quinta-feira, 4 de agosto de 2022

O RESGATE DA CAPACIDADE DE TER ESPERANÇA

 Missa do 19. dom. comum. Sabedoria 18,6-9; Hebreus 11,1-2.8-19; Lucas 12,32-48.

            O que é uma vida sem esperança? É como uma sala fechada, onde não há porta nem janela que se possa abrir. Quem é colocado ali, acaba morrendo asfixiado, porque não há entrada de ar. Uma pessoa sem esperança é uma pessoa em “des-espero”: ela deixou de esperar; ela nada espera; seu presente está fechado em si mesmo; ela está fechada num ambiente onde não há abertura alguma para a entrada de ar e de luz.

            As leituras que acabamos de ouvir nos falam da importância da esperança: “A noite da libertação... foi esperada” (Sb 18,6.7). “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera” (Hb 11,1). Abraão morou provisoriamente em tendas porque “esperava a cidade alicerçada” (Hb 11,10). Jesus, no Evangelho, nos fez este convite: “Sejam como pessoas que estão esperando seu senhor voltar” (Lc 12,36). E o salmo deixa claro que nós não esperamos por algo ou por alguma coisa; esperamos por Alguém! “No Senhor nós esperamos confiantes, porque ele é nosso auxílio e proteção! (...) Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!” (Sl 33,20.22).  

            Esperar é difícil, sobretudo para uma geração como a nossa, mal acostumada com o imediatismo da tecnologia. Queremos tudo para ontem. Nos tornamos pessoas impacientes e intolerantes, pessoas que não suportam o processo da mudança, do crescimento, da transformação. Plantamos ontem e queremos colher hoje! Não respeitamos o tempo necessário até que a resposta chegue, até que a ferida seja tratada e curada, até que a noite termine e irradie um novo dia. Mesmo em relação a Deus, não suportamos o fato de que não podemos forçá-Lo a agir no nosso tempo: “Meu patrão está demorando” (Lc 12,45), o que faz com que joguemos tudo pro alto, abandonemos nossa fidelidade e busquemos ser feliz agora, do nosso jeito.

            No horizonte da vida cristã está o encontro com o Senhor e com a realização das suas promessas: “Sejam como pessoas que estão esperando seu senhor voltar” (Lc 12,36). Somente a força da esperança nos faz suportar o momento presente, marcado por perguntas que ainda não foram respondidas, por feridas que ainda não foram curadas e por problemas que ainda não foram solucionados. Tanto as coisas boas quanto as ruins são transitórias. Tanto nossos sucessos quanto nossos fracassos são temporários. O nosso estar no mundo é, exatamente como Abraão, um “morar em tendas”. O erro de muitas pessoas é desperdiçar tempo, dinheiro e energia tentando transformar o transitório em definitivo.

            Para nos tirar dessa ilusão, a vida nos traz situações de perda, de destruição, de mudanças drásticas que nos tiram nossas seguranças humanas e nos obrigam a rever o fundamento da nossa existência: O mais importante é o que eu tenho, o que eu faço, ou o que eu sou como pessoa? A minha fé em Deus se ancora nas Suas promessas ou apenas naquilo que Ele já realizou em minha vida? O que tem mais valor: aquilo que Deus já realizou em minha vida ou aquilo que Ele ainda realizará? Quando é que a vida vale a pena: quando eu estou feliz ou quando eu encontro um sentido para viver, mesmo lidando com um sofrimento? “Eles desejam uma pátria melhor, isto é, a pátria celeste” (Hb 11,16). Quem reduz o sentido da sua vida em ser feliz aqui e agora não suporta nenhuma contrariedade, nenhum “ainda não”. Quem, pelo contrário, mantém sua vida aberta ao futuro, ventilada pela esperança, abraça sua tarefa diária e se mantém aberto àquilo que Deus está realizando em sua vida.

Jesus afirmou: “onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,34). Nossa vida gira em torno daquilo que para nós tem valor. Para algumas pessoas, o tesouro é o corpo, a aparência, a influência e os consequentes “seguidores” nas redes sociais. Para essas pessoas, torna-se insuportável envelhecerem, não serem admiradas ou percebidas, perderem a “importância” para os outros. Para algumas pessoas, o tesouro é o dinheiro e os bens materiais que ele pode comprar. Suas grandes casas são frequentemente habitadas pelo vazio e seus castelos desmoronam mediante um infarto, um AVC ou um câncer. E para nós? Nosso coração está no Senhor ou em algo que desejamos que Ele nos dê? Nosso tesouro é o nosso relacionamento com Deus, ou nosso interesse naquilo que estamos esperando que Ele nos dê?

O Evangelho termina com um alerta de Jesus: “Vós também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes” (Lc 12,40). Na hora em que menos imaginarmos, estaremos deixando o transitório e caminhando para o definitivo. Na hora em que menos imaginarmos, nossa tenda será desfeita e seremos convidados a mudar para nossa casa definitiva (cf. 2Cor 5,1-10). Portanto, é preciso manter nossa vida aberta, cientes de que o Senhor está vindo ao nosso encontro. E ele deseja nos encontrar como “administradores fiéis e prudentes” (cf. Lc 12,42). O administrador não é dono; ele apenas “administra” a vida que recebeu, e a melhor forma de administrarmos a nossa vida é nos mantendo abertos à pergunta: Qual a tarefa que a vida está pedindo de mim neste momento? Do quê eu estou sendo chamado a cuidar neste momento?

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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