sábado, 1 de maio de 2021

A CONEXÃO FUNDAMENTAL

 Missa do 5. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 9,26-31; 1João 3,18-24; João 15,1-8.

 

No mundo de hoje, a conexão tornou-se fundamental. Cada vez mais estamos sendo obrigados a nos conectar para comprar, para vender, para resolver problemas, para nos comunicar. Estar conectado deixou de ser algo ligado à diversão, ao entretenimento, para se tornar uma forma de sobrevivência.

Jesus nos fala da importância da nossa conexão com ele. Dessa conexão depende a nossa fecundidade: “Permaneçam em mim e eu permanecerei em vocês. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vocês não poderão dar fruto, se não permanecerem em mim” (Jo 15,4). Pensemos nos ramos da nossa vida: existe o ramo do nosso corpo (físico), o ramo da nossa alma (psíquico, emocional) e o ramo do nosso espírito (vida espiritual). Além disso, temos também o ramo da vida de estudo ou profissional, o ramo da vida afetiva e sexual, o ramo da vida familiar, comunitária e social etc. Todos esses ramos estão produzindo frutos? Nós nos sentimos pessoas fecundas? Por acaso, alguns desses ramos estão murchando e secando?

É possível que em alguma área da nossa vida não nos sintamos fecundos. Quando isso acontece, precisamos lembrar que a nossa fecundidade não depende das circunstâncias externas. É muito comum as pessoas responsabilizarem os outros, as condições sociais ou a vida (Deus? O destino?) pela própria falta de fecundidade. No entanto, Jesus nos torna conscientes de que a causa da nossa falta de fecundidade está ligada à questão do cultivo ou, se quisermos, à conexão. Todas as pessoas querem se sentir fecundas; todos querem colher frutos nos ramos da sua vida, mas nem todos se dispõem ao cultivo de si mesmos e ao cultivo da sua relação com Deus, cujo Espírito é fecundidade.

Cultivar-se, conectar-se, é responsabilidade de cada um. Quando Jesus afirma que ele é a videira (o tronco da parreira de uva), está dizendo que nele está a seiva de Deus, que é o Espírito Santo. O Senhor ressuscitado é fonte de fecundidade para quem quer que se aproxime dele e se conecte a ele. A questão é saber se estamos cultivando nossa relação com o Ressuscitado. Jesus sempre cultivou um relacionamento profundo com o Pai. Apesar de ser constantemente procurado pelas pessoas e quase não ter tempo nem para comer (cf. Mc 6,31), Jesus jamais deixou de se conectar diariamente com o Pai. Isso sempre fez dele uma pessoa fecunda. Como é que nós queremos ser fecundos sem cultivar nosso relacionamento com Jesus? Como podemos produzir frutos se descuidamos da nossa conexão com o espiritual?  

A conexão com o espiritual se dá, antes de mais nada, por meio da oração, e a oração não nasce espontaneamente dentro de nós, mas é fruto de uma convicção: “sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Além da oração, nós nos conectamos com Jesus por meio da sua palavra (Evangelho) e por meio da Eucaristia. Por fim, não podemos nos esquecer de que nós nos conectamos com Jesus por meio das pessoas necessitadas, daquelas que sofrem e que precisam se nós (cf. Mt 25,37-40). Se a pandemia afastou inúmeras pessoas das nossas celebrações, fica a pergunta: elas estão cultivando em casa algum tipo de relacionamento com Jesus? Elas estão cuidando da sua conexão com o espiritual?   

Diante da consciência de que a nossa fecundidade como pessoas depende da nossa relação com Jesus, precisamos tomar cuidado com uma visão utilitarista da fé ou da religião: eu me conecto com Jesus não por amor a ele, mas pelo interesse que tenho em produzir frutos; eu busco a Deus na oração não porque quero estar na presença dele, mas porque tenho interesse em que Ele me faça prosperar e ser uma pessoa bem sucedida na vida. Jesus quer que o nosso foco não esteja no fruto, mas no relacionamento, na conexão, no cultivo da nossa relação com ele. O cultivo da nossa vida espiritual vale por si mesmo, independente do fruto que venha ou não a produzir. A conexão espiritual busca a Deus por Ele mesmo; a conexão mundana busca a Deus por aquilo que Ele pode oferecer à pessoa. Dizendo de outra forma, a conexão espiritual permite que Deus disponha da minha vida segundo a Sua vontade; a conexão mundana faz com que eu tente usar Deus para atingir meus objetivos pessoais.   

Uma última palavra. A questão da fecundidade nos faz lembrar de dois extremos: as pessoas parasitas e as pessoas esgotadas. Muitos vivem como parasitas: exigem dos outros o tempo todo, sugam os outros (que, obviamente, se deixam sugar por eles) e só enxergam a vida pela lente dos seus direitos, nunca das suas obrigações. Por terem preguiça em cultivar, vivem do que os outros lhes dão. No outro extremo, encontram-se as pessoas esgotadas. Elas descuidam do cultivo do descanso, do respeito para com seus próprios limites; consideram-se importantes pela quantidade de frutos que produzem e não por aquilo que são como pessoas. O esgotamento as adoece, mas elas não mudam suas atitudes porque recebem a falsa compensação de serem reconhecidas como “fecundas”, ainda que tal fecundidade lhes custe a saúde física, emocional e mesmo espiritual. Fujamos desses extremos.     

 

Oração: Deus Pai, tu és o Agricultor deste imenso campo que é o mundo. Visita esta plantação que somos nós. Poda-nos onde precisamos ser podados, para que tenhamos mais vitalidade e possamos produzir frutos melhores. Toca em nossos ramos e devolve-lhes fecundidade. Conecta-nos espiritualmente com teu Filho Jesus, pois somente unidos a ele é que podemos produzir frutos. Que a seiva do Espírito Santo percorra todas as áreas da nossa vida e todo o nosso ser, curando-nos, revitalizando-nos, de modo que os nossos frutos sejam abundantes e glorifiquem o teu Nome. Por Jesus, teu Filho, amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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