Não é coisa do outro mundo
entrar em briga consigo mesmo! Há gente que se desgasta batendo de frente com
sua imagem no próprio espelho. Entrar em conflito com os sinais de
envelhecimento, rejeitando os cabelos brancos e as rugas na testa parece uma
reação natural de quem só se enxerga pelo lado de fora. Debruçar-se sobre os
erros do passado, vai deixando a pessoa sem forças para investir no presente e
desencorajada na construção do futuro.
Um dos importantes segredos do
bem viver é cultivar a reconciliação consigo mesmo. Dizer “sim” ao que sou é
dispor-se a integrar tudo o que faz parte de minha história: capacidades e
forças, fraquezas e conflitos, medos e tendências depressivas, potencialidades
e debilidades. Aceitar-se como se é, sabendo que Deus nunca nos procura onde
deveríamos estar, mas onde estamos, nem como deveríamos ser, mas como somos.
Este é o primeiro passo de reconciliação.
Aceitar-se não significa
acomodar-se, mas querer superar-se partindo do primeiro degrau onde nos é
possível colocar os pés. Quando nos sonhamos ideais, sem aceitar-nos no real,
terminamos nos tornando eternos insatisfeitos. Aceitar-nos é começar pelo real,
percorrendo degrau por degrau na grande ascensão de uma vida rica de sentido.
Para fazer este caminho de
reconciliação, preciso olhar com olhos de amor para aquilo que não gosto em
mim, para aquilo que me põe em desconforto com minha auto-imagem. Isto não se
faz por um decreto imediato, mas por um processo permanente de resgate da
esperança que somos para nós mesmos, baseados na credibilidade de Deus que nos
ama primeiro.
Eu não sou os meus defeitos! Eu
não sou minhas sombras e pecados! Carrego comigo a “imagem e semelhança de
Deus”, como uma vida em projeto. Esta imagem não fica enterrada por um mal que
acontece em mim, nem por um defeito apontado por alguém. Eu sou muito mais do
que pareço, muito melhor do que pensam e muito maior do que meu tamanho. “Sou o
que sou diante de Deus!” E diante d’Ele não existem desenganados, mas sempre
possibilidades de mais vida.
Reconciliar-se consigo mesmo
não é um exercício de um dia para a vida toda. É um processo da vida toda a ser
reassumido cada dia. Mesmo quando acreditamos que já nos reconciliamos conosco
mesmos, sempre aparecem fraquezas que nos irritam, que gostaríamos de negar.
Neste momento, devemos novamente dizer “sim” a tudo o que está dentro de nós.
Dentro desta perspectiva damos
razão às palavras de São Francisco: “Irmãos, comecemos hoje tudo de novo,
porque até agora, pouco nada fizemos.” Esta convicção não é um lance de
pessimismo. Ao contrário, é um grito de esperança naquele potencial de vida
nova e surpreendente que carregamos conosco e não podemos sufocar com o
comodismo e a mediocridade.
Para nossas sombras há sempre
uma luz maior para dissipá-las!
Para nossos defeitos há sempre
qualidades melhores para superá-los!
Para nossas cruzes há sempre
uma ressurreição garantida em Cristo!
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