Missa do 15º.
dom. comum. Palavra de Deus: Amós 7,12-15; Efésios 1,3-14; Marcos 6,7-13.
Nós estamos intimidados diante do
mundo: intimidados diante da violência e do mal das drogas, intimidados diante
das injustiças e dos sofrimentos humanos, intimidados diante do poder econômico
e da corrupção, intimidados diante de tantas doenças e de tanta dor,
intimidados diante dos conflitos que vivenciamos no seio da família ou no
ambiente de trabalho. Todavia nós, cristãos, jamais deveríamos aceitar ser
intimidados pelas dificuldades e pelos problemas da vida, pois a Escritura
afirma: “Deus não nos deu um espírito de medo, mas de força” (2Tm 1,7). Todo
cristão é uma pessoa ungida pela força do Alto, pelo Espírito de Deus, chamado
a viver à altura dessa unção, consciente de que o Espírito que o anima e
sustenta jamais vai levá-lo a intimidar-se diante da realidade que a cerca.
Por nunca ter se intimidado diante
da realidade, Jesus continua a chamar cada um de nós, discípulos seus, e nos
enviar para junto de todas as pessoas que necessitam ser alcançadas pela força
transformadora do Evangelho. Assim como o lugar do médico é junto da pessoa
doente e o lugar do advogado é junto da pessoa que precisa de defesa, assim o
nosso lugar como cristãos é junto de toda pessoa que precisa ser ajudada,
defendida, resgatada, curada e salva. Assim como Deus enviou Isaías, Jeremias,
Ezequiel, Amós e os demais profetas para salvar seu povo da destruição, assim
hoje Ele envia cada um de nós como discípulos de seu Filho, enviado pelo Pai
com a missão de procurar e salvar todo aquele que está correndo o risco de se
perder (cf. Lc 19,10).
Cada um de nós é chamado a tomar
consciência de que é um “enviado”. Jesus nos envia para o seio da família, da
escola, do local de trabalho, para o seio da sociedade, com a missão de nos colocar
junto de toda pessoa que precisa receber a palavra da verdade, o Evangelho que nos
salva (cf. Ef 1,13). Neste sentido, precisamos superar o medo de nos colocar
diante do outro, diante do diferente; o medo de não saber o que fazer diante da
dor, da injustiça ou do sofrimento que atinge o outro. Quando sentimos esse
medo, precisamos nos lembrar de que Jesus, ao nos enviar, sempre nos reveste do
poder do Espírito Santo, para afastarmos o espírito do mal da vida das pessoas.
Toda pessoa enviada nunca é enviada
em seu próprio nome, mas em nome de alguém: Jesus foi enviado pelo Pai e nós somos
enviados por Jesus. Não estamos ali em nosso próprio nome ou por nossa própria
vontade, mas obedecendo a um envio, a uma missão que nos foi confiada: “Vai
profetizar para Israel, meu povo” (Am 7,15). Assim como fez com Amós, o Pai nos
convida a sair de nossas seguranças para colocar os pés no terreno do incerto;
sair dos espaços onde nos sentimos fortes e protegidos para arriscar-nos a
transitar por lugares onde somos frágeis e desprotegidos. Deus nos envia para
entrarmos em contato com a realidade das pessoas e nos deixarmos afetar pelo
drama da vida delas. Quando nos mantemos distantes da realidade das pessoas,
acabamos colaborando para que elas sintam Deus distante e indiferente à dor
pela qual estão passando. Um cristianismo intimidado ou acomodado acaba
alimentando o ateísmo no mundo, isto é, a sensação de que Deus não existe ou,
se existe, não se importa com o ser humano.
Jesus nunca se acomodou. Ele não
permaneceu num único lugar, nem se fechou em uma casa, mas sempre se colocou a
caminho; sempre fez questão de estar junto das pessoas que sofriam. É assim que
Ele nos quer como seus discípulos: em movimento, desacomodados, não intimidados
pelo mundo. Ao recomendar que não levemos “nada para o caminho, a não ser um
cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura” (Mc 6,8), Jesus nos quer
livres e disponíveis, não preocupados com o nosso próprio bem-estar, mas
preocupados em sermos testemunhas do essencial, pessoas que não se apoiam nos
recursos financeiros e na tecnologia para evangelizar, mas que confiam na força
própria do Evangelho que, quanto mais anunciado a partir da simplicidade e da
autenticidade do evangelizador, mais transforma a vida daqueles que o recebem.
Eis uma segunda recomendação de
Jesus: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida” (Mc 6,10). Não
devemos ser superficiais com as pessoas; precisamos “ficar” com elas, nos
deixar afetar pelo que elas estão vivendo, e não simplesmente “passar” por
elas. Por fim, Jesus faz uma última recomendação: “Se em algum lugar não vos
receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés”
(Mc 6,11). Sempre que nos dispomos a sair do conhecido e enfrentar o
desconhecido, corremos o risco de experimentar a rejeição ou mesmo a agressão. O
mal e a injustiça que tanto ferem a humanidade jamais vão nos receber de braços
abertos; pelo contrário, vão combater contra nós, na esperança de nos fazer
desistir. É aí que entra o conselho de Jesus: devemos sacudir a poeira dos pés,
no sentido de não nos deixar contaminar pelo desânimo e pelo pessimismo só
porque não fomos acolhidos em nossa tentativa de ajudar determinada pessoa.
Ainda que nossas intenções sejam as melhores, precisamos contar com o fato de
que nem todos os doentes querem ser curados de suas doenças, assim como nem
todos os prisioneiros querem ser libertos de suas prisões...
“Então os doze partiram e pregaram
que todos se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos
doentes, ungindo-os com óleo” (Mc 6,12-13). Todos nós precisamos de conversão,
porque os nossos valores estão invertidos: o supérfluo tomou o lugar do
essencial e o essencial passou a ser tratado como supérfluo por nós. Essa
inversão de valores tem adoecido nossos relacionamentos e, consequentemente,
nossas famílias, nossos locais de trabalho, nossa sociedade. Nós nos tornamos
uma humanidade mentalmente adoecida, exposta aos ataques de “demônios” como a
depressão, o pânico, a esquizofrenia, a angústia, a ansiedade etc. No entanto,
Jesus nos deu poder sobre esses demônios; precisamos confiar nisso. Jesus nos
ungiu com o Espírito Santo; precisamos levar essa unção para todos aqueles que
dela precisam. Não nos omitamos diante da missão que nos foi confiada.
Lembremos mais uma vez: o lugar do médico é junto daquele que está doente. O nosso
lugar como cristãos é junto de toda pessoa que não está sendo alcançada pela
“pastoral de manutenção” da nossa Igreja.
“Saiamos,
saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo... Prefiro uma Igreja
acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja
enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não
quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado
de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e
preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a
força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium 49).
Vejo claramente a abertura ao Espirito Santo em todas as suas mensagens, padre. Maravilhosas, profundas, que nos encoraja, em meio às limitações, e nos faz avaliar como ser um verdadeiro cristão. É desafiador...é uma luta diária...mas preciso entrar no exercício dos pequenos gestos de conversão. Agradeço a Deus por tua vida e missão. Lucilene Cabrera - Bebedouro (SP)
ResponderExcluirMuito obrigado, querida Lucilene! Reze por mim, para que eu me esforce em viver segundo aquilo que escrevo e anuncio. Deus te abençoe!
Excluir