Missa do 29. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 53,10-11, Hebreus 4,14-16; Marcos 10,35-45.
Ninguém gosta de sentir-se fraco ou
de perder; todos querem sentir-se fortes e vencer. Ninguém gosta de ficar por
último; todos gostam de estar entre os primeiros. O pedido que Tiago e João
fizeram a Jesus – “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando
estiveres na tua glória!” (Mc 10,37) – nos parece bastante sensato e “normal”. Nós
também queremos a vitória e não a derrota, a fama e não o anonimato, o estar em
evidência e não o ser ignorado, sentir-nos grandes e não pequenos.
No entanto, Jesus afirma: “Vocês não
sabem o que estão pedindo” (Mc 10,38). Vocês não entenderam que o que faz a vida
valer a pena não é o poder que vocês podem concentrar nas mãos, mas o serviço
que vocês podem prestar à humanidade. Vocês não entenderam que a realização de
vocês como seres humanos não se dará pela negação das fraquezas de vocês, mas
pelo reconhecimento e aceitação delas, e também pela reconciliação com elas. Além
do mais, a primeira pergunta a ser feita não é se você tem capacidade ou mérito
de alcançar o primeiro lugar, mas se você tem consciência dos desafios que
precisa enfrentar e do processo doloroso de crescimento que deve abraçar, até
que alcance seus objetivos.
O mundo em que vivemos está cada vez
mais exigente. Somos constantemente cobrados quanto ao nosso desempenho. É um
mundo centrado no bem estar individual e no alcançar uma vida garantida pelo
dinheiro, pelo poder e pelo sucesso. Mas isso nunca acontece, porque as metas
são colocadas cada vez mais alto, uma vez que a “máquina” do sistema
competitivo não para, e o lugar ao qual ontem nós conseguimos chegar hoje perdeu
o sentido, e nos é apresentado uma outra meta a alcançar, um outro lugar a
almejar. O que não percebemos é que a constante cobrança por desempenho nos
adoece, porque desrespeita os nossos limites, e aí somos obrigados a tomar
remédios para aguentar o nível de cobrança desumano que nós mesmos nos impomos
ou que a meta do desempenho nos impõe.
Jesus quer nos ajudar a nos libertar desse sistema
de vida que nos adoece constantemente. Ele, que foi “um homem familiarizado com
o sofrimento” (Is 53,3), nos ensina que a vida vale a pena não quando evitamos
sofrer, mas quando temos um motivo para sofrer, e o motivo não pode ser a busca
pela glória, mas a fidelidade a um serviço, à tarefa que nos foi confiada a
partir da nossa própria existência. Todo ser humano que tem uma razão para
viver, que tem uma tarefa a cumprir, uma missão à qual ser fiel, tem um cálice
a beber e um batismo a receber: é o preço pela coerência, o preço por vivermos
de acordo com a fé que professamos e com os valores que dão sentido à nossa
vida, sabendo que “se com Cristo sofremos, com Cristo reinaremos” (2Tm 2,12).
Tão importante quanto nos vermos na
busca por reconhecimento de Tiago e João é nos vermos igualmente na aparente “indignação”
dos outros dez discípulos (cf. Mc 10,41). Essa indignação se chama “projeção”:
aquilo que eu não gosto em mim eu enxergo no outro e critico, rejeito, abomino.
A indignação dos dez discípulos escondia atrás dela o mesmo desejo inconfessado
e não reconhecido de que também eles estavam sendo movidos pelo “desempenho” em
vista do reconhecimento (assentar-se ao lado de Jesus, em sua glória). Sabendo
disso, Jesus alertou os doze discípulos: “entre vocês, não deve ser assim: quem
quiser ser grande, seja servo de vocês; e quem quiser ser o primeiro, seja o
escravo de todos” (Mc 10,43-44).
“Entre vocês – Igreja – não deve ser
assim”. A Igreja não pode adoecer junto com o mundo, buscando autoglorificação
e afastando-se da imensa multidão de pessoas ignoradas por não ocuparem os lugares
de destaque neste mundo onde quem pode mais chora menos. A Igreja não existe
para ser reverenciada pelo mundo, mas para fazer como Jesus: colocar-se a
serviço dos que não são vistos como importantes e necessários, exatamente
daqueles que ficam para trás nesta corrida insana por lugares de destaque.
Jesus deixou claro que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida como resgate para muitos” (Mc 10,45). Não caiamos na armadilha de querer ocupar
um lugar de poder e de dominação sobre os outros. Isso, além de custar a nossa
saúde física e emocional, e de fazer perder a nossa alma diante de Deus, se
tornará uma constante fonte de vazio e de frustração.
Ouçamos
a nossa consciência; detectemos o serviço que a vida está nos pedindo para abraçar
neste momento; peçamos ao Espírito Santo que nos descontamine do espírito de
ambição e de poder e revele a cada um de nós o seu próprio “para isso eu vim”;
é este serviço que me realiza e enche de sentido a minha vida; é ele que me faz
encarar com realismo e serenidade espiritual o cálice que sou chamado a beber e
o batismo que sou chamado a receber, à semelhança de Jesus.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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