Missa do 32º.
dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 6,12-16; 1Tessalonicenses 4,13-18;
Mateus 25,1-13.
Quando uma pessoa nasce, dizemos que
ela veio à luz. Para nós, cristãos, além do nascimento biológico existe também o
nascimento espiritual, quando, no momento do batismo, somos declarados filhos
de Deus e recebemos, por meio de nossos pais e padrinhos, a luz da fé, luz que
deve nos guiar ao longo de toda a vida, até que nos encontremos definitivamente
com o Deus que é luz.
O
Evangelho de hoje nos pergunta se estamos cuidando da luz da nossa fé. Tudo
aquilo que nós não cuidamos, acabamos perdendo. É a lei da vida. Embora a fé
seja um dom de Deus para nós, ela também é uma responsabilidade nossa: cada um
de nós é chamado a cuidar da sua própria fé, alimentando-a, protegendo-a,
defendendo-a e mantendo-a viva para o encontro com o Senhor. Embora a nossa fé
tenha sido inicialmente recebida de outros – pais, padrinhos, Igreja etc. – ela
se torna ao longo da vida nossa tarefa pessoal, algo que depende, e muito, do
nosso cuidado.
“Dá-nos
um pouco de óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando”... “De modo nenhum,
porque o óleo pode ser insuficiente para nós e para vós” (Mt 25,8-9). Quando se
fala de fé, não dá para pegar carona nos outros; cada um tem que cuidar da sua
própria fé. Não tem sentido uma pessoa viver pedindo que os outros orem por
ela, quando ela mesma não cuida da sua vida de oração. Não tem sentido uma
pessoa dizer que gostaria de ter uma fé mais firme, mas não fazer nada de
concreto para fortalecer a sua fé. A fé exige que cada um de nós se posicione
diante de Deus e diante da vida, sem tentar se esconder atrás dos outros e sem
usar os outros como desculpa para justificar o tipo de fé que nos sustenta
neste momento.
O Evangelho aborda o desafio
principal da nossa fé: “O noivo estava demorando” (Mt 25,5). Essa demora do “noivo”
significa que nós não podemos dispor de Deus; Ele vem a nós quando e como quer;
Ele é livre e soberano na Sua vontade e não se deixa prender nos nossos
esquemas, nem mesmo nas expectativas da nossa fé. E o grande risco para a nossa
fé é que nós interpretamos essa “demora” de Deus como sinônimo da Sua ausência
ou do Seu desinteresse por nós e pela história humana... Uma vez que o noivo
estava demorando, as dez jovens “acabaram cochilando e dormindo” (Mt 25,5). Isso
nos lembra que inúmeras pessoas hoje perderam o horizonte da sua fé. Elas se
esqueceram de que sua vida caminha para uma meta, para o encontro com o Senhor.
São pessoas que permitiram que sua consciência fosse anestesiada, distraída,
confundida com falsos valores, propostos pelo mundo atual. Elas estão cuidando
de muitas coisas, mas descuidando do essencial.
Se a nós não cabe controlar Deus,
cabe cuidar da reserva de óleo da nossa lâmpada. E aqui entra um outro
problema, muito comum nos dias atuais: o improviso. Já conhecemos o ditado que
diz que “brasileiro deixa tudo para a última hora”. Nós até sabemos o que
precisamos fazer, para que não falte óleo nas nossas lâmpadas, mas apostamos na
“sorte”; apostamos que, na hora, Deus dará um jeito; na hora, as coisas se
resolverão por si mesmas. E, assim, nos tornamos tão inconsequentes quanto o
piloto do avião da Chapecoense que, pelo que se sabe, costumava apostar na
reserva do combustível do seu avião... Portanto, ter reserva de óleo significa
ter consciência de que a nossa fé não pode ser miserável, não pode viver de
improviso, de remendo, não pode contentar-se em funcionar mais ou menos. Ter
reserva de óleo significa abastecer-se diariamente de Deus para poder enfrentar
o embate da vida diária que, com seus fortes ventos, muitas vezes sopra contra
a nossa fé.
O convite de Jesus é claro: “Ficai
vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora” (Mt 25,13). Em que
sentido Jesus nos convida à vigilância? No sentido de esperá-Lo: “Minha alma
espera pelo Senhor, mais do que o vigia espera pela aurora” (Sl 130,6). Assim
como a esposa espera pelo seu Esposo, a Igreja/nós, cristãos, esperamos pelo
Senhor Jesus. Na verdade, Jesus vem ao nosso encontro todos os dias, na
Palavra, na Eucaristia, nos acontecimentos e, sobretudo, na pessoa de alguém
que precisa de nós. A nossa fé sempre deve traduzir-se em esperança, pois Jesus
Cristo virá “para aqueles que o esperam para lhes dar a salvação” (Hb 9,28). A
esperança nos faz não apenas suportar as dificuldades presentes, mas nos ajuda
a lidar com elas sem nos deixarmos contaminar pela apatia ou pela indiferença
diante da vida, sabendo que nós não estamos aqui por acaso. O nosso destino
último é o encontro com Deus e com a salvação em seu Filho Jesus Cristo.
Pensemos em nossa reserva de óleo...
Que tempo temos reservado para cuidar da nossa fé, da nossa espiritualidade?
Que tempo reservamos diariamente para a oração, para a meditação da Palavra,
para o encontro com Deus em nossa consciência? Que tempo reservamos para cuidar
dos relacionamentos que nos são significativos? Tudo na vida se desgasta.
Nossos recursos sempre se esgotam, não só os recursos materiais, mas também os emocionais
e espirituais. Aquilo que não cuidamos, perdemos. Não teria sentido nós
nadarmos, nadarmos, para depois morrermos na praia. Não teria sentido nós
caminharmos a vida toda na expectativa do encontro com o Senhor, mas depois
abandonarmos essa meta, perdendo-nos d’Ele. Nossa fé não pode se esgotar naquilo
que estamos vendo e experimentando agora. Ela precisa se desdobrar em
esperança, abrindo-nos para aquilo que Deus tem de surpresa, de mudança para a
nossa vida. Quanto mais fica escuro e quanto mais o noivo demora, mais se torna
necessário o cuidado com a luz da nossa fé, sustentando-a com o óleo da
esperança, pois, como diz a Escritura, “a Ti, Senhor, eu me elevo, ó meu Deus.
Eu confio em Ti; que eu não fique decepcionado... Os que esperam em Ti não
ficam decepcionados; ficam decepcionados os que abandonam a fé por qualquer
motivo” (Sl 25,1-3).
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