Missa do 4º.
dom. comum. Palavra de Deus: Sofonias 2,3; 3,12-13; 1Coríntios 1,26-31; Mateus
5,1-12a.
Algumas pessoas se casam porque
querem ser felizes. Outras se separam pelo mesmo motivo. Algumas pessoas
decidem ter filhos porque desejam ser felizes. Outras decidem não tê-los pelo
mesmo motivo. Para experimentar momentos de felicidade, muitas pessoas bebem e
se drogam; outras, compram, consomem e procuram prosperar financeiramente, mas,
no fim de tudo, essa tal felicidade parece sempre escapar por entre os dedos, e
o lugar dela acaba sendo ocupado pelo vazio, pela angústia, pela tristeza, pela
falta de sentido...
Como dizia o grupo Titãs, na música
“Comida”, nos anos 80, “a gente não quer
só dinheiro; a gente quer dinheiro e felicidade. A gente não quer só dinheiro;
a gente quer inteiro e não pela metade”. Este é o fato: nós queremos inteiro e não pela metade.
Esta é a verdade: o ser humano não busca unicamente satisfazer suas
necessidades básicas como alimento, abrigo, segurança, afeto... Na alma de cada
um de nós há um anseio por felicidade, um anseio que se expressa em perguntas
do tipo: Onde eu posso ser feliz? De que maneira minha vida pode encontrar
sentido? Como eu posso me sentir uma
pessoa realizada?
O mundo em que vivemos nos oferece
falsas respostas para a nossa pergunta a respeito da felicidade, procurando nos
convencer de que nós só seremos felizes quando todos os nossos desejos forem
satisfeitos. Mas, quantas vezes você já fez a experiência de ter alcançado algo
que tanto desejava e, depois disso, perceber que não era bem isso que queria? Aquilo
não te preencheu e você chegou à conclusão de que ainda falta algo, algo que
não te pode ser dado pelo que você come, nem pelo que você veste, nem pelo que
você compra, nem pelo que você goza, nem pelo que você constrói...
Dizem que às vezes a vida nos vira do avesso só para nos mostrar que a felicidade
vem de dentro para fora. Jesus, no Evangelho de hoje, está fazendo
justamente isso: virando do avesso a nossa compreensão de felicidade. Segundo
Jesus, a felicidade começa a nascer em nós quando nos tornamos “pobres em
espírito” (v.3), isto é, pessoas cuja única segurança, única esperança e único
apoio é Deus, pessoas que reconhecem sua própria fraqueza, miséria e
imperfeição, e que sabem da absoluta necessidade que têm de serem salvas por
Deus. Daí o conselho do profeta Sofonias: “Procure ser uma pessoa humilde e
justa, e coloque sua esperança unicamente no Senhor” (citação livre de Sf 2,3).
Jesus também vira do avesso a nossa
compreensão de felicidade ao afirmar que felizes são os que choram (v.4), os
que têm fome e sede de justiça (v.6), os que são perseguidos por se esforçarem
em se comportar de maneira justa (v.10), segundo os valores do Evangelho
(v.11): são pessoas que compreenderam que a
felicidade não está em não experimentar nenhum tipo de DESOLAÇÃO ao longo da
vida, mas em suportar certas desolações aguardando a verdadeira e única CONSOLAÇÃO
que só pode vir do Deus da Verdade e não das mentiras do mundo.
Por fim, para a nossa geração, cada
vez mais convencida de que a nossa sobrevivência neste mundo depende de
abandonarmos atitudes como ser humilde, misericordioso, puro de coração e
pacífico, Jesus nos ensina que somente recuperando esses valores é que nós,
particularmente, e a humanidade como um todo, reencontraremos o caminho para a
felicidade. Portanto, cuidado com pessoas que, querendo consolar você, querendo
ver você bem, dizem aquilo que você mais gostaria de ouvir: “Deus quer que você
seja feliz”, mas a “felicidade” proposta
supõe que você se feche no seu próprio egoísmo, que você faça os outros
sofrerem com a sua decisão, que você abandone sua própria cruz e se afaste da
verdade de Deus para a sua vida.
Numa sociedade de contra valores
como a nossa, precisamos desconfiar das inúmeras propagandas e propostas de
felicidade que nos são apresentadas. Ao invés de recebermos passivamente e sem
reflexão tudo aquilo que os meios de comunicação despejam dentro de nós como se
fôssemos uma espécie de “esgoto”, precisamos usar o FILTRO da nossa
consciência, orientada pela Palavra de Deus, para separarmos o que presta do
que não presta, o que realmente convém e
o que não convém à nossa felicidade, tendo muito claro esta verdade: “Deus
escolheu o que o mundo considera como fraco, para assim confundir o que é
forte; Deus escolheu o que para o mundo é sem importância e desprezado, o
que não tem nenhuma serventia, para assim mostrar a inutilidade do que é
considerado importante” (1Cor 1,27-28).
Por fim, lembre-se de que a sua
felicidade não depende de você não ter nenhum problema ou de não experimentar nenhuma
frustração, mas da forma como você lida com seu problema, com sua frustração;
ela não depende de você não sentir nenhum tipo de dor ou de tristeza, mas de
você procurar dialogar com tais sentimentos e entender por que eles estão ali e
o que eles estão querendo te dizer; ela não depende da quantidade de “amigos”
que você tem nas redes sociais e de quantas “curtidas” aquilo que você publica
recebe, mas da pessoa que você é no convívio real com os outros e dos valores
que norteiam a sua consciência. Mais do que procurar o tempo todo ser feliz,
procure fazer alguém feliz, e você encontrará a felicidade que procura.
Pe. Paulo Cezar Mazzi