sexta-feira, 4 de junho de 2021

TRÊS INDICAÇÕES IMPORTANTES PARA A NOSSA VIDA

 Missa do 10. Dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 3,9-15; 2Cor 4,13-18 – 5,1; Marcos 3,20-35.

             Os textos bíblicos desta celebração nos trazem temas distintos, os quais contêm indicações importantes para a nossa vida. O primeiro tema – o pecado – nos oferece pistas sobre como podemos recuperar a nossa liberdade, de forma que o pecado não domine sobre nós. O segundo tema nos coloca diante de dois opostos: o visível e o invisível, o exterior e o interior, e nos recorda que “o essencial é invisível para os olhos” (Exupéry). O terceiro tema – a liberdade de Jesus diante das pessoas e a fidelidade à sua própria verdade – nos coloca uma pergunta: O que é mais importante: agradar as pessoas ou ser uma pessoa autêntica?

        1. A dinâmica do pecado e a compreensão errada de “liberdade” – Ao criar o ser humano, Deus lhe concedeu algo sagrado e precioso: a sua liberdade de escolha. No entanto, o ser humano tem a tendência de compreender a liberdade como: “Posso fazer tudo o que quero”. “Sim!”, responde o apóstolo Paulo, “Posso fazer tudo o que quero, mas nem tudo me convém. Posso fazer tudo o que quero, mas não me deixarei escravizar por coisa alguma” (1Cor 6,12). Em nome da liberdade, algumas pessoas prejudicam a si mesmas, ao meio ambiente e aos outros. Ao fazerem uso da sua liberdade, elas não se dão ao trabalho de refletir se aquilo “convém” à sua saúde, à sua alma, ao seu espírito, ao seu relacionamento, ao meio ambiente ou à humanidade. É uma liberdade separada da responsabilidade.

Todos querem ser livres, mas são poucos os que aceitam responsabilizar-se pelas escolhas que fazem na vida. Quando eu escolho algo, necessariamente tenho que rejeitar aquilo que é oposto ao que escolhi. Quando eu digo “sim” a alguma coisa, necessariamente tenho que dizer “não” àquilo que pode vir a destruir o que eu escolhi. E aí está o problema: pessoas imaturas não sabem dizer “não” a si mesmas e não aceitam que a vida lhes diga “não”. É próprio da geração moderna não escolher, não decidir, não assumir responsabilidades, mas a vida nos confronta o tempo todo com essa necessidade. A vida exige de nós escolhas, decisões, responsabilidade. São essas atitudes que nos fazem amadurecer como seres humanos e entender que não existe liberdade sem responsabilidade. Portanto, o pecado não consiste em simplesmente desobedecer a Deus, mas em sabotar-se como ser humano, em agir instintivamente, “reagindo” ao que lhe afeta e não se dando ao trabalho de refletir e de escolher que “resposta” você dará ao que está sentindo, ao que está afetando sua vida neste momento. 

2. Preocupa-nos mais como estamos por fora do que o que somos por dentro. Todos nós somos filhos do nosso tempo; todos sofremos as influências de uma sociedade onde a imagem é tudo e o conteúdo não importa. Não percebemos a grande contradição que é o nosso mundo: ao mesmo tempo em que se valoriza o corpo, os exercícios físicos, a alimentação saudável, o conforto e o bem-estar, nunca o ser humano esteve tão doente como hoje; doente no corpo, na alma e no espírito. Quantos de nós ainda estão conseguindo lidar com a vida sem tomar algum tipo de medicamento? Como afirmou o Papa Francisco, “não podemos pretender ser pessoas saudáveis num mundo doente como o nosso”.

A fonte do nosso adoecimento está na inversão de valores: cuidamos do externo e descuidamos do interno. Nos angustiamos com o fato de que exteriormente vamos declinando a cada dia – ninguém escapa disso! – ao invés de valorizarmos o nosso amadurecimento, a superação de atitudes infantis, a libertação de ideias, sentimentos e atitudes que nos atrapalham no responder ao que a vida está nos pedindo neste momento. Desperdiçamos energia lamentando aquilo que morre em nós a cada dia, ao invés de orientar essa mesma energia para gerar uma vida que tenha mais sentido, mais conteúdo, mais verdade, mais essência. Esquecemos de que, enquanto a nossa “tenda” (vida provisória) se desmancha com o passar do tempo, a nossa “casa” (vida eterna) está sendo preparada por Deus. É preciso colocar em ordem nossos valores, relativizando aquilo que é relativo e absolutizando aquilo que é absoluto.

3. O que é mais importante: agradar as pessoas ou ser autêntico(a)? Jesus era uma pessoa absolutamente livre das expectativas dos outros, das cobranças do mundo e das críticas que lhe faziam. Ele movia-se por convicções internas, não por pressões externas. Para Ele, ser um homem autêntico sempre foi muito mais importante do que agradar as pessoas que vinham procurá-Lo. O problema é que isso tem um preço: o preço do anonimato, o preço de uma certa solidão, o preço de ser ignorado pela maioria, o preço de não constar entre as 20 pessoas mais influentes do mundo, ou de nunca estar entre os 10 vídeos mais visualizados no Youtube.

Por ser uma pessoa autêntica, Jesus foi chamado de “louco” pelos seus próprios familiares, e de “possuído pelo demônio” pelos mestres da Lei religiosa de sua época. O quanto você é livre diante das expectativas das pessoas? O quanto você adoece e se anula para agradar as pessoas à sua volta? O quanto você se esgota e “se mata” na esperança de ganhar algum reconhecimento ou algum afeto de quem está à sua volta?

Muitas pessoas estão adoecendo por estarem sobrecarregadas, por carregarem fardos que não são delas, mas que aceitaram carregar para agradar os outros, para não dizerem “não” aos outros, com medo de perder o afeto deles. Jesus nos ensina que o mais importante na vida é você escutar a voz de Deus em seu interior e compreender qual tarefa a vida está lhe pedindo para realizar neste momento. Para ser fiel à tarefa que era sua, Jesus não teve receio de entrar em conflito com sua família e não permitiu ser rotulado pelos mestres da Lei de “homem possuído pelo demônio”. Aliás, é muito interessante constatar que o mesmo mundo que nos adoece tem a pretensão de nos dizer o que é ser saudável! O mesmo mundo que nos atormenta com os inúmeros demônios que inventa quer nos vender fórmulas mágicas de exorcismo!

Cada um de nós precisa aprender com Jesus a distanciar-se do barulho exterior e a ouvir o próprio interior. Cada um de nós pode aprender com Jesus a se desfazer de pesos que não nos cabem carregar e de tarefas que não nos competem, porque são responsabilidade dos outros. Cada um de nós pode aprender com Jesus a “fazer a vontade do Pai”, e a vontade do Pai não é que adoeçamos, que enlouqueçamos e nos desumanizemos; pelo contrário, o Pai quer que sejamos pessoas autênticas, verdadeiras consigo mesmas, pessoas que não se permitam ser adoecidas ou atormentadas por pressões e cobranças de um mundo que vive um estilo de vida doentio e escravo do espírito do mal.

 Pe. Paulo Cezar Mazzi

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