problemas. Alguns não conseguem
mais enxergar o valor da pessoa com quem convivem há anos. Alguns não admitem
enxergar o mal que estão fazendo a si mesmos e aos outros. Alguns só enxergam
seus próprios interesses.
Existe um não poder ver, mas existe também um não querer ver. Ver, enxergar, também significa tornar-se
consciente, e quem se torna consciente não tem desculpas para continuar a viver
como vítima, nem de si mesmo, nem dos outros. Será que você quer realmente ver,
ou prefere continuar vivendo como cego? Vivendo como cego, não preciso tomar
decisões: os outros decidem por mim; não preciso assumir nenhuma
responsabilidade: posso me esconder dos desafios da vida atrás das mesmas
desculpas de sempre.
A cura do cego de nascença (Evangelho)
nos fala da necessidade de corrigirmos a visão distorcida que temos em relação
ao sofrimento, interpretando que quando Deus permite que uma pessoa sofra, é
porque ela pecou: “Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus
pais?” (Jo 9,2). Na época de Jesus, havia uma mentalidade que afirmava que era
possível a uma criança pecar antes de nascer, quando ainda estava no ventre de
sua mãe. Jesus corrige essa visão distorcida, ao afirmar: “Nem ele, nem seus
pais pecaram” (Jo 9,3).
O
Evangelho nos fala de visões que se chocam: de um lado, os fariseus, que veem
Jesus como “um homem que não vem de Deus, porque não guarda o sábado” (Jo
9,16), e os judeus, que veem Jesus como “um pecador” (Jo 9,24); de outro, o
homem que era cego e que vê Jesus como “um profeta” (Jo 9,17), como “um homem
que veio de Deus” (Jo 9,33). Quantas pessoas estão cegas, seja pelo fanatismo,
seja pela ignorância? Quantas pessoas são doutrinadas por líderes políticos ou
religiosos, por influencers, youtubers etc.?
Jesus
afirmou que a verdade do seu Evangelho provoca uma reviravolta, fazendo com que
“os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos” (Jo 9,39). Os fariseus,
que se julgavam ter uma visão esclarecida a respeito de tudo, não aceitam
enxergar Jesus como Salvador, coisa que o cego de nascença enxergou não somente
com seus olhos físicos, mas também com os olhos da sua fé (cf. Jo 9,38)! Desse
modo, um relato que começou acusando um cego de nascença de ser pecador
terminou relevando que o pecado não consiste em ter nascido cego (Jo 9,2-3),
mas em insistir em não ver, em não querer enxergar (Jo 9,40-41).
Depois de curado por Jesus, o cego começou
a ver as coisas de uma outra forma, a ponto de não ficar mais em silêncio
diante dos fariseus e de questioná-los pelo fato deles não quererem enxergar
que Jesus era um homem de Deus (cf. Jo 9,30-33)! É assim que Jesus nos quer!
Não homens e mulheres fatalistas, sentados à beira do caminho da vida, com os
olhos fixos na tela de um celular, anestesiados por vídeos e imagens que nos
mantêm distraídos, paralisados, sem dar passos concretos na direção da mudança
que o próprio Deus quer que busquemos, para nós e para a sociedade.
O
conflito entre os judeus e o homem que era cego fez com que este fosse expulso
da sua comunidade religiosa (cf. Jo 9,34). Quando começamos a enxergar melhor
as coisas, passamos a enfrentar conflitos com pessoas que até então nos
impunham a sua maneira de ver. Mas existem certos rompimentos que são
necessários. Quando começamos a ver com um pouco mais de profundidade,
entendemos que precisamos nos afastar de pessoas e de hábitos que são nocivos,
que nos adoecem, por nos oferecerem uma visão distorcida da realidade.
Assim
como Jesus conversou com o homem que havia sido expulso da comunidade, ele nos
pergunta se estamos dispostos a continuar aprofundando a nossa visão,
compreendendo melhor a nós mesmos, os outros e à própria vida. Jesus nos
convida a aceitar o desafio de permitir que certos acontecimentos quebrem com a
imagem que temos de Deus, uma imagem distorcida, incorreta, que precisa ser
reformulada porque não está sendo suficiente para sustentar a nossa fé frente
aos acontecimentos do mundo atual.
“Desperta,
tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá” (Ef
5,14). Desperte! Pare de depender da visão dos outros. Aprenda a enxergar com
seus próprios olhos. Não aceite mais ser guiado(a) na vida por pessoas erradas.
Lembre-se de que “se um cego conduz outro cego, ambos acabarão caindo num
buraco” (Mt 15,14). Como é que um viciado em droga pode ajudar alguém que está
querendo sair das drogas? Como é que uma pessoa que vive praticando adultério pode
aconselhar positivamente alguém com problemas no seu relacionamento conjugal? Perceba quem é que influencia a sua visão a
respeito do casamento, da família, da sexualidade, da política, do meio
ambiente etc. Não tenha medo de romper com pessoas e situações que
desejam manter você na cegueira, na ignorância de si mesmo e das possibilidades
de mudança. Deixe-se conduzir pela luz do Senhor e da sua Palavra!
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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