quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

PESSOAS DE COMPORTAMENTO AJUSTADO À VONTADE DE DEUS


Missa do 6º. dom. comum. Eclesiástico 15,16-21; 1Coríntios 2,6-10; Mateus 5,20-22a.27-28.33-34a.37 (leitura breve).

            Da mesma forma como as margens de um rio canalizam suas águas para que elas possam desaguar no seu destino natural, assim Deus nos deu os Mandamentos, para que pudessem nos ajudar na orientação das nossas escolhas. Se, porventura, um rio perdesse as suas margens, suas águas inundariam tudo ao redor, e o próprio rio perderia a capacidade de atingir o destino para o qual nasceu. Assim também nós: sem a orientação dos Mandamentos de Deus, corremos o risco de nos tornar pessoas prisioneiras das suas próprias paixões, pessoas sem um projeto de vida, sem uma meta a alcançar, porque desorientadas interiormente; numa palavra, pessoas cuja existência sofre uma constante “desorientação” imposta pelo mundo, justamente porque rejeitam a orientação proposta pelo Pai que deseja vida plena para Seus filhos.
            Segundo Jesus, a meta da nossa vida cristã é a justiça: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,20). Todo discípulo de Jesus é chamado a se tornar uma pessoa justa, isto é, uma pessoa que, no uso da sua liberdade, escolhe ajustar o seu comportamento segundo a vontade de Deus. Na época de Jesus, alguns homens religiosos se consideravam “justos”, mas enquanto eles observavam friamente as exigências dos Mandamentos de Deus, desrespeitavam seu semelhante, não se importavam com as necessidades do seu próximo e ainda condenavam os que não eram “justos” como eles. Jesus nos convida a compreender o sentido mais profundo dos Mandamentos, para que o nosso comportamento de fato seja segundo o coração de Deus e não segundo esta ou aquela lei religiosa.     
“Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás!’ (...). Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo” (Mt 5,21-22). Não é novidade para ninguém que nós estamos mais agressivos e intolerantes. Facilmente perdemos a paciência e ofendemos pessoas, inclusive pessoas que nada têm a ver com os nossos problemas. Outra coisa importante: sempre que sofremos alguma frustração, nós reagimos com agressão. Ora, devido à constante propaganda de consumo a que estamos expostos, muitas das nossas expectativas são exageradas e jamais se realizarão. Assim, nosso nível de frustração quase sempre está alto, o que nos torna pessoas potencialmente agressivas.  
Jesus nos torna conscientes de que, quando não nos damos ao trabalho de dialogar com a nossa agressividade e de orientá-la, a mesma acaba por assumir o controle, levando-nos a “matar” o outro com ofensas, palavrões, difamações (fake news), críticas destrutivas etc. Neste sentido, as mensagens que postamos nas redes sociais tornam-se carregadas de ódio e de intolerância contra toda pessoa que pensa diferente de nós. Também nossa postura no trânsito e a forma como tratamos as pessoas em nosso ambiente de trabalho revelam o quanto a nossa agressividade determina nossas atitudes. A questão, portanto, é reconhecer quando estamos agressivos, identificar a causa da nossa agressividade e escolher a forma melhor de lidar com ela, sem “destruir” a pessoa que está diante de nós.  
“Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração” (Mt 5,27-28). Atualmente, os sentimentos e as emoções tomaram o lugar da consciência em muitas pessoas. Desse modo, relacionamentos são machucados ou destruídos em nome do “sentir”, do “experimentar uma emoção intensa”, não importando a consequência disso para a nossa vida ou para a vida do outro. Jesus nos propõe um diálogo honesto e sereno com o nosso desejo. O desejo está inscrito em nossa natureza humana, como os poros do nosso corpo. Nós não escolhemos sentir desejo por esta ou aquela pessoa, mas podemos escolher a forma de lidar com esse desejo. Uma pessoa afetivamente imatura jamais consegue frustrar seu desejo, ao passo que uma pessoa afetivamente madura o faz, ainda que a custo de sofrimento. O resultado é este: desejos constantemente satisfeitos nos tornam pessoas fracas e incapazes de atingir objetivos que transcendam a mera sobrevivência. Somente quando temos a liberdade interior de dizer “não” àqueles desejos que sabotam a nossa liberdade e corrompem a nossa consciência é que nos tornamos capazes de viver uma vida plena de sentido.   
“Vós ouvistes também o que foi dito aos antigos: (...) ‘cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor’. Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum (...). Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim’, e o vosso ‘não’: ‘Não’. Tudo o que for além disso, vem do Maligno” (Mt 5,34a.37). Numa época onde a palavra das pessoas está em descrédito, Jesus nos convida a sermos francos conosco mesmos e com a nossa consciência. O nosso falar não deve estar subjugado ao medo de desagradar o outro, mas unicamente àquilo que é verdadeiro e justo. Quando Deus nos dirige Sua palavra, não visa nos agradar; visa, antes, o nosso bem e a nossa salvação. Assim também, o nosso falar com as pessoas deve ser livre do falso respeito em agradá-las, mas buscar sempre aquilo que corresponde à verdade e à justiça, gostem elas ou não. Concluindo, Jesus revela que toda falta de sinceridade vem do Maligno, o pai da mentira, assim como toda sinceridade vem de Deus, o Deus da Verdade, o Deus em quem não há falsidade.

Oração: Deus Pai, estou diante de Ti com a minha agressividade, a minha afetividade e o meu falar. Quero me tornar uma pessoa justa. Quero ajustar o meu comportamento à Tua vontade. Coloco em Tuas mãos minha agressividade. Todos os dias ela é despertada ou provocada de diversas maneiras. Livra-me de “matar” pessoas através do que penso, sinto ou falo a respeito delas. Ensina-me a identificar quando estou frustrado(a) e a não descarregar essa frustração sobre os outros, agredindo-os.
Deus Pai, o desejo está inscrito em meu corpo. Ele penetra o meu olhar e passa habitar nos meus pensamentos, alimentando de maneira exagerada e enganadora  minhas fantasias. Eu não sou responsável pelo que sinto, mas sou responsável pela maneira como lido com o que sinto. Não quero ser arrastado(a) pelos meus sentimentos, mas aprender a orientá-los segundo o que verdadeiramente convém à minha salvação e ao bem das outras pessoas.

Enfim, Pai, coloco em Tuas mãos o meu falar. Livra-me do falso respeito de querer agradar as pessoas. Concede-me liberdade interior para dizer “sim” quando é necessário dizê-lo, assim como dizer “não” quando também é necessário dizê-lo. Livra a minha consciência da mentira, da hipocrisia, do agir segundo a minha conveniência, para agir sempre segundo a Tua verdade. Em nome de Jesus, Amém! 

Pe. Paulo Cezar Mazzi   


   

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