Missa
do 13. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 1,13-15; 2,23-24; 2Coríntios
8,7.9.13-15; Marcos 5,21-43.
A
pandemia da Covid 19 impôs o distanciamento entre as pessoas. Enquanto a vacina
não chegar a todos, o distanciamento e o uso de máscaras serão necessários para
salvar vidas – a nossa e a dos outros. Essa imagem do distanciamento, do não
poder aproximar-se e do não poder tocar nas pessoas, contrasta com a cena do
Evangelho de hoje: Jesus se encontra comprimido por uma multidão, enquanto
caminha para a casa de Jairo, a fim de curar sua filha que está gravemente
enferma.
“Ora,
achava-se ali (no meio daquela aglomeração onde era praticamente impossível
chegar perto de Jesus) uma mulher que, há doze anos, estava com uma hemorragia”
(Mc 5,25). Recorrendo às poucas forças que ainda possuía, ela conseguiu passar
pelo meio da multidão e aproximar-se de Jesus, por trás. Seu gesto foi tocar na
sua roupa: “Ela pensava: ‘Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada’.
A hemorragia parou imediatamente, e a mulher sentiu dentro de si que estava
curada da doença” (Mc 5,28-29). Qual é a hemorragia que está fazendo morrer meu
relacionamento, minha família, meu filho? Qual é a hemorragia que hoje tinge de
vermelho (de sangue) a bandeira do Brasil? Qual é a hemorragia que está
esgotando minha fé e minha esperança?
Há
um contraste entre esta mulher e a multidão que comprime Jesus. Muitos
conseguem chegar bem perto dele e tocá-lo, mas somente esta mulher é curada!
Por que? Por causa da sua fé! Não se trata do toque físico. Não se trata de
estar perto fisicamente de Jesus e de pedir que ele toque em nós. Quantos de
nós não apenas temos o privilégio de estar “perto” de Jesus participando de uma
celebração eucarística e, inclusive, de receber seu Corpo na Eucaristia!? Nem
por isso somos curados! Não foi o tocar na roupa de Jesus que curou aquela
mulher, mas sua fé! Podemos estar dentro da Igreja e não ter fé. Podemos ouvir
o Evangelho e comungar Jesus na Eucaristia e não ter fé!
Quando
aquela mulher tocou na roupa de Jesus, “Jesus logo percebeu que uma força tinha
saído dele” (Mc 5,30) e quis saber quem o havia tocado. Os discípulos acharam a
pergunta de Jesus absurda! Uma multidão o comprimia! Muitos estavam tocando
nele! Sim, muitos, mas ninguém com aquela fé que levou a mulher a atravessar a
multidão e tocar na roupa de Jesus com a certeza de bastava aquilo para que
ficasse curada. Quanto, então, a mulher se revela, Jesus lhe diz: “Filha, a tua
fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença” (Mc 5,34). Não é Jesus quem
nos cura, mas a nossa fé nele! “Minha fé é minha mão para tocar em Deus”. Sem
fé, ainda que pudéssemos tocar fisicamente em Jesus, isso de nada nos valeria.
Mas a fé, quando verdadeira, dispensa o toque físico; ela se torna uma mão que
se estende o suficiente para alcançar Deus, e para receber d’Ele a vida!
Contudo,
a morte não se dá por vencida! Ela insiste em se impor. Na mesma hora em que
Jesus está falando com aquela mulher, chegam alguns trazendo a triste notícia a
Jairo: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?” (Mc 5,35). Também
para nós, as notícias a respeito da morte não param de chegar. Tornou-se comum
entrar em nossas redes sociais e vermos a palavra “Luto”: “luto pai”, “luto
mãe”, “luto irmão”, “luto avó”, “luto amigo” etc. A morte não desiste de ser
notícia diária em nosso País, causada pela Covid, pelo câncer, por acidentes,
por suicídio, pela violência, por inúmeras outras doenças etc.
“Jesus
ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: ‘Não tenhas medo. Basta ter fé!’”
(Mc 5,36). A muitos de nós, tomados de angústia, de medo ou de pânico perante a
morte que todos os dias se mostra muito perto de nós, Jesus aconselha: “Não se
deixe morrer por dentro. Mantenha sua fé viva!”. Mas como podemos manter nossa
fé viva quando a dor da morte nos atinge de tantas maneiras? Tendo em nosso
coração uma certeza: “Deus não fez a morte, nem tem prazer com a destruição dos
vivos” (Sb 1,13). Ainda que muitas mortes aconteçam em nosso País devido às
injustiças sociais, devemos ter a certeza de que “a justiça (de Deus) é
imortal” (Sb 1,15). Essa justiça se manifestará na ressurreição (cf. Dn 12,2;
Jo 5,28-29), onde cada um será julgado se trabalhou em favor a vida ou em favor
da morte, no mundo ao seu redor.
Enfim,
o livro da Sabedoria nos faz uma revelação importante: “Foi por inveja do diabo
que a morte entrou no mundo, e experimentam-na os que a ele pertencem” (Sb
2,24). Muitas mortes não acontecem de maneira natural, mas são programadas e
facilitadas para que aconteçam. Quando, num contexto de pandemia, pessoas incentivam
a aglomeração, fazem campanha contra o uso de máscara, divulgam informações
falsas e negam a ciência, elas estão colaborando com o diabo, autor da morte. Embora
muitas delas se consideram cristãs, suas atitudes facilitam a disseminação da
morte.
Porque
Deus ama a vida, enviou seu Filho ao mundo para que tenhamos vida em plenitude
(cf. Jo 10,10). Cada milagre de Jesus testemunha que Ele veio não somente nos comunicar
vida, mas, sobretudo, nos dar a vida eterna. Desse modo, ao entrar na casa de
Jairo, Jesus se dirige ao quarto onde estava a criança morta, pega em sua mão e
lhe diz: “Menina, levante-se!” (Mc 5,41). “Ela levantou-se imediatamente e
começou a andar, pois tinha doze anos. E todos ficaram admirados” (Mc 5,42). Se
é verdade que nossa fé é nossa mão para tocar em Deus, Jesus nos toma pela mão
e nos diz: “Levante-se!” Levante-se do seu mundo fechado no individualismo e
trabalhe pela vida; defenda a vida e não se dê por vencido(a) diante da morte.
Busque-me com sua fé! Eu te levanto para que trabalhemos juntos pela defesa da
vida!
Oração: Senhor Jesus, eu me encontro
em meio a uma multidão de pessoas feridas, desorientadas, cansadas, sedentas de
vida. Há uma hemorragia em mim, adoecendo-me, sugando minhas forças e
aproximando-me da morte. Não consigo estancar essa hemorragia que provoca
anemia na minha família, na vida dos meus filhos, no meu ambiente de trabalho,
na Igreja e na política de vários países do mundo. Eu preciso de fé, Senhor!
Preciso que minha fé se fortaleça e me aproxime de Ti, do teu amor que tudo
pode curar. Permita-me tocar em Ti com minha fé e receber a graça da cura, da
libertação, da transformação que eu tanto necessito. Estende tua mão sobre
nossas famílias, nossas cidades, nosso País e levanta-nos! Tira-nos da
prostração diante da tristeza, do pessimismo e da morte e levanta-nos pela graça
do teu Santo Espírito, para que possamos trabalhar em favor da vida e da
esperança. Amém!
Pe. Paulo Cezar
Mazzi