Missa de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios 12,3b-7.12-13; João 20,19-23.
Pentecostes:
uma festa que os judeus celebravam cinquenta dias após a Páscoa. Nessa festa,
agradecia-se a Deus pelo dom das colheitas. Mais tarde, ela passou a celebrar
também o dom da Lei de Deus, dada a Moisés, para preservar a vida e a liberdade
do povo de Israel. Exatamente nesta festa, Deus derramou sobre os discípulos,
isto é, sobre a Igreja, o dom do Espírito Santo, conforme prometido por Jesus
(cf. At 1,8). Por isso, para nós, cristãos, Pentecostes se tornou a festa do
Espírito Santo! Mas, quem é o Espírito Santo? Deixemos que a Sagrada Escritura
nos fale d’Ele...
Ele
é mencionado no início da criação como “um sopro de Deus que agitava a
superfície das águas” (Gn 1,2). “Um sopro de Deus”. Quando falamos uma palavra,
da nossa boca sai sopro. Se tudo o que Deus criou foi por meio da Sua palavra,
nessa palavra está o Sopro que é o Espírito Santo. Se quisermos entender a
força vivificadora da Palavra e do Sopro de Deus, basta recordarmos dos ossos
secos de Israel, símbolo de um povo que havia perdido sua esperança: ao ouvirem
a Palavra, os ossos se tornaram esqueletos e os esqueletos se tornaram corpos
humanos; ao receberem o Sopro de Deus, aqueles corpos reviveram, levantando-se
“como um imenso exército” (cf. Ez 37,1-14). Assim o Espírito Santo faz conosco:
nos levanta e nos torna homens e mulheres fortes, preparados para as lutas que
somos chamados a enfrentar ao longo da vida.
Esse
“Sopro de Deus” que infunde vida no ser humano (cf. Gn 2,7), aparece como “uma
forte ventania que encheu a casa” onde os discípulos se encontravam, no dia de
Pentecostes (cf. At 2,2), assim como também aparece nos lábios de Jesus, após
sua ressurreição: “soprou sobre eles e disse: ‘Recebam o Espírito Santo’” (Jo
20,22). De fato, Jesus já havia falado da ação do Espírito Santo como vento: “O
vento sopra onde quer... Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito”
(Jo 3,8). O Espírito Santo não pode ser controlado, dominado ou domesticado por
ninguém. Ele é absolutamente livre: “Onde está o Espírito do Senhor, aí está a
liberdade” (2Cor 3,17). O Espírito Santo nos liberta das nossas amarras
interiores; Ele quebra as correntes que nos prendem ao passado e nos torna
livres da culpa, livres do medo, livres dos homens e de tudo aquilo que o mundo
inventa para nos prender e nos escravizar. Quem se deixa conduzir pelo Espírito
Santo não admite se tornar prisioneiro de nada, nem de ninguém. O Espírito
Santo nos dá a liberdade de escolher e de decidir o que fazer diante de toda e
qualquer situação que somos chamados a enfrentar.
Se
no Antigo Testamento nenhum ser humano chegou a ver o Espírito Santo, no Novo
Testamento Ele é visto como se fosse uma pomba, descendo do céu e repousando
sobre Jesus, no momento do seu batismo (cf. Mt 3,16; Mc 1,10; Lc 4,22; Jo
1,32). A partir desse momento, Jesus será guiado e sustentado pelo Espírito
Santo, reconhecendo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me
consagrou pela unção” (Lc 4,18). Assim como Jesus, nós também recebemos a unção
do Espírito Santo. No batismo e na crisma fomos ungidos com o óleo da unção. Essa
unção faz de nós “cristãos”, isto é, homens e mulheres ungidos.
A
unção que recebemos do Espírito Santo significa duas coisas: primeiramente,
nossa consagração, nossa pertença a Ele. Não somos pessoas “mundanas” ou
simplesmente carnais; somos homens e mulheres espirituais. Segundo, somos “revestidos
da força do Alto” – é assim que Jesus se refere à Pessoa do Espírito Santo (cf.
