Missa do 25º dom. comum. Palavra de Deus: Amós 8,4-7; 1Timóteo 2,1-8; Lucas 16,1-13.
“A raiz de todos os males é o amor
ao dinheiro” (1Tm 6,10). Por causa do dinheiro, os homens fazem guerra. Por
causa do dinheiro, o tráfico de drogas se espalha e se intensifica em todos os
lugares, destruindo famílias, destruindo vidas. Por causa do dinheiro, a
maioria dos alimentos que nós comemos está envenenada por agrotóxicos,
hormônios e inúmeras outras substâncias cancerígenas. Por causa do dinheiro,
desmata-se, envenenam-se rios, destrói-se a natureza. Por causa do dinheiro, matam-se
pessoas para traficar seus órgãos. Por causa do dinheiro, fabricam-se produtos sempre
mais descartáveis, aumentando a produção de lixo e causando seríssimos
problemas ao meio ambiente. Por causa do dinheiro, manipula-se a Bíblia, e diversos
pregadores tornam-se ladrões e assaltantes em nome de Deus. Por causa de
dinheiro, a política deixa de ser entendida como o cuidado com o bem comum e
passa a ser entendida apenas como chance de enriquecimento rápido e abundante.
A crítica ao dinheiro não é uma
questão somente política e econômica, mas também bíblica. Deus se pronuncia
totalmente contrário a todo tipo de política, de economia e de religião que
favorecem a desigualdade social, tornando os ricos sempre mais ricos e os pobres
sempre mais pobres: todos aqueles que “pisam sobre os pobres” e “arruínam os
necessitados” da terra serão julgados com severidade por Deus, segundo o
profeta Amós.
Nos últimos anos, os preços dos
alimentos explodiram no Brasil, o país que mais produz e exporta alimentos no
mundo. Quem vai ao supermercado se dá conta de que todos os alimentos da cesta
básica – arroz, feijão, óleo, açúcar, café etc. – triplicaram de preço,
consequência de uma política econômica que favorece os ricos e prejudica os
pobres. Se essa constatação parece fruto de ideologia política, vejamos o que
Deus diz a respeito dos produtores, dos fabricantes e dos comerciantes que provocam
o aumento abusivo de preços: “Jamais esquecerei coisa alguma do que eles fizeram”
(Am 8,7). Deus não é indiferente às questões sociais. Enquanto aqueles que se
enriquecem causando empobrecimento e aumentando ainda mais a desigualdade social
adesivam seus veículos com a frase: “Meu partido é o Brasil”, Deus deixa claro
que seu partido são todos os seres humanos prejudicados pela ganância desmedida
daqueles que lucram com a pobreza alheia.
Todos nós vivemos numa sociedade
onde o dinheiro é “tudo”. O que move o mundo é o dinheiro. Em teoria, existem
muitas religiões; na prática, porém, só existe uma: a religião chamada “mercado”,
cujo deus é o dinheiro. Na época de Jesus, não era muito diferente. Foi por
isso que ele nos fez um alerta: “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”
(Lc 16,13). “Dinheiro” aqui é designado com “D” maiúsculo porque ele compete
com Deus; ele promete nos dar aquilo que somente Deus pode nos dar: segurança e
salvação. Todos nós estamos dentro de uma economia de mercado. Ninguém
sobrevive sem dinheiro. Com ele, nos sentimos seguros e em paz; sem ele, nos
angustiamos e nos desesperamos.
Mesmo sabendo disso, Jesus afirma
que todo dinheiro é injusto; todo dinheiro é sujo e corrompe, porque fecha aquele
que o possui no seu próprio egoísmo. Todo dinheiro tem o poder de possuir
aquele que o possui. Quanto mais posses uma pessoa tem, mais ela se torna “possuída”.
Quanto mais dinheiro uma pessoa possui, menos ela se sente necessitada de Deus
e de sua salvação, mais ela se torna crítica da Igreja e do Evangelho. É perfeitamente
natural, portanto, que até mesmo homens cristãos ambicionem pertencer a grupos
ou movimentos de elite, que ostentam riqueza, do que pertencer a algum serviço
de Igreja que tenha como objetivo socorrer os necessitados.
Conhecendo bem o coração humano,
Jesus afirmou que “os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do
que os filhos da luz” (Lc 16,8). Aqui é o caso de perguntar: Você se esforça em
cuidar da sua vida espiritual da mesma forma que se esforça em ganhar dinheiro?
Você tem consciência de que dinheiro algum pode impedir você de morrer (cf. Sl
49,8-10)? Você tem consciência de que seu julgamento diante de Deus se dará
exatamente baseado na forma como você tratou os necessitados e os pobres deste
mundo (cf. Mt 25,31-46)?
Jesus nos lança um desafio: “Usem o
dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles receberão vocês nas
moradas eternas” (Lc 16,9). Não há dinheiro que compre Deus, que compre a nossa
salvação, o nosso lugar no Reino de Deus. No entanto, existe uma forma de usar
o dinheiro de maneira que ele nos aproxime de Deus e da sua salvação:
socorrendo os necessitados; de maneira mais inteligente, usando o nosso dinheiro
para ajudar a diminuir a desigualdade social à nossa volta; aplicando o nosso
dinheiro em projetos que gerem algum tipo de renda para quem está desempregado.
A nossa entrada nas “moradas eternas” depende exatamente disso, segundo Jesus:
da nossa solidariedade para com os pobres. A indiferença a eles sela a nossa
condenação perante Deus.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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