sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

ONDE ENCONTRAR A RESPOSTA QUE VOCÊ PROCURA, A CURA QUE VOCÊ NECESSITA E A MUDANÇA QUE VOCÊ DESEJA?


Missa do 5º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 6,1-2a.3-8; 1Coríntios 15,1-11; Lucas 5,1-11.

            Não é todo dia que “o mar está pra peixe”. Pelo contrário; existem dias em que “o mar definitivamente não está pra peixe”: são aqueles dias em que não alcançamos nossos objetivos e nos sentimos fracassados em nossos esforços. Na vida, sempre há momentos em que fazemos a mesma experiência dos primeiros discípulos de Jesus: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos” (Lc 5,5). Em alguns momentos, a experiência do fracasso visita a nossa vida financeira, profissional; em outros, ela visita a nossa vida afetiva, relacional; em outros ainda, ela visita a nossa própria vida espiritual.
            Ao narrar este milagre das redes que se encheram de peixes, o evangelista Lucas quer chamar a nossa atenção para a importância da Palavra de Deus em nossa vida. Foi ela que iluminou a noite escura daqueles pescadores; foi ela que falou ao coração deles, tomado pela sensação de derrota; foi ela que fez Pedro reagir de uma maneira firme diante do fracasso que estava enfrentando: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes” (Lc 5,5). Mas o que especificamente Jesus disse a Pedro? Ele disse: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5,4).
            Jesus está nos dizendo algo muito concreto: nós temos que sair da margem e ir aonde as águas são mais profundas! Perceba que o Evangelho se inicia insistindo na palavra “margem”: “Jesus estava na margem do lago de Genesaré... Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago... Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem” (Lc 5,1-3). Margem é sinônimo de superficialidade. Nós temos nos tornado pessoas cada vez mais superficiais, seja porque não temos tempo para aprofundar nada, seja porque temos medo de nos aprofundar em algo. Mas a resposta está justamente nessa atitude: se quisermos mudar a situação das nossas redes vazias, temos que perder o medo e deixar de lado a preguiça em ir para o profundo.
            As redes de muitas igrejas e de muitos pregadores do Evangelho estão vazias por causa da superficialidade com que as coisas são realizadas. Essas pessoas, além de terem uma espiritualidade superficial, fazem um trabalho pastoral superficial, tratando seus fiéis de maneira igualmente superficial. Quem se acomoda na margem, quem tem preguiça em ir para o profundo, continuará trabalhando a noite toda e suas redes continuarão vazias. Além disso, se as redes de grande parte das nossas paróquias estão praticamente vazias de jovens, é porque muitos de nós, líderes religiosos, não levamos a sério esta verdade, dita há anos pelo Pe. Zezinho: “É preciso pescar diferente”.
            Jesus desafiou Pedro a pescar diferente. Não se pesca de dia, mas de noite! No entanto, Jesus desafiou Pedro a fazer algo totalmente diferente, e Pedro, ao obedecer a Jesus, viu algo surpreendente: suas redes se encheram de peixes em plena luz do dia! A resistência ao novo e o apego ao velho está há muito tempo matando nossas comunidades e impedindo nossa Igreja de se renovar. Nossas paróquias deveriam ser “centros irradiadores de vida”, segundo o Documento de Aparecida, mas são, na sua grande maioria, lugares onde, quem nos visita, sente cheiro e gosto de morte, uma morte mantida e alimentada pela mesmice de sempre das nossas celebrações, dos nossos ritos e da nossa “pastoral de manutenção”, que não aceita converter-se em “pastoral decididamente missionária”. Alguns entre nós não têm por que reclamar: colhem aquilo que plantam. Se as suas redes estão vazias é porque não aceitam mudar a sua maneira de pescar.
            Saindo do campo pastoral, vamos agora olhar essa questão do aprofundamento dentro do campo pessoal. É normal em todo ser humano a tendência a acomodar-se e a gostar mais de ficar na margem do que ir para lugares profundos. Pescar diferente dá trabalho; por isso, acabamos fazendo as coisas sempre do mesmo jeito na vida familiar, profissional, relacional e também espiritual. Dentro de nós sentimos que algo está errado, percebemos que o desgaste da rotina está matando as coisas que mais amamos (quando não, nos destruindo), mas continuamos a agir do mesmo jeito, seja pelo medo de mudar, seja pela preguiça em mudar. Mas Jesus continua a nos lançar um desafio: “Avance para águas mais profundas”, isto é, ‘pare de ser superficial com você, com os outros e com Deus’.
            A título de verificação do quanto temos nos tornado pessoas superficiais, vejamos esta frase de Santo Agostinho: “As pessoas viajam para admirar a altura das montanhas, as imensas ondas dos mares, o longo percurso dos rios, o vasto domínio do oceano, o movimento circular das estrelas, e, no entanto, elas passam por si mesmas sem se admirarem” (Santo Agostinho). As respostas para as nossas questões mais importantes estão dentro de nós, não fora; estão no profundo de nós mesmos, não em nossa superfície. Infelizmente, quando as pessoas se cansam de suas redes vazias, tomam a decisão equivocada de mudar de mar: mudam de casamento, de empresa, de curso, de igreja ou de religião; mudam o corte de cabelo, a maneira de se vestir, fazem uma nova tatuagem etc., mas, apesar de todas essas mudanças externas, elas não mudam por dentro; continuam a agir como sempre agiram, a repetir os mesmos erros, a pescarem do mesmo jeito e a reclamar de que suas redes continuam vazias.
            Como termina o Evangelho de hoje? Ele termina com uma profunda mudança em Pedro, até então um simples pescador de peixes. Jesus lhe diz: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens” (Lc 5,11). A primeira coisa que Jesus quer é que enfrentemos o nosso medo, o medo de fazermos as mudanças que sabemos serem necessárias em nossa vida, o medo de sairmos da margem de uma vida superficial e irmos para as águas mais profundas, o medo de ampliarmos o horizonte da nossa vida. O horizonte de Pedro estava muito estreito! Sua vida consistia em ir todas as noites para o mar, tentar pescar peixes e vendê-los no dia seguinte. Jesus quer ampliar o seu horizonte de vida, esse horizonte estreitado por uma busca egoísta de felicidade pessoal e imediata. Jesus convida também você a se tornar “pescador de homens”.
            A expressão “pescar homens” significa ajudar a salvar pessoas que estão em situações de risco de morte. Em todo e qualquer ambiente em que você se encontra em meio a outras pessoas, ali sempre há alguém correndo o risco de se afogar no erro e na autodestruição. Uma palavra sua, iluminada pelo Evangelho, pode ajudar essa pessoa a desejar sair do mar da destruição em que ela entrou por conta própria ou permitiu que alguém a jogasse ali. Portanto, que você tenha a mesma coragem do profeta Isaías. Quando ele ouviu Deus perguntar: “Quem enviarei (junto às pessoas que estão sofrendo)? Quem irá por nós (para dizer às pessoas que estão se prejudicando ou sendo prejudicadas por outros, que há uma saída, que elas não precisam viver debaixo dessa situação)?”, respondeu prontamente: “Aqui estou! Envia-me” (Is 6,8).

            ORAÇÃO

            Aqui estou, Senhor Jesus, com as minhas redes vazias, com as minhas experiências de fracasso. Aqui estou eu, habituado(a) a viver na margem, na superficialidade, às vezes com medo, outras vezes com preguiça de ir para as águas mais profundas.
            Fala ao meu coração, como o Senhor falou ao coração de Pedro. Ensina-me a pescar diferente, a fazer as coisas de maneira diferente. Concede-me coragem para abandonar as atitudes que estão mantendo minhas redes vazias e tornando inúteis os meus esforços. Hoje eu compreendo que não se trata de mudar de mar, mas de mudar a maneira de pescar, a maneira como eu tenho lidado com as situações.
            Torna-me uma pessoa profunda, uma pessoa que tem a coragem de ir para o profundo de si mesma, pois é no meu profundo que estão as respostas que eu procuro, a cura que eu necessito e a mudança que eu desejo para a minha vida, porque é ali, no mais profundo de mim mesmo(a), que habita a Tua verdade a meu respeito. Amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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