Missa do 4. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 4,8-12; 1João 3,1-2; João 10,11-18.
Nas redes sociais (Youtube,
Instagram, Facebook, Twitter) existem SEGUIDORES. Por exemplo, o Youtuber
Felipe Neto tem 40 milhões de seguidores no seu canal no Youtube; Bolsonaro tem
39,9 milhões de seguidores nas suas redes sociais; Leandro Karnal tem 5 milhões
de seguidores; a cantora Anitta tem 50 milhões de seguidores no Instagram...
Quantos
seguidores você tem? Quem você segue nas redes sociais? Essas duas perguntas
são importantes para nos aproximarem do Evangelho de hoje, no qual Jesus se
apresenta como bom Pastor e se refere a nós como ovelhas do seu rebanho. As
imagens do Pastor e das ovelhas são estranhas para a maioria das pessoas do
nosso tempo, que vive numa cultura urbana e tecnológica, e não mais rural.
Ninguém
gosta de ser retratado como ovelha, porque o termo lembra alguém que é
domesticado, controlado, mandado por outros. No entanto, como nos lembra o Pe.
Adroaldo, são muitas as pessoas que hoje se comportam como “gado”. “Sem uma
visão crítica, deixam-se levar e vão aonde todos vão: ‘pastam’ nos campos
envenenados das ‘fake-news’, aceitam que ‘falsos messias’ (seja no campo
político ou religioso) controlem suas vidas... As redes sociais estão aí para
demonstrar as atitudes alienadas do ‘rebanho’ que se transforma em ‘massa de
manobra’, onde é proibido ‘pensar, sentir e amar’ de maneira diferente”.
“Pastam
em campos envenenados”; “seguem falsos messias”; admiram pessoas que têm
atitudes contrárias ao Evangelho e propagam contravalores; acham-se pessoas que
enxergam, quando, na verdade, são cegos que se deixam guiar por outros cegos.
Por isso, é importante perguntar novamente: Quem você segue nas redes sociais?
Quem seu filho segue? Quem são as pessoas que mais têm seguidores hoje nas
redes sociais? Elas são exatamente os pastores dos tempos atuais e aqueles que
as seguem são suas ovelhas; quando não, seu gado!
Se a
humanidade é um imenso rebanho disperso, dentro do qual muitas pessoas vivem
desorientadas, isso se deve, em primeiro lugar, a uma crise de liderança
confiável, a um compreensível desencanto com os líderes do nosso tempo, sejam
eles políticos ou religiosos. Quantos líderes aparentavam ser bons pastores, mas
se revelaram com o tempo verdadeiros mercenários? Enquanto o bom pastor tem
como centro de interesse o bem das suas ovelhas, o mercenário tem como centro
de interesse o dinheiro, o lucro que ele pode ter, sacrificando algumas das
suas ovelhas, se preciso for.
O
dinheiro e o poder corrompem toda e qualquer liderança. Mas não é só isso que
faz com que o rebanho chamado “humanidade” esteja perdido como está, nos tempos
atuais, sem referências confiáveis de líderes que sejam bons pastores. A
degradação de um pastor em um mercenário também se dá conosco, ovelhas. Quem de
nós resiste à sedução do dinheiro? Quem de nós aceita arriscar a vida para
enfrentar os lobos do nosso tempo: os traficantes, as milícias, os juízes e os
policiais corruptos, os políticos que não têm escrúpulos em mandar matar seus
críticos?
Até
mesmo dentro do “rebanho” católico, hoje encontramos uma nova modalidade de
“ovelhas”: as ovelhas mercenárias! São ovelhas que acreditam terem o poder de “domesticar”
a Igreja por meio do dinheiro. Se a Igreja diz algo com o qual elas não
concordam ou se não celebra a missa conforme elas exigem, fazem campanha nas
redes sociais para boicotar o dízimo e as ofertas. São ovelhas diabólicas, que
exigem uma Igreja domesticada, pastores domesticados, um Evangelho domesticado,
um Jesus domesticado para atender aos seus interesses de católicos
“conservadores”, “tradicionalistas”, “de direita”, defensores da “tradição,
família e propriedade”, a antiga (ou ainda atual?) TFP!
