quinta-feira, 20 de maio de 2021

O SOPRO DE DEUS

 Missa de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios 12,3b-7.12-13; João 20,19-23.

 

Pentecostes: uma festa que os judeus celebravam cinquenta dias após a Páscoa. Nessa festa, agradecia-se a Deus pelo dom das colheitas. Mais tarde, ela passou a celebrar também o dom da Lei de Deus, dada a Moisés, para preservar a vida e a liberdade do povo de Israel. Exatamente nesta festa, Deus derramou sobre os discípulos, isto é, sobre a Igreja, o dom do Espírito Santo, conforme prometido por Jesus (cf. At 1,8). Por isso, para nós, cristãos, Pentecostes se tornou a festa do Espírito Santo! Mas, quem é o Espírito Santo? Deixemos que a Sagrada Escritura nos fale d’Ele...

Ele é mencionado no início da criação como “um sopro de Deus que agitava a superfície das águas” (Gn 1,2). “Um sopro de Deus”. Quando falamos uma palavra, da nossa boca sai sopro. Se tudo o que Deus criou foi por meio da Sua palavra, nessa palavra está o Sopro que é o Espírito Santo. Se quisermos entender a força vivificadora da Palavra e do Sopro de Deus, basta recordarmos dos ossos secos de Israel, símbolo de um povo que havia perdido sua esperança: ao ouvirem a Palavra, os ossos se tornaram esqueletos e os esqueletos se tornaram corpos humanos; ao receberem o Sopro de Deus, aqueles corpos reviveram, levantando-se “como um imenso exército” (cf. Ez 37,1-14). Assim o Espírito Santo faz conosco: nos levanta e nos torna homens e mulheres fortes, preparados para as lutas que somos chamados a enfrentar ao longo da vida.  

Esse “Sopro de Deus” que infunde vida no ser humano (cf. Gn 2,7), aparece como “uma forte ventania que encheu a casa” onde os discípulos se encontravam, no dia de Pentecostes (cf. At 2,2), assim como também aparece nos lábios de Jesus, após sua ressurreição: “soprou sobre eles e disse: ‘Recebam o Espírito Santo’” (Jo 20,22). De fato, Jesus já havia falado da ação do Espírito Santo como vento: “O vento sopra onde quer... Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3,8). O Espírito Santo não pode ser controlado, dominado ou domesticado por ninguém. Ele é absolutamente livre: “Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17). O Espírito Santo nos liberta das nossas amarras interiores; Ele quebra as correntes que nos prendem ao passado e nos torna livres da culpa, livres do medo, livres dos homens e de tudo aquilo que o mundo inventa para nos prender e nos escravizar. Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo não admite se tornar prisioneiro de nada, nem de ninguém. O Espírito Santo nos dá a liberdade de escolher e de decidir o que fazer diante de toda e qualquer situação que somos chamados a enfrentar.

Se no Antigo Testamento nenhum ser humano chegou a ver o Espírito Santo, no Novo Testamento Ele é visto como se fosse uma pomba, descendo do céu e repousando sobre Jesus, no momento do seu batismo (cf. Mt 3,16; Mc 1,10; Lc 4,22; Jo 1,32). A partir desse momento, Jesus será guiado e sustentado pelo Espírito Santo, reconhecendo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção” (Lc 4,18). Assim como Jesus, nós também recebemos a unção do Espírito Santo. No batismo e na crisma fomos ungidos com o óleo da unção. Essa unção faz de nós “cristãos”, isto é, homens e mulheres ungidos.

A unção que recebemos do Espírito Santo significa duas coisas: primeiramente, nossa consagração, nossa pertença a Ele. Não somos pessoas “mundanas” ou simplesmente carnais; somos homens e mulheres espirituais. Segundo, somos “revestidos da força do Alto” – é assim que Jesus se refere à Pessoa do Espírito Santo (cf. Lc 24,49). O apóstolo vai confirmar o Espírito Santo como força de Deus em nós ao dizer: “Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de autodomínio” (2Tm 1,7).

Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo não se acovarda perante a vida, nem perante o mundo, mas enfrenta as situações, olha a vida nos olhos, não foge da verdade com a qual precisa lidar. O Espírito Santo não nos blinda contra a dor e o sofrimento, mas nos dá força para enfrentá-los. Ele nos enche de coragem e de ousadia para nos mantermos em pé diante dos ventos contrários e diante dos ataques de um mundo descrente e seduzido pelo mal. Justamente porque o nosso combate não é contra um ser humano, mas contra o espírito do mal (cf. Ef 6,12), o Espírito Santo nos foi dado como Defensor (cf. Jo 14,16), como Aquele que luta ao nosso lado, impedindo que o inimigo nos destrua.

Algo ainda precisa ser dito a respeito do Espírito Santo. Ele deseja “falar” em nós e por meio de nós. Foi por isso que desceu sobre os discípulos como se fosse “línguas de fogo” (At 2,3). O Espírito Santo nos capacita a falar do Pai e do Filho de modo que as pessoas do nosso tempo entendam: “Todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!” (At 2,11). Neste mundo complexo e diversificado, nós precisamos mais do que nunca do Espírito Santo para que a nossa vida, as nossas atitudes e as nossas palavras falem de Deus para cada pessoa na sua situação específica; sobretudo, que nos tornemos capazes de “levar uma palavra de conforto à pessoa abatida” (Is 50,4).

A humanidade está machucada por palavras e por atitudes que promovem o ódio, a divisão, a inimizade entre as pessoas. O Espírito Santo é o oposto disso. Ele respeita a diversidade, mas age de modo a gerar diálogo, unidade, comunhão, aproximação, reconciliação (cf. 1Cor 12,4-6). Quem não aceita a diversidade não age segundo o Espírito Santo. Quem trabalha contra o diálogo, a comunhão e a unidade está se deixando conduzir pelo espírito do mal, não pelo Espírito Santo, pois “a cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 7,12). O Espírito Santo visa “o bem comum”, não o bem individual em detrimento do bem comum. Porque deseja o bem comum, o bem de todos na Igreja e na humanidade, o Espírito Santo nos convida a trabalhar junto com Ele na derrubada de muros e na construção de pontes.

Resta-nos agora clamar ao Pai que nos dê o Espírito Santo, conforme a promessa de Jesus (cf. Lc 11,13). Resta-nos pedir: “Espírito de Deus, és bem-vindo aqui! Espírito de Deus, és bem-vindo aqui! Eu sou terra sequiosa, sou deserto, e Tu és a chuva... Eu sou o braço de um rio tão pequeno, e Tu és o mar... Imensidão, Amor, vim Te encontrar. Espírito, vem! Batiza-me com fogo de novo! Faça arder Teu fogo, de novo, como na primeira vez!

Espírito de Deus, és bem-vindo aqui! Espírito de Deus, és bem-vindo aqui! Eu sou o pó, eu sou o barro em Tuas mãos e Tu és o Sopro...  Eu quero o bem, mas faço o mal. Eu sou tão fraco, mas Tu és a graça!... Imensidão, Amor, vim Te encontrar. Espírito, vem! Batiza-me com fogo de novo! Faça arder Teu fogo, de novo, como na primeira vez!”

(Gil Monteiro, Com fogo, de novo).

https://www.youtube.com/watch?v=Q4n73E_LTys 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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