quinta-feira, 19 de maio de 2022

NÃO BUSCAR FORA AQUILO QUE ESTÁ DENTRO

 Missa do 6º dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 15,1-2.22-29; Apocalipse 21,10-14.22-23; João 14,23-29.

           

            Estamos caminhando para o final do tempo pascal. Daqui a alguns dias celebraremos a Ascensão de Jesus ao céu e, mais alguns dias, a vinda do Espírito Santo. Por isso, o Evangelho de hoje nos traz palavras de despedida de Jesus. Não se trata de uma despedida de quem vai se afastar dos seus discípulos; antes, se trata de uma despedida da presença externa de Jesus e da promessa da sua presença interna no coração de cada discípulo seu: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23).

                Embora nós desejemos muito ver e tocar em Jesus, Ele entende que o mais importante não é estar ao nosso lado ou diante de nós, mas dentro de nós. E a única forma de isso acontecer é estabelecendo com Jesus uma relação pautada não na obrigação, não no medo, nem na tradição, mas unicamente no amor. Esse amor se traduz numa atitude: orientar-se na vida pela Palavra de Jesus, contida no Evangelho que meditamos a cada dia. Mantendo no coração essa Palavra, Jesus e o Pai passam a morar em nós, a habitar o nosso coração. Isso explica por que muitas vezes não encontramos Deus: nós procuramos fora Aquele que está dentro de nós, como disse Santo Agostinho: “Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava fora! Estavas comigo, mas eu não estava contigo”.

 No momento em que se despede dos seus discípulos, Jesus faz a promessa do Espírito Santo: “Isso é o que vos disse enquanto estava convosco. Mas o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,25-26). Jesus se refere ao Espírito Santo como “Defensor”, como Aquele que está junto a nós, ao nosso lado, para nos sustentar no combate da vida. Nós necessitamos que o Espírito Santo nos defenda não apenas do mal, mas, sobretudo, que nos defenda do nosso medo, da nossa covardia perante a vida; numa palavra, que Ele nos defenda de nós mesmos, das nossas atitudes que sabotam a nós mesmos, que nos mantém presos ao pecado e que nos adoecem. O Espírito Santo é a voz de Jesus em nós: “No mundo, tereis aflições, mas coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33).

Enfim, ao se despedir dos seus discípulos, Jesus comunica-lhes a Sua paz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,27). Nós nos perguntamos: Como ter paz, num mundo marcado por tanta violência e por tantas guerras? Como ter paz, se nos sentimos ameaçados por doenças graves e incuráveis? Como ter paz, com tantos conflitos dentro de casa e no ambiente de trabalho? Como ter paz, quando nos falta trabalho e quando as dívidas nos atormentam? A paz que Jesus nos oferece nasce da absoluta confiança no Pai. “Eu não estou sozinho, pois o Pai está comigo” (Jo 16,32). Como pergunta o apóstolo Paulo: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Ele, que não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as outras coisas?” (Rm 8,31-32).

A paz de Jesus não é a paz do mundo. Esta supõe que tudo à nossa volta esteja bem e nos seja favorável, mas a paz de Jesus não depende de circunstâncias externas. Ela é como a história do rei que fez um concurso, pedindo que os artistas fizessem um quadro que representasse a paz. Logo começaram a chegar ao palácio quadros de todo tipo. Uns retratavam a paz através de lindas paisagens com jardins, praias e florestas; outros a representavam através de arco-íris, alvoradas e crepúsculos. O rei analisou todos os quadros e parou diante de um que retratava uma forte tempestade com nuvens pesadas, redemoinhos de ventos e uma árvore arqueada abrigando, dentro de seu tronco, um pássaro que dormia tranquilamente.

Diante de todos os participantes do concurso, o rei declarou aquele quadro da tempestade o vencedor do concurso. Todos ficaram surpresos, e alguém protestou dizendo: “Mas... Majestade! Esse quadro parece ser o único que não retrata a paz!”. Então o rei respondeu com toda a convicção: “O pássaro dorme tranquilamente dentro do tronco apesar da tempestade lá fora. Esta é a maior paz que se pode ter: a paz interior”. Portanto, a paz que Jesus nos oferece não é a ausência de agitação no ambiente em que vivemos, mas o estado de tranquilidade interior que cultivamos diante das tempestades da vida.

Ainda uma palavra sobre a paz. Santo Inácio de Loyola, durante o seu período de enfermidade, compreendeu que a paz está profundamente relacionada com a vontade de Deus. Sempre que temos atitudes, fazemos escolhas ou tomamos decisões que nos afastam da vontade de Deus, nós perdemos a paz interior. Sempre que escolhemos viver segundo a vontade de Deus, nós sentimos paz, mesmo que viver segundo essa vontade nos custe algum sofrimento.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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