Missa do 3. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Êxodo 20,1-17; 1Coríntios 1,22-25; João 2,13-25.
“Sonda-me,
ó Deus, e conhece o meu coração! Examina-me, e conhece minhas preocupações. Vê
se não ando por um caminho fatal e conduze-me pelo caminho eterno” (Sl
139,23-24). O Evangelho de hoje é um
convite a permitir que Jesus visite o templo do nosso corpo, da nossa
consciência e do nosso coração. Que Ele, que conhece o ser humano por dentro, possa
examinar nossos pensamentos e sentimentos, as intenções que trazemos guardadas
em nosso coração, e trazer à luz tudo aquilo que está escondido na sombra, no
oculto de nós mesmos. Que Ele nos torne conscientes das motivações que estão
por trás de atitudes que nos adoecem, ou que nos levam a pecar, que nos levam a
nos comportar de maneira oposta aos seus ensinamentos.
Jesus esteve poucas vezes no Templo
de Jerusalém. A maior parte da sua vida, ele passou fora dos templos, porque
escolheu colocar-se junto daqueles que não podiam entrar nos templos: os
pobres, os pecadores, os doentes, aqueles que a religião e política da época de
Jesus desprezavam e viam como “gente perdida”. Jesus dedicou toda a sua vida a
reconstruir o templo no qual Deus mais deseja habitar: o ser humano. Por isso,
ele curou doentes, ressuscitou mortos, expulsou demônios, perdoou pecadores,
absolveu culpados e condenados. Por compreender o ser humano no sentido bíblico
– corpo, alma e espírito –, Jesus sempre procurou restaurar a vida na sua
dimensão física, emocional e espiritual.
O Evangelho nos coloca diante dessa
atitude de Jesus: “Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo,
junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos
cambistas” (Jo 2,15). O Jesus manso e humilde de coração, bondoso e
misericordioso, se enche de indignação contra uma religião que se converteu em
negócio lucrativo, uma religião que se mantém distante dos que sofrem, que se
cala diante das injustiças e se apoia no dinheiro daqueles que exploram os mais
pobres. A indignação de Jesus é a mesma de Deus na época do profeta Isaías:
“Quando estendeis vossas mãos, desvio de vós os meus olhos... Vossas mãos estão
cheias de sangue” (Is 1,15). Para Deus, é inconcebível que um cristão seja
contra o aborto e a mesmo tempo a favor da pena de morte. É inconcebível que um
cristão separe o seu culto a Deus da sua vivência comunitária e social: “Aquele
que não pratica a justiça e não ama o seu irmão não é de Deus” (citação livre
de 1Jo 3,10).
Jesus é o verdadeiro e único templo
de Deus, um templo de portas abertas para todos, não somente para quem se
considera bom cristão. No Templo de Jerusalém havia um muro que separava os
judeus dos gentios (pagãos). Mas o apóstolo Paulo afirma que, com o seu corpo
pregado na cruz, Jesus derrubou esse muro de inimizade que separava os povos
(cf. Ef 2,14): “É por meio dele que todos nós, judeus e gentios, num só
Espírito, temos acesso ao Pai” (Ef 2,18). O Pai de Jesus não habita exclusivamente
no Templo de Jerusalém, nem em qualquer outro lugar sagrado; Ele é o “Pai nosso
que está nos céus”, acima de todos os seres humanos porque Pai de todos eles, sem
discriminação nem exclusão alguma.
Ao purificar o Templo de Jerusalém,
Jesus nos deixou uma nova compreensão do Templo onde Deus habita: “Jesus estava
falando do Templo do seu corpo” (Jo 2,21). De fato, o apóstolo Paulo afirmará
mais tarde que o corpo do cristão é templo do Espírito Santo de Deus (cf. 1Cor
3,16-17; 6,19). A cultura moderna dá muito valor ao corpo, mas não enquanto templo
do Espírito de Deus e sim enquanto fonte de sedução e objeto de consumo. De um
lado, temos corpos sarados, esteticamente perfeitos, mas habitados por um
espírito atrofiado, porque a dedicação com o físico não se dá no campo espiritual.
De outro lado, temos corpos profanados pela fome, pelo abuso sexual, pelas
drogas, pela prostituição, corpos tomados por doenças e corpos que se tornaram
gibis ambulantes, devido às suas inúmeras tatuagens.
Que compreensão temos do nosso
corpo? Enquanto alguns cultuam seu corpo “perfeito”, outros rejeitam o próprio
corpo, porque ele está fora dos padrões de estética exigidos pela sociedade da
aparência. Quantos precisam reconciliar-se com seu próprio corpo? Quantos precisam
parar de agredir o próprio corpo com aquilo que comem, bebem e pela maneira como
se vestem? Quantos precisam prestar atenção àquilo que o corpo está lhes
comunicando quando “somatiza” doenças emocionais?
“O zelo (cuidado) por tua casa me
consumirá” (Jo 2,17). Que cuidado temos para com nossa Igreja? Quantos de nós temos
compartilhado mensagens de ataque à nossa própria Igreja nas redes sociais? Quantos
de nós rejeitam o Magistério do Papa Francisco e dos nossos Bispos, representados
pela CNBB, mas acolhem sem discernimento doutrinas de sacerdotes e leigos católicos
que semeiam discórdia e divisão em nossa Igreja? Quantos de nós estamos
conscientes da necessidade de fazermos a nossa doação no Dia Nacional da Coleta
da Solidariedade (28 deste mês), por meio da qual a CNBB sustenta diversos
trabalhos de amparo, defesa e reconstrução de “templos humanos” em nosso País?
“Vendo
os sinais que realizava, muitos creram no seu nome. Mas Jesus não lhes dava
crédito, pois ele conhecia a todos; (...) ele conhecia o homem por dentro” (Jo
2,23-25). Muitos se dizem cristãos. Muitos se consideram “verdadeiros” católicos.
Mas Jesus conhece cada um de nós. Ele sabe quem se deixa questionar pela incômoda
verdade do seu Evangelho e quem faz do Evangelho um verniz para destacar o brilho
de sua própria imagem. Jesus conhece quem são os cristãos que trabalham em
defesa dos templos agredidos e profanados em nosso País e quem são aqueles que
se mantêm distantes desses templos, preocupados unicamente com o templo da sua
alma e com a glória mundana da Igreja.
Oração: Senhor Jesus Cristo,
visita-me com a luz da tua verdade. Quero tomar consciência do estado em que se
encontra o templo que eu sou. Purifica-me dos meus pecados. Livra-me de
pensamentos e sentimentos que adoecem o meu corpo. Faz nascer em mim o desejo
de cuidar da tua casa, que é a Igreja. Que eu seja nela não um construtor de muros
que separam, mas de pontes que unem e criam comunhão. Cura as feridas de
divisão que foram abertas no meio de nós, para nos separar do Papa Francisco e
dos nossos Bispos. Sustenta o trabalho de todos os cristãos que lutam pela
defesa dos templos agredidos e profanados em nosso País. Que todos sejamos
curados em nosso corpo, fortalecidos em nossa alma e reavivados em nosso
espírito. Amém!
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
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