Missa do 10. Dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 3,9-15; 2Cor 4,13-18 – 5,1; Marcos 3,20-35.
Todos
querem ser livres, mas são poucos os que aceitam responsabilizar-se pelas
escolhas que fazem na vida. Quando eu escolho algo, necessariamente tenho que
rejeitar aquilo que é oposto ao que escolhi. Quando eu digo “sim” a alguma
coisa, necessariamente tenho que dizer “não” àquilo que pode vir a destruir o
que eu escolhi. E aí está o problema: pessoas imaturas não sabem dizer “não” a
si mesmas e não aceitam que a vida lhes diga “não”. É próprio da geração
moderna não escolher, não decidir, não assumir responsabilidades, mas a vida
nos confronta o tempo todo com essa necessidade. A vida exige de nós escolhas,
decisões, responsabilidade. São essas atitudes que nos fazem amadurecer como
seres humanos e entender que não existe liberdade sem responsabilidade.
Portanto, o pecado não consiste em simplesmente desobedecer a Deus, mas em
sabotar-se como ser humano, em agir instintivamente, “reagindo” ao que lhe
afeta e não se dando ao trabalho de refletir e de escolher que “resposta” você
dará ao que está sentindo, ao que está afetando sua vida neste momento.
2. Preocupa-nos mais como estamos por fora do que o que somos por dentro. Todos nós somos filhos do nosso tempo; todos sofremos as influências de uma sociedade onde a imagem é tudo e o conteúdo não importa. Não percebemos a grande contradição que é o nosso mundo: ao mesmo tempo em que se valoriza o corpo, os exercícios físicos, a alimentação saudável, o conforto e o bem-estar, nunca o ser humano esteve tão doente como hoje; doente no corpo, na alma e no espírito. Quantos de nós ainda estão conseguindo lidar com a vida sem tomar algum tipo de medicamento? Como afirmou o Papa Francisco, “não podemos pretender ser pessoas saudáveis num mundo doente como o nosso”.
A
fonte do nosso adoecimento está na inversão de valores: cuidamos do externo e
descuidamos do interno. Nos angustiamos com o fato de que exteriormente vamos
declinando a cada dia – ninguém escapa disso! – ao invés de valorizarmos o
nosso amadurecimento, a superação de atitudes infantis, a libertação de ideias,
sentimentos e atitudes que nos atrapalham no responder ao que a vida está nos
pedindo neste momento. Desperdiçamos energia lamentando aquilo que morre em nós
a cada dia, ao invés de orientar essa mesma energia para gerar uma vida que
tenha mais sentido, mais conteúdo, mais verdade, mais essência. Esquecemos de
que, enquanto a nossa “tenda” (vida provisória) se desmancha com o passar do
tempo, a nossa “casa” (vida eterna) está sendo preparada por Deus. É preciso
colocar em ordem nossos valores, relativizando aquilo que é relativo e
absolutizando aquilo que é absoluto.
3. O que é mais importante: agradar as pessoas ou ser autêntico(a)? Jesus era uma pessoa absolutamente livre das expectativas dos outros, das cobranças do mundo e das críticas que lhe faziam. Ele movia-se por convicções internas, não por pressões externas. Para Ele, ser um homem autêntico sempre foi muito mais importante do que agradar as pessoas que vinham procurá-Lo. O problema é que isso tem um preço: o preço do anonimato, o preço de uma certa solidão, o preço de ser ignorado pela maioria, o preço de não constar entre as 20 pessoas mais influentes do mundo, ou de nunca estar entre os 10 vídeos mais visualizados no Youtube.
Por
ser uma pessoa autêntica, Jesus foi chamado de “louco” pelos seus próprios
familiares, e de “possuído pelo demônio” pelos mestres da Lei religiosa de sua
época. O quanto você é livre diante das expectativas das pessoas? O quanto você
adoece e se anula para agradar as pessoas à sua volta? O quanto você se esgota
e “se mata” na esperança de ganhar algum reconhecimento ou algum afeto de quem
está à sua volta?
Muitas
pessoas estão adoecendo por estarem sobrecarregadas, por carregarem fardos que
não são delas, mas que aceitaram carregar para agradar os outros, para não
dizerem “não” aos outros, com medo de perder o afeto deles. Jesus nos ensina
que o mais importante na vida é você escutar a voz de Deus em seu interior e
compreender qual tarefa a vida está lhe pedindo para realizar neste momento. Para
ser fiel à tarefa que era sua, Jesus não teve receio de entrar em conflito com
sua família e não permitiu ser rotulado pelos mestres da Lei de “homem possuído
pelo demônio”. Aliás, é muito interessante constatar que o mesmo mundo que nos
adoece tem a pretensão de nos dizer o que é ser saudável! O mesmo mundo que nos
atormenta com os inúmeros demônios que inventa quer nos vender fórmulas mágicas
de exorcismo!
Cada
um de nós precisa aprender com Jesus a distanciar-se do barulho exterior e a
ouvir o próprio interior. Cada um de nós pode aprender com Jesus a se desfazer
de pesos que não nos cabem carregar e de tarefas que não nos competem, porque
são responsabilidade dos outros. Cada um de nós pode aprender com Jesus a “fazer
a vontade do Pai”, e a vontade do Pai não é que adoeçamos, que enlouqueçamos e
nos desumanizemos; pelo contrário, o Pai quer que sejamos pessoas
autênticas, verdadeiras consigo mesmas, pessoas que não se permitam ser
adoecidas ou atormentadas por pressões e cobranças de um mundo que vive um
estilo de vida doentio e escravo do espírito do mal.
Verdade.
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