Missa do 5. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 9,26-31; 1João 3,18-24; João 15,1-8.
No
mundo de hoje, a conexão tornou-se fundamental. Cada vez mais estamos sendo
obrigados a nos conectar para comprar, para vender, para resolver problemas,
para nos comunicar. Estar conectado deixou de ser algo ligado à diversão, ao
entretenimento, para se tornar uma forma de sobrevivência.
Jesus
nos fala da importância da nossa conexão com ele. Dessa conexão depende a nossa
fecundidade: “Permaneçam em mim e eu permanecerei em vocês. Como o ramo não
pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vocês
não poderão dar fruto, se não permanecerem em mim” (Jo 15,4). Pensemos nos ramos
da nossa vida: existe o ramo do nosso corpo (físico), o ramo da nossa alma
(psíquico, emocional) e o ramo do nosso espírito (vida espiritual). Além disso,
temos também o ramo da vida de estudo ou profissional, o ramo da vida afetiva e
sexual, o ramo da vida familiar, comunitária e social etc. Todos esses ramos
estão produzindo frutos? Nós nos sentimos pessoas fecundas? Por acaso, alguns
desses ramos estão murchando e secando?
É
possível que em alguma área da nossa vida não nos sintamos fecundos. Quando
isso acontece, precisamos lembrar que a nossa fecundidade não depende das
circunstâncias externas. É muito comum as pessoas responsabilizarem os outros,
as condições sociais ou a vida (Deus? O destino?) pela própria falta de
fecundidade. No entanto, Jesus nos torna conscientes de que a causa da nossa
falta de fecundidade está ligada à questão do cultivo ou, se quisermos, à
conexão. Todas as pessoas querem se sentir fecundas; todos querem colher frutos
nos ramos da sua vida, mas nem todos se dispõem ao cultivo de si mesmos e ao
cultivo da sua relação com Deus, cujo Espírito é fecundidade.
Cultivar-se,
conectar-se, é responsabilidade de cada um. Quando Jesus afirma que ele é a
videira (o tronco da parreira de uva), está dizendo que nele está a seiva de
Deus, que é o Espírito Santo. O Senhor ressuscitado é fonte de fecundidade para
quem quer que se aproxime dele e se conecte a ele. A questão é saber se estamos
cultivando nossa relação com o Ressuscitado. Jesus sempre cultivou um
relacionamento profundo com o Pai. Apesar de ser constantemente procurado pelas
pessoas e quase não ter tempo nem para comer (cf. Mc 6,31), Jesus jamais deixou
de se conectar diariamente com o Pai. Isso sempre fez dele uma pessoa fecunda.
Como é que nós queremos ser fecundos sem cultivar nosso relacionamento com
Jesus? Como podemos produzir frutos se descuidamos da nossa conexão com o
espiritual?
A
conexão com o espiritual se dá, antes de mais nada, por meio da oração, e a
oração não nasce espontaneamente dentro de nós, mas é fruto de uma convicção: “sem
mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Além da oração, nós nos conectamos com Jesus
por meio da sua palavra (Evangelho) e por meio da Eucaristia. Por fim, não
podemos nos esquecer de que nós nos conectamos com Jesus por meio das pessoas
necessitadas, daquelas que sofrem e que precisam se nós (cf. Mt 25,37-40). Se a
pandemia afastou inúmeras pessoas das nossas celebrações, fica a pergunta: elas
estão cultivando em casa algum tipo de relacionamento com Jesus? Elas estão
cuidando da sua conexão com o espiritual?
Diante
da consciência de que a nossa fecundidade como pessoas depende da nossa relação
com Jesus, precisamos tomar cuidado com uma visão utilitarista da fé ou da
religião: eu me conecto com Jesus não por amor a ele, mas pelo interesse que
tenho em produzir frutos; eu busco a Deus na oração não porque quero estar na
presença dele, mas porque tenho interesse em que Ele me faça prosperar e ser
uma pessoa bem sucedida na vida. Jesus quer que o nosso foco não esteja no
fruto, mas no relacionamento, na conexão, no cultivo da nossa relação com ele.
O cultivo da nossa vida espiritual vale por si mesmo, independente do fruto que
venha ou não a produzir. A conexão espiritual busca a Deus por Ele mesmo; a
conexão mundana busca a Deus por aquilo que Ele pode oferecer à pessoa. Dizendo
de outra forma, a conexão espiritual permite que Deus disponha da minha vida
segundo a Sua vontade; a conexão mundana faz com que eu tente usar Deus para
atingir meus objetivos pessoais.
Uma
última palavra. A questão da fecundidade nos faz lembrar de dois extremos: as
pessoas parasitas e as pessoas esgotadas. Muitos vivem como parasitas: exigem dos
outros o tempo todo, sugam os outros (que, obviamente, se deixam sugar por
eles) e só enxergam a vida pela lente dos seus direitos, nunca das suas
obrigações. Por terem preguiça em cultivar, vivem do que os outros lhes dão. No
outro extremo, encontram-se as pessoas esgotadas. Elas descuidam do cultivo do
descanso, do respeito para com seus próprios limites; consideram-se importantes
pela quantidade de frutos que produzem e não por aquilo que são como pessoas. O
esgotamento as adoece, mas elas não mudam suas atitudes porque recebem a falsa
compensação de serem reconhecidas como “fecundas”, ainda que tal fecundidade
lhes custe a saúde física, emocional e mesmo espiritual. Fujamos desses
extremos.
Oração: Deus Pai, tu és o Agricultor deste imenso campo que é o mundo. Visita esta plantação que somos nós. Poda-nos onde precisamos ser podados, para que tenhamos mais vitalidade e possamos produzir frutos melhores. Toca em nossos ramos e devolve-lhes fecundidade. Conecta-nos espiritualmente com teu Filho Jesus, pois somente unidos a ele é que podemos produzir frutos. Que a seiva do Espírito Santo percorra todas as áreas da nossa vida e todo o nosso ser, curando-nos, revitalizando-nos, de modo que os nossos frutos sejam abundantes e glorifiquem o teu Nome. Por Jesus, teu Filho, amém!
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