Missa do 4º dom. Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 13,14.43-52; Apocalipse 7,9.14b-17; João 10,27-30.
Todo
ser humano nasce dependente dos cuidados de alguém. Na medida em que ele
cresce, ganha autonomia e passa a cuidar de si mesmo. No entanto, essa
autonomia não significa autossuficiência. Todo ser humano tem necessidade de
pertença; mesmo sendo adulto, ele busca pertencer a alguém, a algum grupo; mesmo
sendo adulto, ele busca se confiar a alguém, porque sente não só a necessidade
de ser cuidado, mas também de ser orientado a respeito da vida. Isso significa
que todo ser humano é, de uma certa forma, uma ovelha conduzida por um pastor.
Portanto, a pergunta que precisamos nos fazer é quem, de fato, tem sido o nosso
pastor, o nosso cuidador, o nosso orientador.
Até
tempos atrás, instituições como Família, Escola e Igreja funcionavam como
cuidadoras, orientadoras. Mas atualmente essas instituições estão em crise, e a
grande maioria das pessoas está cada vez mais sem referência de cuidado e de
orientação, o que faz com que cada um siga o seu caminho e tente sobreviver
como pode, neste mundo individualista e profundamente desorientado. A
consequência disso é uma humanidade que vive “como ovelhas sem pastor” (Mt
9,36), atingidas por uma profunda desorientação, desorientação esta que leva
muitos a se confiarem a mãos erradas: mãos de lobos, e não de pastores; pior
ainda, mãos de lobos disfarçados de pastores.
A
esse respeito, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil afirma que nosso
País está diante de “duas ameaças” que “merecem atenção especial. A primeira é
a manipulação religiosa, protagonizada tanto por alguns políticos como
por alguns religiosos, que coloca em prática um projeto de poder sem afinidade
com os valores do Evangelho de Jesus Cristo... A segunda é a disseminação
das fake news, que através da mentira e do ódio, falseia a realidade”
(Carta em defesa da democracia nas eleições, 22/04/2022). Por que os falsos
pastores conseguem arrebanhar muitos seguidores em nosso País? Porque somos um
povo que tem preguiça de pensar; porque substituímos a leitura de livros por programas
televisivos vazios e por filmes e vídeos da internet; porque nos deixamos
arrastar pelas nossas emoções e não colocamos nossa razão para funcionar.
“As
minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,27).
O nosso desafio é identificar a voz de Jesus no meio do barulho e da correria
da nossa vida moderna. Essa voz pode ser encontrada em nossa consciência, quando
silenciamos; ela também pode ser encontrada no evangelho de cada dia, que a
liturgia da nossa Igreja nos propõe. Ao mesmo tempo, nós precisamos ser a voz
de Jesus para inúmeras pessoas que estão desorientadas à nossa volta,
especialmente crianças e adolescentes que sofrem abuso dentro de casa ou que
não tem quem os oriente no caminho da vida; jovens que estão perdidos nas redes
sociais, seguindo “youtubers” ou “influencers” que os deixam ainda mais desorientados,
tornando suas vidas vazias de sentido.
Jesus
disse, a respeito das suas ovelhas: “Elas jamais se perderão. E ninguém vai
arrancá-las de minha mão” (Jo 10,28). Aqui mais uma vez é preciso deixar claro:
embora todos nós queiramos ser livres e autônomos, acabamos por nos confiar às mãos
de alguém. A questão, portanto, é saber às mãos de quem eu tenho me confiado.
Quem me orienta quanto à vida afetiva e sexual, quanto à vida profissional e
financeira, quanto ao lidar com as minhas emoções e com as minhas necessidades
espirituais? Quem eu sigo nas redes sociais? O que as postagens dessas pessoas
acrescentam à minha vida? Aquilo que eu vejo todos os dias nas redes sociais
fortalecem a minha liberdade ou a tornam frágil e incapaz de me ajudar a tomar
decisões que sejam importantes para a minha vida?
Nós
somos livres para seguir e nos deixar orientar por quem quisermos. Não
esqueçamos o que aconteceu com muitos judeus, na época de Paulo e Barnabé: “Era
preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós. Mas, como a rejeitais e vos
considerais indignos da vida eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos”
(At 13,46). Jesus, nosso Pastor, não exclui ninguém do seu rebanho; é a nossa
resistência à sua Palavra que provoca a nossa autoexclusão. Ele deseja saciar e
nossa fome e a nossa sede, nos conduzindo às fontes da água da vida (cf. Ap
7,16-17), mas nós temos liberdade de escolher continuar nos alimentando de conteúdos
vazios nas redes sociais, conteúdos que nos causam desnutrição intelectual,
emocional e espiritual. Jesus deseja conduzir cada ovelha do seu rebanho ao
Pai, que enxuga as lágrimas de todos os rostos, mas muitos ainda preferem continuar
se machucando e provocando para si mesmos situações que são de chorar e de
lamentar.
“Meu
Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las
da mão do Pai” (Jo 10,29). Às mãos do Pai, que é maior que tudo o que nos
acontece, queremos confiar hoje, em especial, as mães; elas que são, na sua grande
maioria, modelos de pastor, de cuidado, de orientação – que se sintam cuidadas
e orientadas pelo Pai. Pedimos ao Pai que sacie a fome e a sede de cada mãe, e
a conduza às fontes da água da vida, saciando sua sede de afeto, de cura, de
amparo, de perdão e de regeneração. Enfim, pedimos ao Pai que enxugue as
lágrimas dos olhos de toda mãe que chora devido à desorientação dos seus filhos,
devido às feridas do seu relacionamento conjugal ou devido às injustiças deste
mundo. Que toda mãe sinta-se no colo de Jesus, Bom Pastor, nos braços do Pai, sanadas,
cuidadas e guardadas para a vida eterna. Amém!
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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