Missa do Batismo
do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 42,1-4.6-7; Atos dos Apóstolos 10,34-38; Mateus
3,13-17.
Água. Sem ela, não existe vida; sem
ela, nada do que vive sobrevive. Embora muitas pessoas dentre nós relativizem o
problema do desmatamento na Amazônia, intensificado agressivamente a partir do início
do novo governo, o qual, por sua vez, cumpre uma promessa de campanha de
flexibilizar as leis de fiscalização ambiental, o desmatamento na Amazônia
interfere diretamente na regulação das chuvas em nossa região. Sem a Amazônia,
nossa região seria um imenso e triste deserto.
Água
é vida. Sem ela, não apenas não existe vida, como também não existe cura. Enquanto
o organismo de muitas pessoas está intoxicado com refrigerante ou bebida
alcoólica, o que abre espaço para o surgimento de diversas doenças, a água nos
desintoxica; ela devolve saúde ao nosso organismo, colaborando para: 1) regular
a temperatura corporal; 2) combater acne, estrias e celulite; 3) melhorar o
funcionamento dos rins; 4) prevenir o aparecimento de pedras nos rins; 5) facilitar
a digestão; 6) diminuir o inchaço; 7) melhorar a circulação sanguínea; 8) ajudar
a emagrecer.
Mas
a cena do Batismo de Jesus nos fala de outra água; uma água “ungida” pelo
Espírito de Deus; uma água capaz não apenas de lavar o corpo, mas de purificar
o coração; uma água capaz de lavar a sujeira da nossa alma, de penetrar nas
raízes mais profundas no chão árido da nossa vida e nos devolver fecundidade,
isto é, despertar em nós a força adormecida da nossa fé, da nossa alegria e da
nossa esperança, ajudando-nos a compreender que o sentido da vida não está no
cimento da artificialidade de um mundo que exige de nós o cuidado doentio com a
aparência, mas no chão descoberto da nossa essência, onde o Espírito Santo
escolheu habitar, onde Deus cavou no mais profundo de nós e fez brotar ali a
água viva da Sua presença, da Sua força, do Seu amor.
Para a grande maioria de nós, o
batismo se deu num momento da nossa vida onde não tínhamos ciência do que
estava acontecendo. Não foi uma escolha nossa receber o batismo, mas dos nossos
pais (ou avós?) e padrinhos: eles acreditaram que, apesar dos seus cuidados
humanos para conosco, nós precisávamos ser confiados aos cuidados de Deus.
Assim, eles quiseram que, desde pequenos, fôssemos mergulhados na água viva do
Espírito de Deus, para que, desde os primeiros meses da nossa vida terrena, uma
voz ressoasse em nossa consciência e nos acompanhasse por todos os dias, a mesma
voz que Se pronunciou no batismo de Jesus: “Este é o meu Filho amado, no qual
eu pus o meu agrado” (Mt 3,17).
A maior importância do nosso batismo,
contudo, não está em lembrar-se de como ele se deu, mas do não esquecer-se do
quê ele nos deu: a verdade da nossa filiação divina! Somos pessoas dignas de
serem amadas pelo Pai! Antes de qualquer atitude nossa, antes de qualquer escolha
ou decisão que pudesse nos tornar sujos, imundos, ou até mesmo indignos de
sermos amados, Deus derramou a água pura do batismo sobre a nossa cabeça, para
nos tornar conscientes de que Ele escolheu nos amar incondicionalmente. Antes de
escrevermos qualquer palavra ou frase no livro da nossa vida terrena, Deus
escreveu: “Você é meu filho amado”, “Você é minha filha amada”. Nenhuma atitude
nossa tem força suficiente para apagar do livro da nossa vida esta verdade, nem
mesmo a decisão que muitos, por estarem decepcionados com a Igreja, tomaram de
rejeitar o próprio batismo, afirmando publicamente: “Não em meu nome!”.
