Missa do 8º. dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiástico 27,5-8; 1Coríntios 15,54-58; Lucas 6,39-45.
As
redes sociais fizeram surgir um novo tipo de “pessoa” e até mesmo de “profissional”
no mundo todo: o “influencer”, isto é, o influenciador. Normalmente, o
influencer tem milhões de seguidores nas redes sociais, sobretudo no Instagram.
Entre as onze pessoas mais influenciadoras do Brasil estão: 1º. Neymar Jr (jogador
de futebol, com 169 milhões de seguidores); 3º. Anitta (cantora, com 59 milhões
de seguidores) e 4º. Whindersson Nunes (humorista, com 57 milhões de
seguidores).
Quem
você segue nas redes sociais, sobretudo no Instagram? Por que você segue essa
pessoa? O que ela inspira em você? Ela influencia você para o bem ou para o
mal? Para uma vida autêntica ou para uma vida fútil, vazia e de mera aparência?
Jesus
também foi um grande influenciador de pessoas. Mas ele fez um alerta muito
importante a respeito dos influenciadores, a respeito daqueles que são seguidos
diariamente por milhões de pessoas nas redes sociais: “Pode um cego guiar outro
cego? Não cairão os dois num buraco?” (Lc 6,39). Como é que uma pessoa que sempre teve atitudes nocivas nos seus relacionamentos pode aconselhar alguém que está com
problemas no seu relacionamento? Como é que uma pessoa fútil e vazia pode
aconselhar alguém que está buscando um sentido para a sua vida? Como é que uma
pessoa que sempre foi incapaz de lidar com a dor pode aconselhar alguém que
está sofrendo? Como é que uma pessoa que não tem uma religião definida e ou que
costura retalhos espirituais, misturando doutrina católica com
doutrina evangélica, espírita, umbandista, budista, islâmica etc., pode ajudar
alguém a se encontrar com o Deus vivo e verdadeiro, revelado nas Sagradas Escrituras?
Muitas
pessoas estão caminhando na direção de um buraco, ou mesmo de um abismo, porque
estão seguindo cegos, deixando-se influenciar por pessoas desorientadas, por influenciadores
que trocaram a busca pela verdade pela busca pela fama; pessoas preocupadas com
a estética, mas não com a ética; pessoas para as quais valores como
honestidade, decência, humildade, fidelidade, simplicidade não significam
absolutamente nada.
O
sucesso de muitos influenciadores que são cegos guiando cegos se deve ao fato
de sermos um País que favorece a ignorância e a preguiça de pensar. Em lugar de
leitura de bons livros, joguinhos eletrônicos e séries; em lugar de filmes de
qualidade que levem à reflexão, pornografia ou jogos de futebol; em lugar de
letras de músicas que edificam, barulho eletrônico que propagam palavrões e
agressões, tornando a violência "normal". E a verdade é que cada um se alimenta
daquilo que tem fome: enquanto a maioria das pessoas se alimenta de coisas
estragadas, envenenadas, intoxicadas, uma minoria rejeita esse tipo de lixo e
busca alimentar-se de coisas que edificam e levam ao crescimento de si mesmas.
Nossa
consciência precisa funcionar como um filtro. Diante de tudo o que eu vejo,
leio e ouço, preciso me perguntar se aquilo me edifica ou não, se aquilo
contribui para a minha saúde ou para me adoecer mental e emocionalmente; se
aquilo que aproxima de Deus ou me distancia d’Ele. O Eclesiástico afirmou que
“o fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração
do homem” (Eclo 27,7). O fruto do qual estou me alimentando, ao ouvir palavras e ao ver
imagens, é um fruto saudável ou doente, estragado, intoxicado? Do quê eu tenho
me alimentado nas redes sociais? Eu filtro as palavras e as imagens que todos
os dias chegam a mim, ou engulo tudo como se eu fosse um esgoto?
Jesus
afirmou que “toda árvore é reconhecida pelos seus frutos” (Lc 6,44). Você só
conhece uma pessoa prestando atenção não nas palavras que ela diz, nem na
imagem que ela aparenta ou ostenta, mas na maneira como ela se comporta. Você
só conhece uma pessoa observando como ela trata os outros, especialmente os
mais desfavorecidos; como ela lida com a dor, com a doença, com a perda; como
ela lida com o dinheiro, com a sexualidade e com a liberdade. Os antigos
diziam que, para conhecermos uma pessoa, precisamos comer um quilo de sal com
ela. O sal é comido um pouquinho por dia, no tempero dos alimentos. Portanto,
conhecer uma pessoa exige muito tempo... Além disso, as postagens nas redes
sociais nunca revelam quem é a pessoa; elas mostram apenas aquilo que a pessoa
que mostrar: sua "casca", uma imagem maquiada e não verdadeira de si mesma.
Por
fim, Jesus nos fala da conexão que existe entre nossa boca (palavras) e nosso
coração (consciência): “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu
coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala
do que o coração está cheio” (Lc 6,45). De novo é preciso lembrar: nós não
somos produto do meio em que nos encontramos; nós somos produto daquilo que
decidimos dizer e fazer, não obstante a influência externa. Antes de uma
palavra sair da minha boca, ela precisa passar pela minha consciência: o que eu
vou dizer vai edificar alguém? Diante daquilo que os outros estão comentando, a
minha opinião vai trazer esclarecimento ou causar mais confusão? Diante de uma
discussão, o que vai favorecer o restabelecimento da paz: a minha palavra ou o
meu silêncio?
Prestemos
atenção ao que falamos no dia a dia. O nosso falar revela como está o nosso
coração: se habitado pela paz ou pela guerra; pela esperança ou pelo
desespero; por uma vida com sentido ou por uma vazia fútil, vazia, sem
sentido... Prestemos atenção a quem estamos seguindo nas redes sociais: essa
pessoa tem valores cristãos? Ela tem uma visão profunda ou superficial da vida?
Ela me ajuda a enxergar além ou é apenas uma pessoa cega que está me levando
para o mesmo buraco em que ela vive? O filtro da minha consciência precisa ser
limpo, para que eu não engula sem discernimento alguém tudo o que ouço e vejo?
Cada um se alimenta daquilo que tem fome: estou me alimentando de palavras e de
imagens que favorecem minha saúde emocional e espiritual ou que alimentam em
mim um estilo de vida doentio?
Pe.
Paulo Cezar Mazzi