Lc 24,49). O apóstolo vai confirmar o Espírito Santo como força de Deus em nós
ao dizer: “Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito de força, de
amor e de autodomínio” (2Tm 1,7).
Quem
se deixa conduzir pelo Espírito Santo não se acovarda perante a vida, nem perante
o mundo, mas enfrenta as situações, olha a vida nos olhos, não foge da verdade
com a qual precisa lidar. O Espírito Santo não nos blinda contra a dor e o
sofrimento, mas nos dá força para enfrentá-los. Ele nos enche de coragem e de
ousadia para nos mantermos em pé diante dos ventos contrários e diante dos
ataques de um mundo descrente e seduzido pelo mal. Justamente porque o nosso
combate não é contra um ser humano, mas contra o espírito do mal (cf. Ef 6,12),
o Espírito Santo nos foi dado como Defensor (cf. Jo 14,16), como Aquele que
luta ao nosso lado, impedindo que o inimigo nos destrua.
Algo
ainda precisa ser dito a respeito do Espírito Santo. Ele deseja “falar” em nós
e por meio de nós. Foi por isso que desceu sobre os discípulos como se fosse
“línguas de fogo” (At 2,3). O Espírito Santo nos capacita a falar do Pai e do
Filho de modo que as pessoas do nosso tempo entendam: “Todos nós os escutamos
anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!” (At 2,11). Neste
mundo complexo e diversificado, nós precisamos mais do que nunca do Espírito
Santo para que a nossa vida, as nossas atitudes e as nossas palavras falem de
Deus para cada pessoa na sua situação específica; sobretudo, que nos tornemos
capazes de “levar uma palavra de conforto à pessoa abatida” (Is 50,4).
A
humanidade está machucada por palavras e por atitudes que promovem o ódio, a
divisão, a inimizade entre as pessoas. O Espírito Santo é o oposto disso. Ele
respeita a diversidade, mas age de modo a gerar diálogo, unidade, comunhão,
aproximação, reconciliação (cf. 1Cor 12,4-6). Quem não aceita a diversidade não
age segundo o Espírito Santo. Quem trabalha contra o diálogo, a comunhão e a
unidade está se deixando conduzir pelo espírito do mal, não pelo Espírito
Santo, pois “a cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum”
(1Cor 7,12). O Espírito Santo visa “o bem comum”, não o bem individual em
detrimento do bem comum. Porque deseja o bem comum, o bem de todos na Igreja e
na humanidade, o Espírito Santo nos convida a trabalhar junto com Ele na
derrubada de muros e na construção de pontes.
Resta-nos
agora clamar ao Pai que nos dê o Espírito Santo, conforme a promessa de Jesus
(cf. Lc 11,13). Resta-nos pedir: “Espírito de Deus, és bem-vindo aqui! Espírito
de Deus, és bem-vindo aqui! Eu sou terra sequiosa, sou deserto, e Tu és a chuva...
Eu sou o braço de um rio tão pequeno, e Tu és o mar... Imensidão, Amor, vim Te
encontrar. Espírito, vem! Batiza-me com fogo de novo! Faça arder Teu fogo, de
novo, como na primeira vez!
Espírito
de Deus, és bem-vindo aqui! Espírito de Deus, és bem-vindo aqui! Eu sou o pó, eu
sou o barro em Tuas mãos e Tu és o Sopro...
Eu quero o bem, mas faço o mal. Eu sou tão fraco, mas Tu és a graça!... Imensidão, Amor, vim Te encontrar. Espírito,
vem! Batiza-me com fogo de novo! Faça arder Teu fogo, de novo, como na primeira
vez!”
(Gil
Monteiro, Com fogo, de novo).
https://www.youtube.com/watch?v=Q4n73E_LTys
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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