sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

A CONDUTA REVELA OS VALORES DA PESSOA

 Missa do 8º. dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiástico 27,5-8; 1Coríntios 15,54-58; Lucas 6,39-45.

 

As redes sociais fizeram surgir um novo tipo de “pessoa” e até mesmo de “profissional” no mundo todo: o “influencer”, isto é, o influenciador. Normalmente, o influencer tem milhões de seguidores nas redes sociais, sobretudo no Instagram. Entre as onze pessoas mais influenciadoras do Brasil estão: 1º. Neymar Jr (jogador de futebol, com 169 milhões de seguidores); 3º. Anitta (cantora, com 59 milhões de seguidores) e 4º. Whindersson Nunes (humorista, com 57 milhões de seguidores).

Quem você segue nas redes sociais, sobretudo no Instagram? Por que você segue essa pessoa? O que ela inspira em você? Ela influencia você para o bem ou para o mal? Para uma vida autêntica ou para uma vida fútil, vazia e de mera aparência?

Jesus também foi um grande influenciador de pessoas. Mas ele fez um alerta muito importante a respeito dos influenciadores, a respeito daqueles que são seguidos diariamente por milhões de pessoas nas redes sociais: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco?” (Lc 6,39). Como é que uma pessoa que sempre teve atitudes nocivas nos seus relacionamentos pode aconselhar alguém que está com problemas no seu relacionamento? Como é que uma pessoa fútil e vazia pode aconselhar alguém que está buscando um sentido para a sua vida? Como é que uma pessoa que sempre foi incapaz de lidar com a dor pode aconselhar alguém que está sofrendo? Como é que uma pessoa que não tem uma religião definida e ou que costura retalhos espirituais, misturando doutrina católica com doutrina evangélica, espírita, umbandista, budista, islâmica etc., pode ajudar alguém a se encontrar com o Deus vivo e verdadeiro, revelado nas Sagradas Escrituras?

Muitas pessoas estão caminhando na direção de um buraco, ou mesmo de um abismo, porque estão seguindo cegos, deixando-se influenciar por pessoas desorientadas, por influenciadores que trocaram a busca pela verdade pela busca pela fama; pessoas preocupadas com a estética, mas não com a ética; pessoas para as quais valores como honestidade, decência, humildade, fidelidade, simplicidade não significam absolutamente nada.

O sucesso de muitos influenciadores que são cegos guiando cegos se deve ao fato de sermos um País que favorece a ignorância e a preguiça de pensar. Em lugar de leitura de bons livros, joguinhos eletrônicos e séries; em lugar de filmes de qualidade que levem à reflexão, pornografia ou jogos de futebol; em lugar de letras de músicas que edificam, barulho eletrônico que propagam palavrões e agressões, tornando a violência "normal". E a verdade é que cada um se alimenta daquilo que tem fome: enquanto a maioria das pessoas se alimenta de coisas estragadas, envenenadas, intoxicadas, uma minoria rejeita esse tipo de lixo e busca alimentar-se de coisas que edificam e levam ao crescimento de si mesmas.    

Nossa consciência precisa funcionar como um filtro. Diante de tudo o que eu vejo, leio e ouço, preciso me perguntar se aquilo me edifica ou não, se aquilo contribui para a minha saúde ou para me adoecer mental e emocionalmente; se aquilo que aproxima de Deus ou me distancia d’Ele. O Eclesiástico afirmou que “o fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem” (Eclo 27,7). O fruto do qual estou me alimentando, ao ouvir palavras e ao ver imagens, é um fruto saudável ou doente, estragado, intoxicado? Do quê eu tenho me alimentado nas redes sociais? Eu filtro as palavras e as imagens que todos os dias chegam a mim, ou engulo tudo como se eu fosse um esgoto?

Jesus afirmou que “toda árvore é reconhecida pelos seus frutos” (Lc 6,44). Você só conhece uma pessoa prestando atenção não nas palavras que ela diz, nem na imagem que ela aparenta ou ostenta, mas na maneira como ela se comporta. Você só conhece uma pessoa observando como ela trata os outros, especialmente os mais desfavorecidos; como ela lida com a dor, com a doença, com a perda; como ela lida com o dinheiro, com a sexualidade e com a liberdade. Os antigos diziam que, para conhecermos uma pessoa, precisamos comer um quilo de sal com ela. O sal é comido um pouquinho por dia, no tempero dos alimentos. Portanto, conhecer uma pessoa exige muito tempo... Além disso, as postagens nas redes sociais nunca revelam quem é a pessoa; elas mostram apenas aquilo que a pessoa que mostrar: sua "casca", uma imagem maquiada e não verdadeira de si mesma.  

Por fim, Jesus nos fala da conexão que existe entre nossa boca (palavras) e nosso coração (consciência): “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio” (Lc 6,45). De novo é preciso lembrar: nós não somos produto do meio em que nos encontramos; nós somos produto daquilo que decidimos dizer e fazer, não obstante a influência externa. Antes de uma palavra sair da minha boca, ela precisa passar pela minha consciência: o que eu vou dizer vai edificar alguém? Diante daquilo que os outros estão comentando, a minha opinião vai trazer esclarecimento ou causar mais confusão? Diante de uma discussão, o que vai favorecer o restabelecimento da paz: a minha palavra ou o meu silêncio?

Prestemos atenção ao que falamos no dia a dia. O nosso falar revela como está o nosso coração: se habitado pela paz ou pela guerra; pela esperança ou pelo desespero; por uma vida com sentido ou por uma vazia fútil, vazia, sem sentido... Prestemos atenção a quem estamos seguindo nas redes sociais: essa pessoa tem valores cristãos? Ela tem uma visão profunda ou superficial da vida? Ela me ajuda a enxergar além ou é apenas uma pessoa cega que está me levando para o mesmo buraco em que ela vive? O filtro da minha consciência precisa ser limpo, para que eu não engula sem discernimento alguém tudo o que ouço e vejo? Cada um se alimenta daquilo que tem fome: estou me alimentando de palavras e de imagens que favorecem minha saúde emocional e espiritual ou que alimentam em mim um estilo de vida doentio?  

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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