quinta-feira, 22 de abril de 2021

A QUEM VOCÊ SEGUE NAS REDES SOCIAIS?

 Missa do 4. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 4,8-12; 1João 3,1-2; João 10,11-18.

 

            Nas redes sociais (Youtube, Instagram, Facebook, Twitter) existem SEGUIDORES. Por exemplo, o Youtuber Felipe Neto tem 40 milhões de seguidores no seu canal no Youtube; Bolsonaro tem 39,9 milhões de seguidores nas suas redes sociais; Leandro Karnal tem 5 milhões de seguidores; a cantora Anitta tem 50 milhões de seguidores no Instagram...

Quantos seguidores você tem? Quem você segue nas redes sociais? Essas duas perguntas são importantes para nos aproximarem do Evangelho de hoje, no qual Jesus se apresenta como bom Pastor e se refere a nós como ovelhas do seu rebanho. As imagens do Pastor e das ovelhas são estranhas para a maioria das pessoas do nosso tempo, que vive numa cultura urbana e tecnológica, e não mais rural.

Ninguém gosta de ser retratado como ovelha, porque o termo lembra alguém que é domesticado, controlado, mandado por outros. No entanto, como nos lembra o Pe. Adroaldo, são muitas as pessoas que hoje se comportam como “gado”. “Sem uma visão crítica, deixam-se levar e vão aonde todos vão: ‘pastam’ nos campos envenenados das ‘fake-news’, aceitam que ‘falsos messias’ (seja no campo político ou religioso) controlem suas vidas... As redes sociais estão aí para demonstrar as atitudes alienadas do ‘rebanho’ que se transforma em ‘massa de manobra’, onde é proibido ‘pensar, sentir e amar’ de maneira diferente”.

“Pastam em campos envenenados”; “seguem falsos messias”; admiram pessoas que têm atitudes contrárias ao Evangelho e propagam contravalores; acham-se pessoas que enxergam, quando, na verdade, são cegos que se deixam guiar por outros cegos. Por isso, é importante perguntar novamente: Quem você segue nas redes sociais? Quem seu filho segue? Quem são as pessoas que mais têm seguidores hoje nas redes sociais? Elas são exatamente os pastores dos tempos atuais e aqueles que as seguem são suas ovelhas; quando não, seu gado!

Se a humanidade é um imenso rebanho disperso, dentro do qual muitas pessoas vivem desorientadas, isso se deve, em primeiro lugar, a uma crise de liderança confiável, a um compreensível desencanto com os líderes do nosso tempo, sejam eles políticos ou religiosos. Quantos líderes aparentavam ser bons pastores, mas se revelaram com o tempo verdadeiros mercenários? Enquanto o bom pastor tem como centro de interesse o bem das suas ovelhas, o mercenário tem como centro de interesse o dinheiro, o lucro que ele pode ter, sacrificando algumas das suas ovelhas, se preciso for.  

O dinheiro e o poder corrompem toda e qualquer liderança. Mas não é só isso que faz com que o rebanho chamado “humanidade” esteja perdido como está, nos tempos atuais, sem referências confiáveis de líderes que sejam bons pastores. A degradação de um pastor em um mercenário também se dá conosco, ovelhas. Quem de nós resiste à sedução do dinheiro? Quem de nós aceita arriscar a vida para enfrentar os lobos do nosso tempo: os traficantes, as milícias, os juízes e os policiais corruptos, os políticos que não têm escrúpulos em mandar matar seus críticos?

Até mesmo dentro do “rebanho” católico, hoje encontramos uma nova modalidade de “ovelhas”: as ovelhas mercenárias! São ovelhas que acreditam terem o poder de “domesticar” a Igreja por meio do dinheiro. Se a Igreja diz algo com o qual elas não concordam ou se não celebra a missa conforme elas exigem, fazem campanha nas redes sociais para boicotar o dízimo e as ofertas. São ovelhas diabólicas, que exigem uma Igreja domesticada, pastores domesticados, um Evangelho domesticado, um Jesus domesticado para atender aos seus interesses de católicos “conservadores”, “tradicionalistas”, “de direita”, defensores da “tradição, família e propriedade”, a antiga (ou ainda atual?) TFP!

Jesus não é apenas um bom pastor e meio a outros bons pastores. “Em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos” (At 4,12). Para nós, cristãos, Jesus é o único bom Pastor. Todo pastor – líder – que não se configura a Ele não passa de um mercenário: lidera não por amor, mas por interesse financeiro. Assim sendo, é um líder incapaz de dar sua vida pelo rebanho. Seu bem-estar e sua sobrevivência falarão sempre mais alto nele do que as necessidades das suas ovelhas.

“Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem” (Jo 10,14). Jesus conhece suas ovelhas porque escolheu viver onde elas vivem e se deixou afetar por aquilo que afeta diretamente a vida de suas ovelhas. A grande tragédia de muitas igrejas ou paróquias é o distanciamento entre o pastor e seu rebanho. O pastor mora no centro; suas ovelhas, na periferia. O pastor tem um nível de vida razoável; muitas das suas ovelhas não têm o básico para sobreviver. O pastor tem uma vida poupada de inúmeros sofrimentos; suas ovelhas vivem expostas à violência, à falta de dinheiro, lidando com conflitos em casa e no trabalho, angustiadas com seus filhos envolvidos com as drogas etc. Esse distanciamento faz com que as palavras do pastor nada tenham a dizer às suas ovelhas, de modo que, naturalmente, elas acabem indo atrás de outras referências de pastor...

“Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16). Assim como no passado a missão de Jesus não se limitou ao povo judeu (cf. Jo 11,52.54), assim hoje ela não se limite à Igreja Católica, pois Jesus é o Salvador do mundo (cf. Jo 4,42)! Sua morte e ressurreição o constituiu fonte de vida única e perene para todos: “Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). Jesus não é propriedade de nenhuma igreja e jamais se deixaria “domesticar” por alguma! Nossa responsabilidade como ovelhas do seu rebanho é torná-lo conhecido, de tal modo que as pessoas do nosso tempo se identifiquem com sua voz e encontrem nele a orientação que procuram. 

A pandemia provocou uma profunda fragmentação no rebanho que é a humanidade. Desde março do ano passado, os rebanhos das igrejas foram dispersos e muitas ovelhas (sobretudo crianças, adolescentes e jovens) não retornaram para o “redil” (rebanho). O mundo mudou e não voltará mais a ser o mesmo, depois da pandemia. Neste sentido, somos desafiados pelo Pai a encontrar formas de fazer com que a voz de seu Filho chegue àqueles que se habituaram a não frequentar mais nossas igrejas e que continuam a ser objeto de procura e de busca do bom Pastor, pois Ele mesmo afirmou: “também a elas devo conduzir”. Não esperemos pela volta espontânea dessas ovelhas. Isso não acontecerá. Somos nós que temos que encontrar formas de nos tornar próximos delas, por fidelidade ao Pastor que nos chamou não somente a segui-lo, mas a nos tornar seus discípulos e a nos configurar a Ele, o bom Pastor.  

 Oração (cf. Sl 119,169-176)

“Que meu grito chegue à tua presença, Senhor, dá-me discernimento nas minhas escolhas e decisões. Que minha súplica chegue à tua presença, liberta-me, conforme tua promessa! Que a tua mão venha socorrer-me, protegendo-me dos mercenários e dos lobos do mundo atual. Desejo tua salvação, Senhor! Que eu possa viver para te louvar e tua Palavra venha dar direção à minha vida. Eu me desvio como ovelha perdida: vem procurar o teu servo!”

Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário