Missa do domingo de Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34a.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9
A
morte pode nos atingir de várias maneiras, a partir de fora, mas o problema é
quando nós nos deixamos morrer a partir de dentro. Algumas pessoas, depois de
serem atingidas por algum tipo de morte, reagiram e decidiram ressuscitar, enquanto
outras se entregaram e se deixaram morrer. Ainda assim, existe uma palavra de
esperança também para quem desistiu de viver: “Quer vivamos, quer morramos,
pertencemos ao Senhor, pois foi para isto que Cristo ressuscitou, para ser o Senhor
dos mortos e dos vivos!” (Rm 14,8). Quer eu me sinta vivo, quer eu me sinta
morto, eu pertenço ao Senhor Jesus, cujas mãos me amparam, me possibilitam
fazer a Páscoa e me conduzem no caminho para a Vida.
A Vigília
Pascal ontem nos lembrava de que “nunca houve noite que pudesse impedir o
nascer do sol e a esperança”. Isso significa que não há situação que Deus não
possa mudar. Crer em Deus não nos impede de morrer, nem de ficarmos doentes, ou
de perdermos o emprego, de sofrermos um acidente, de perdermos alguém que
amamos, de experimentarmos quedas, fraquezas ou fracassos em nossa trajetória
de vida. Mas a nossa fé é chamada a se lançar para além desta vida terrena: “Se
temos esperança em Cristo (ressuscitado) somente para esta vida, somos os mais
dignos de compaixão de todos os homens” (1Cor 15,19). Se a nossa fé no Cristo
ressuscitado serve de esperança somente para as coisas presentes nós não
entendemos nada a respeito da ressurreição, uma vez que ela diz respeito à
verdadeira Vida, à vida eterna.
Justamente
por isso, o apóstolo Paulo nos convida a nos esforçar por “alcançar as coisas
do alto, onde Cristo está” (Cl 3,1-2). Viver como ressuscitados, ou como filhos
destinados à ressurreição, exige de nós um esforço diário para não reduzir
nossas esperanças às promessas mundanas de felicidade. Esse esforço se torna
maior ainda quando tomamos consciência de que a nossa vida de ressuscitados
“está escondida com Cristo, em Deus” (Cl 3,3). “Vida escondida” significa que a
nossa fé na ressurreição de Cristo e na nossa própria ressurreição não vai
retirar do caminho da nossa vida todas as dificuldades, mas vai nos dar a
certeza de que nós seremos unidos ao triunfo de Cristo sobre todo tipo de dor,
de fracasso e de morte. “Deus, que ressuscitou o Senhor,
também nos ressuscitará a nós pelo seu poder” (1Cor
6,14). Ressuscitando Jesus, Deus nos deu a esperança da vida eterna, e Deus não
mente (cf. Tt 1,1-2)!
A fé no Cristo ressuscitado nunca poderá se
transformar em blindagem, isto é, em proteção absoluta contra a dor, o
sofrimento e a morte, mas como garantia de vitória contra tudo aquilo que hoje
fere a nossa vida e a vida da humanidade. Mais uma vez é o apóstolo Paulo quem
nos ajuda a compreender isso: “conhecer o poder da sua ressurreição e a
participação nos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para
ver se alcanço a ressurreição de entre os mortos” (Fl 3,10-11). O discípulo se
configura primeiro ao Crucificado para depois se configurar ao Ressuscitado! Assim
como a vida que está escondida dentro da semente só desabrocha quando ela
morre, ou seja, é enterrada, assim também a nossa ressurreição só se dará a
partir da nossa própria morte.
Uma
pessoa que crê no Cristo ressuscitado não está revestida de glória aqui e
agora; pelo contrário, ela é chamada a não comungar, não compactuar com aquilo
que no mundo produz injustiça e cruz, e saber que sua vida de pessoa
ressuscitada está “escondida com Cristo em Deus”, da mesma forma que uma
semente carrega escondida dentro de si a vida de uma grande árvore capaz de
produzir inúmeros frutos. Como aconteceu com Cristo, assim acontecerá com
aqueles que creem na Sua ressurreição: “semeado mortal, o corpo ressuscita
imortal; semeado desprezível, ressuscita cheio de glória; semeado na fraqueza,
ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual”
(1Cor 15,43-44).
O
Tempo Pascal que se inicia hoje nos convida a fazer como Jesus: “ele andou por
toda a parte fazendo o bem” (At 10,38). Onde quer que estejamos, devemos ter um
comportamento pascal, como nos ensina o apóstolo João: “Nós sabemos que
passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama seu irmão permanece
na morte” (1Jo 3,14). Amar não é um sentimento, mas uma atitude, uma decisão:
fazer para o outro aquilo que você gostaria que ele fizesse para você. Como
Jesus, tomemos a iniciativa de amar, de fazer o bem, de semear sementes de
ressurreição onde quer que a vida nos coloque. Que a nossa vida se torne um anúncio
vivo do Ressuscitado!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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