Missa do 22º dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiástico 3,19-21.30-31; Hebreus 12,18-19.22-24a; Lucas 14,1.7-14.
Qual
é o seu tamanho? Você é “grande” o suficiente para ser visto, ou “pequeno”
demais para ser notado? Diz o ditado: “O que não é visto, não é lembrado”. Na
sociedade da aparência, quem não é visto, é ignorado, simplesmente “não existe”.
Então, para não serem ignorados, muitos se expõem o quanto podem nas redes
sociais. Por medo de serem ignoradas, pessoas gastam tempo e dinheiro
investindo no culto ao corpo, enfeitando-o de maneira chamativa – roupa,
maquiagem, cabelo, tatuagem, piercing etc. – além de comprarem carros caros e
construírem casas desnecessariamente grandes, tudo para serem notadas, vistas. É
o medo de não ser percebido aos olhos alheios.
O
problema é que, por trás do excesso de exposição, da mania de grandeza, do chamar
a atenção sobre si, está uma ferida chamada “sentimento de inferioridade”.
Quanto maior é esse sentimento, mais a pessoa faz o contrário, exatamente para
mostrar-se grande, importante. A ironia em tudo isso é que hoje você tem
pessoas fisicamente grandes, aparentemente bem sucedidas, ocupando altos cargos
nas empresas, sendo seguidas por inúmeros fãs nas redes sociais, mas, interiormente,
essas mesmas pessoas, além de serem fúteis e vazias, não têm estrutura
emocional: tombam diante de qualquer vento contrário, se desequilibram diante
de qualquer frustração, caem em depressão diante de qualquer queda de “popularidade”.
Enquanto
a sociedade da aparência cultua a copa da árvore, Deus nos convida a olhar, a
valorizar e a cuidar da raiz da árvore. A raiz não é vista, exatamente porque
está “escondida” debaixo da terra. Por isso, ela simboliza a virtude da humildade,
pois “humildade” vem de “humus”, terra. Uma pessoa humilde não é uma pessoa “enterrada”,
rebaixada, mas uma pessoa que se assenta sobre suas raízes. Ela está em contato
com a sua verdade interior. Ela tem consciência do seu real tamanho e do seu
real valor. Ela não se alimenta dos olhares alheios para saber que tem
importância. A consciência do seu valor, da sua importância, não está no fato
de ela ocupar o centro, o lugar mais “importante” ou de destaque, mas de ocupar
o lugar que foi chamada a ocupar, a enraizar-se ali e ali produzir os frutos de
que é capaz.
Enquanto
o ser humano foge do sentimento de inferioridade inchando-se de soberba, de
orgulho, de arrogância, de empáfia, Deus escolheu fazer-se humilde em Jesus
Cristo. Ele nasceu de maneira humildade (estrebaria), cresceu de maneira humilde
(na insignificante Nazaré), viveu de maneira humilde (região da Galileia, longe
da capital, Jerusalém), e escolheu estar com os humildes, exatamente com
aqueles que eram ignorados e desprezados pela política e pela religião do seu
tempo, para tornar realidade palpável esta palavra do Senhor: “Eu habito em
lugar alto e santo, mas estou junto com o humilhado e desamparado, a fim de
animar os espíritos desamparados, a fim de animar os corações humilhados” (Is
57,15).
Deus
só pode ser encontrado na humildade. O coração orgulhoso, o olhar arrogante nos
afasta de Deus. Quem busca ser grande segundo os contravalores do mundo
torna-se um copo cheio: nele não cabe mais nada; não cabe Deus. Seria de se
esperar que a religião nos tornasse pessoas humildes, mas às vezes acontece o
contrário: estar na Igreja serve de status, de projeção da própria imagem, de
colocar-se ou de sentir-se acima dos outros. Quando fazemos isso, traímos a
Eucaristia, pois ela é pão sem fermento, exatamente porque Cristo foi um homem
não fermentado, não inchado de orgulho, nem de soberba. O que se espera de uma
pessoa que consagra e/ou comunga o Corpo de Cristo é que ela seja uma pessoa não
fermentada pela arrogância, mas reconhecida por sua humildade.
Enfim,
é preciso muita coragem e muita liberdade interior para se cultivar a
humildade, para suportar sentir-se insignificante perante o mundo fútil e vazio
em que vivemos, cujos olhos só enxergam e valorizam a superficialidade e são
incapazes de enxergar em profundidade. É preciso nos lembrar de que “por mais
alto que esteja, o Senhor vê os humildes e conhece os soberbos de longe” (Sl
138,6). Só à luz dos olhos de Deus é que podemos nos dar conta do nosso
verdadeiro tamanho e tomar consciência do nosso real valor, da importância e do
significado da nossa existência neste mundo.
Além
da virtude da humildade, Jesus nos convida a desenvolver a atitude da gratuidade:
“Quando você der uma festa, convide os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos.
Então você será feliz! Porque eles não lhe podem retribuir. Você receberá a
recompensa na ressurreição dos justos” (Lc 14,13-14). Para a mentalidade
moderna, tudo tem que ter retorno: todo investimento tem que gerar algum tipo
de lucro, de ganho. Jesus nos desafia a experimentar a alegria de dar sem
receber nada em troca. Aliás, ele mesmo afirma que “há mais alegria em dar do
que em receber” (At 20,35). Quando ajudamos quem não pode nos retribuir e,
sobretudo, quando ajudamos quem “não merece” a nossa ajuda, experimentamos
Deus, pois Ele é gratuidade: “faz nascer o sol sobre bons e maus e cair a chuva
sobre justos e injustos” (Mt 5,45). Só a gratuidade pode curar as feridas
abertas na humanidade, feridas causadas pela competitividade selvagem,
desumana, da lei que afirma: “quem pode mais, chora menos”.
Rezemos
hoje pelos nossos Catequistas. Eles têm o grande desafio de ajudar a
encantar-se por Jesus, o Deus sem fermento, uma geração fermentada pela mania
de grandeza, que se alimenta do que é fútil e vazio, que, altamente influenciada
pelas redes sociais, se preocupa com a copa da árvore e despreza o cuidado com
suas raízes, uma geração para a qual “fazer a Primeira Eucaristia” é meramente
um ato de projeção social e não uma configuração Àquele que tem um coração
manso e humilde (cf. Mt 11,29).
Pe. Paulo Cezar Mazzi