Jesus
não é apenas um bom pastor e meio a outros bons pastores. “Em
nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado aos
homens pelo qual possamos ser salvos” (At 4,12). Para nós, cristãos, Jesus é o
único bom Pastor. Todo pastor – líder – que não se configura a Ele não passa de
um mercenário: lidera não por amor, mas por interesse financeiro. Assim sendo,
é um líder incapaz de dar sua vida pelo rebanho. Seu bem-estar e sua
sobrevivência falarão sempre mais alto nele do que as necessidades das suas
ovelhas.
“Eu
sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem” (Jo 10,14).
Jesus conhece suas ovelhas porque escolheu viver onde elas vivem e se
deixou afetar por aquilo que afeta diretamente a vida de suas ovelhas. A grande
tragédia de muitas igrejas ou paróquias é o distanciamento entre o pastor e seu
rebanho. O pastor mora no centro; suas ovelhas, na periferia. O pastor tem um
nível de vida razoável; muitas das suas ovelhas não têm o básico para
sobreviver. O pastor tem uma vida poupada de inúmeros sofrimentos; suas ovelhas
vivem expostas à violência, à falta de dinheiro, lidando com conflitos em casa
e no trabalho, angustiadas com seus filhos envolvidos com as drogas etc. Esse
distanciamento faz com que as palavras do pastor nada tenham a dizer às suas
ovelhas, de modo que, naturalmente, elas acabem indo atrás de outras
referências de pastor...
“Tenho
ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir;
escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16). Assim
como no passado a missão de Jesus não se limitou ao povo judeu (cf. Jo
11,52.54), assim hoje ela não se limite à Igreja Católica, pois Jesus é o
Salvador do mundo (cf. Jo 4,42)! Sua morte e ressurreição o constituiu fonte de
vida única e perene para todos: “Quando eu for elevado da terra, atrairei todos
a mim” (Jo 12,32). Jesus não é propriedade de nenhuma igreja e jamais se
deixaria “domesticar” por alguma! Nossa responsabilidade como ovelhas do seu
rebanho é torná-lo conhecido, de tal modo que as pessoas do nosso tempo se
identifiquem com sua voz e encontrem nele a orientação que procuram.
A
pandemia provocou uma profunda fragmentação no rebanho que é a humanidade.
Desde março do ano passado, os rebanhos das igrejas foram dispersos e muitas
ovelhas (sobretudo crianças, adolescentes e jovens) não retornaram para o
“redil” (rebanho). O mundo mudou e não voltará mais a ser o mesmo, depois da
pandemia. Neste sentido, somos desafiados pelo Pai a encontrar formas de fazer
com que a voz de seu Filho chegue àqueles que se habituaram a não frequentar
mais nossas igrejas e que continuam a ser objeto de procura e de busca do bom
Pastor, pois Ele mesmo afirmou: “também a elas devo conduzir”. Não esperemos
pela volta espontânea dessas ovelhas. Isso não acontecerá. Somos nós que temos
que encontrar formas de nos tornar próximos delas, por fidelidade ao Pastor que
nos chamou não somente a segui-lo, mas a nos tornar seus discípulos e a nos
configurar a Ele, o bom Pastor.
“Que meu grito chegue à tua presença, Senhor, dá-me discernimento nas minhas escolhas e decisões. Que minha súplica chegue à tua presença, liberta-me, conforme tua promessa! Que a tua mão venha socorrer-me, protegendo-me dos mercenários e dos lobos do mundo atual. Desejo tua salvação, Senhor! Que eu possa viver para te louvar e tua Palavra venha dar direção à minha vida. Eu me desvio como ovelha perdida: vem procurar o teu servo!”
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
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