Missa da Santíssima Trindade. Palavra de Deus: Deuteronômio 4,32-34.39-40; Romanos 8,14-17; Mateus 28,16-20.
Quem
é Deus? Deus é Pessoa, é Alguém, ou apenas uma energia, uma força que não só
criou, mas que também sustenta todas as coisas criadas? Enfim, foi o ser humano
quem “descobriu” (para alguns, “inventou”) Deus ou foi Deus quem se revelou ao
ser humano?
A resposta
a essa pergunta se encontra em Gênesis 12,1-4: Deus se revelou a um homem
chamado Abraão. Antes dessa revelação, os inúmeros povos que habitavam sobre a
terra tinham seus respectivos deuses. Somente a partir de Abraão é que Deus se
revela como o único Deus, como séculos mais tarde Ele dirá a respeito de Si
mesmo: “Eu sou o Senhor, e não há nenhum outro, fora de mim não há Deus...
Voltem-se para mim e vocês serão salvos, homens todos dos confins de toda a
terra, porque eu sou Deus e não há nenhum outro!” (Is 45,5.22). Ou como Moisés
declarou: “Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o
Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele” (Dt
4,39).
Embora
as três maiores religiões do mundo atual – judaísmo, cristianismo e islamismo
–, creiam na existência de um só Deus, existem muitas outras religiões que
creem em deuses diferentes, assim como existem muitas pessoas que deixaram de
acreditar em Deus, seja porque Ele frustrou suas expectativas, seja porque pessoas
religiosas deformaram a imagem de Deus com o seu contratestemunho.
Voltemos
à questão principal: não foi o ser humano quem inventou Deus para suportar sua
fraqueza e seu sentimento de impotência perante o mundo, mas foi Deus quem
tomou a iniciativa de se revelar ao ser humano na pessoa de Abraão,
manifestando o Seu desejo de abençoar “todas as famílias da terra” (Gn 12,3). E
o mais intrigante é que, quando Deus aparece a Abraão para lhe comunicar o
nascimento de um futuro filho, revela-se na imagem de três homens (cf. Gn
18,1-16)! Apesar dessa “estranha” revelação, o Antigo Testamento professa a fé
na existência de um único Deus, salvador de todos os povos.
Passemos
agora para o Novo Testamento. Iniciando seu Evangelho, são João faz uma
afirmação importantíssima: “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está
no seio do Pai, este o deu a conhecer” (Jo 1,18). Só Jesus pode nos revelar
quem é o Deus em quem nós cremos! E Jesus, o Filho, nos revelou que Deus é Pai;
Pai não somente a partir do momento em que Jesus vem ao mundo por meio da Maria:
Deus é Pai desde o momento da criação do mundo, porque já ali existia o Filho!
“No princípio... a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus... Tudo foi
feito por meio dela e sem ela nada foi feito” (Jo 1,1.3). De qual “Palavra”
João fala? Da Palavra que “se fez pessoa humana e habitou entre nós” (Jo 1,14).
“Nele (em Cristo) foram criadas todas as coisas” (Cl 1,16). Ele “existe antes
de tudo e tudo tem nele sua subsistência” (Cl 1,17).
O
mundo só conheceu a Pessoa do Filho quando Maria deu à luz o Filho de Deus, mas
este Filho já existia com o Pai antes da fundação do mundo! O Pai e o Filho
existem desde sempre. Contudo, existe ainda uma terceira Pessoa de certa forma
“escondida”, não plenamente revelada no Antigo Testamento, mas que Se
manifestou ora aqui, ora ali; ora como vento (respiro), ora como fogo (poder);
ora como água (vida), ora como nuvem (proteção, presença divina), ora como
unção (consagração)... Estamos falando do Espírito de Deus. Antes de Jesus
revelá-Lo, Ele era entendido como simplesmente a força de Deus que age no ser
humano. Mas foi Jesus quem revelou que o Espírito de Deus se chama “Espírito
Santo”, “Paráclito”, Defensor”, “Consolador”, “Espírito da Verdade”. Ele foi
dado à Igreja em Pentecostes. Ele é a presença do Pai e do Filho em nós (cf. Jo
14,23). Ele é o cumprimento da promessa de Jesus: “Eu estarei convosco todos os
dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Ele atesta (comprova, dá a certeza) de
que “somos filhos de Deus” (Rm 14,16) e podemos invocá-Lo com a mesma palavra
que Jesus O invocava: “Abá – ó Pai!”. Essa invocação não significa que o filho
clama pelo pai que está ausente, mas é uma proclamação de confiança de que o
filho sabe que tem seu pai sempre junto a si e pode contar com ele em qualquer
momento!
Portanto,
o Deus em quem nós cremos é o único Deus, Salvador de todos os homens, e que se
revelou a nós como Pai, Filho e Espírito Santo. O próprio Jesus nos fala do seu
desejo de que toda pessoa que se torne discípula seja batizada “em nome do Pai,
e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Jesus nos quer inseridos nesta
comunhão de amor que existe no seio da Santíssima Trindade. O Pai ama o Filho,
o Filho é amado pelo Pai e o amor do Pai e do Filho “foi derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
Em
um mundo marcado por individualismo, indiferença, solidão e ódio ao diferente, um
mundo onde alguns líderes religiosos deformam a imagem de Deus, usando a religião
como justificativa para fazer guerra contra os que eles consideram “infiéis”,
um mundo onde pessoas religiosas consideram como “inimigos” e dignos de
desprezo aqueles que não professam sua mesma fé e creem diferente delas, somos
chamados a viver como filhos do Pai que ama incondicionalmente cada ser humano;
a viver como irmãos do Filho que veio procurar e salvar o que estava perdido e
que pede que amemos especialmente os que não são amados; enfim, somos chamados
a nos deixar conduzir pelo Espírito Santo, que nos guarda no amor do Pai e na
salvação do Filho, e nos envia como presença de um amor que pode humanizar os
ambientes em que nos encontramos.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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