Missa da Santíssima Trindade. Palavra de
Deus: Provérbios 8,22-31; Romanos 5,1-5; João 16,12-15
Deus não tem imagem. Por quê? Porque, da
mesma forma que nenhum recipiente poderia conter dentro de si toda a água do
oceano, assim também nenhuma imagem que pudéssemos fazer de Deus poderia conter
ou expressar tudo aquilo que Ele é. Deus não tem imagem porque Ele é sempre
mais e sempre maior do que aquilo que podemos experimentar ou imaginar. Deus
não tem imagem porque Ele é surpreendente: Ele sempre se manifesta em nossa
vida de um modo que nunca poderíamos imaginar.
Embora Deus não tenha imagem, todo ser
humano forma, ao longo da vida, alguma imagem de Deus dentro de si. Enquanto
algumas dessas imagens aproximam a pessoa daquilo que Deus é, outras afastam.
Enquanto algumas dessas imagens ajudam a curar e libertar pessoas, outras
colaboram para adoecê-las e aprisioná-las no medo ou na ignorância. Cada um de
nós imagina Deus de uma forma, mas quantas ideias erradas nós formamos a
respeito de Deus? Além disso, quantas pessoas desistiram de crer em Deus porque
a nossa linguagem sobre Ele é – e sempre será – imperfeita e limitada?
A melhor forma de nos aproximarmos do
mistério da Santíssima Trindade, deste Deus que, embora sendo o único e
verdadeiro Deus, se revelou a nós como Pai, Filho e Espírito Santo, é fazer
como foi pedido a Moisés, quando tentou se aproximar do mistério da sarça
ardente: “Não se aproxime daqui; tire as sandálias dos pés porque o lugar em
que você está é uma terra santa” (Ex 3,5). Antes de nos aproximarmos do
mistério de Deus – mistério porque Ele sempre nos transcende – precisamos ficar
descalços, isto é, precisamos esvaziar a nossa mente e o nosso coração de tudo
aquilo que julgamos já saber a respeito de Deus, para que Ele nos dê o
verdadeiro conhecimento de Si. ‘Tirar as sandálias’ também significa saber que Deus
não é um ídolo do qual possamos nos apropriar e usar em nosso benefício, mas
três Pessoas a serem acolhidas em nossa casa interior: a pessoa do Pai que nos
criou, a pessoa do Filho que nos salvou e a pessoa do Espírito Santo que nos
marcou para o dia da redenção final.
O Pai, o Filho e o Espírito Santo são
três pessoas, mas um único Deus. Eles estão sempre juntos, unidos na mesma
missão de conduzir o ser humano à verdadeira Vida. São três pessoas diferentes,
mas um respeita o outro, um ajuda o outro, porque um ama o outro. Isso tem algo
importante a nos dizer, já que a dificuldade de convivência com as pessoas tem
nos levado cada vez mais a optar por ficarmos sozinhos. Nós passamos a evitar
estar juntos para não nos machucar. Até mesmo a nossa fé passa a ser vivida
assim: em casa, separada de uma comunidade, porque já nos decepcionamos não
poucas vezes com algumas pessoas da igreja.
Talvez a imagem da nota musical nos
devolva o desejo de voltar a viver em comunhão com as pessoas. Cada um de nós é
como uma nota musical. Sozinhos, não produzimos música alguma, mas também sem
nós falta uma nota para que a música fique boa, agradável e completa. Nós
sofremos muito e gastamos muita energia emocional tentando mudar os outros, mas
o melhor seria que procurássemos amar as pessoas como elas são. Deus nos ama assim,
como somos, e no Seu amor procura nos ajudar a crescer, melhorar e amadurecer
todo o nosso potencial.
Se temos enfrentado muitas tribulações
em nossos relacionamentos, saibamos enxergar tais tribulações como
oportunidades para exercitarmos a perseverança no amor, uma perseverança que
comprovará em nós a virtude, a força do Espírito de Deus em nós. Esta virtude
comprovada, por sua vez, nos abrirá para uma esperança que não decepciona,
porque ela nasce do amor do Pai e do Filho que foi derramado em nosso coração
por meio do Espírito Santo (cf. Rm 5,3-5).
Nós ainda não somos capazes de
compreender muitas coisas, nem a nosso respeito, nem a respeito dos outros e,
sobretudo, nem a respeito de Deus. Mas Jesus disse que o Espírito da Verdade
nos conduzirá à plena verdade. Peçamos ao Espírito Santo que apague/delete
todas as imagens erradas que possamos ter de Deus dentro de nós. Que Ele nos
abra ao verdadeiro conhecimento do Deus único, nos fazendo experimentar a
presença viva do Pai e do Filho em nós. Que Ele também restaure nossos
relacionamentos e nos ajude a respeitar o mistério de Deus presente em cada
pessoa, amando-a como ela é e ajudando-a a se tornar aquilo que é chamada a ser
como ser humano e como filho(a) de Deus.
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