Apesar da importância absoluta do
batismo em nossa vida, ele não é um ponto final ou um ponto de chegada, mas um
ponto de partida. A água do batismo, que foi derramada em nossa cabeça, pede
para continuar a escorrer pelo chão da nossa existência. Com efeito, o apóstolo
Paulo afirma que “todos os que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são
filhos de Deus” (Rm 8,14). Portanto, o que torna verdadeiro e comprovado o
nosso batismo não é o seu registro em um livro da Igreja, mas a sua vivência no
livro da nossa vida diária; é aquela decisão nem sempre fácil de ser tomada: “quero
conduzir minha vida a partir da voz do Espírito Santo em minha consciência e
não a partir da voz do meu ego”. Viver segundo o Espírito que recebemos no
batismo significa viver como Jesus: ele “foi ungido por Deus com o Espírito
Santo e com poder (no momento do batismo.
A partir daí...). Ele andou por toda a parte, fazendo o bem...” (At 10,38).
Tomar
consciência do próprio batismo significa tomar consciência da própria missão.
Assumir a verdade do nosso batismo significa assumir nosso lugar na vida, na
história da salvação. A voz do Espírito Santo nos convida a cada dia a assumir
nossa missão, que é única e intransferível. Assim como o Servo de Deus,
mencionado no texto do profeta Isaías, nossa missão consiste em “promover o julgamento”
(Is 42,1), lembrando que “julgar” significa “separar”: o batizado tem
consciência de que precisa aprender a separar, a distinguir a verdade da mentira,
a justiça da injustiça, o que convém à sua salvação e o que não convém.
A
atitude do batizado é a de não quebrar uma cana rachada nem apagar um pavio que
ainda fumega; mas promover o julgamento para obter a verdade (cf. Is 42,3). Trata-se
de agir com paciência e misericórdia, tanto consigo quanto com os outros,
sobretudo com aqueles que “demoram” para se corrigir dos seus erros. Isso,
porém, não significa não ter pulso, não ser firme e, muito menos, permitir que
a pessoa continue a prejudicar os outros com suas atitudes. Toda intervenção de
um batizado é sempre no sentido de fazer prevalecer a verdade, ainda que ela “machuque”
ele mesmo ou aquele que está errando.
Enfim,
consciente de que ele vive num mundo com valores invertidos, um mundo que diz
crer em Deus, mas rejeita a verdade da sua Palavra, o batizado tem consciência
de que sua missão será marcada pela ingratidão, pelo sofrimento e pela oposição
de pessoas que não querem se confrontar com a verdade. Ciente disso, ele é
convidado pelo Espírito de Deus a não desanimar, não se deixar abater, até que
restabeleça a justiça no meio em que se encontra (cf. Is 42,4). Foi essa a
consciência de Jesus em insistir em ser batizado por João: “nós devemos cumprir
toda a justiça!” (Mt 3,15). Eis, portanto, a meta existencial de cada batizado:
configurar-se ao Filho de Deus, esforçando-se diariamente em viver como uma
pessoa justa, isto é, uma pessoa que deseja “ajustar-se” à vontade do Pai que
convida cada filho Seu a viver segundo a verdade, o direito e a justiça.
ORAÇÃO:
Deus Pai, em comunhão com Teu Filho Jesus humildemente me coloco diante do céu
aberto do Teu coração, para suplicar pela água viva do Teu Espírito! Banha-me, Pai,
nas Tuas águas! Aviva-me de novo! Derrama sobre o chão árido da minha
existência a água viva do Espírito Santo.
Que
a Sua graça desobstrua a minha fonte interior e faça voltar a jorrar a água
viva da fé, da alegria e da esperança em minhas atitudes. Pronuncia mais uma
vez a verdade do Teu amor para comigo e para com cada ser humano – “Tu és o meu
Filho amado!”.
Quero
assumir a verdade do meu batismo, deixando-me conduzir pelo Espírito Santo e assumindo
o meu lugar na história da salvação. Quero abraçar a missão de restaurar a vida
que se encontra ferida à minha volta, permanecendo firme na luta diária pelo
restabelecimento da verdade e da justiça em nosso mundo. Por Jesus Cristo, Teu
amado Filho, na comunhão com o Espírito Santo. Amém!
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