Missa
da Ascensão do Senhor. Palavra de Deus: Atos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Lucas
24,46-53.
Tanto o texto dos Atos dos Apóstolos
como o Evangelho de hoje nos falam da despedida de Jesus em relação a seus
discípulos: Ele deve voltar para o Pai e de lá enviar o Espírito Santo
prometido. A Ascensão (elevação) de Jesus ao Céu nos lembra que viver também
significa despedir-se. Sempre chega o momento em que temos que nos despedir. A
criança se despede da infância para entrar na adolescência; o adolescente se
despede para entrar na juventude; o jovem também se despede para entrar na vida
adulta; o adulto, por sua vez, se despede para entrar na velhice; o idoso,
enfim, se despede para entrar na Vida definitiva.
Ora, toda despedida dói e causa
medo. Sentimos dor por aquilo que temos que deixar, e também sentimos medo
porque não sabemos o que nos espera naquela nova etapa da vida. Mesmo assim, a
despedida é necessária, porque a vida nos chama a crescer, a ir em frente, a atingir
a nossa plenitude humana e espiritual. Mesmo sabendo que os discípulos estavam
apreensivos, Jesus foi preparando este momento de subir para o Pai, deixando
claro que essa partida era necessária para que ele pudesse nos enviar o Espírito
Santo prometido.
Por mais estranho que pareça, a
verdade é que Jesus subiu ao céu e assentou-se à direita do Pai para estar ainda
mais perto de nós! A carta aos Hebreus afirma que Jesus entrou no céu para ser
o nosso intercessor diante do Pai (cf. Hb 9,24). Além disso, o apóstolo Paulo
afirma que Deus Pai ressuscitou Jesus dos mortos e o fez sentar-se à sua
direita nos céus, bem acima de toda autoridade, colocando tudo debaixo de seus
pés. Desse modo, devemos crer que nenhuma força que se oponha a nós na terra
tem mais poder sobre nós do que Jesus (cf. Ef 1,20.22). Portanto, todos os dias
precisamos colocar-nos debaixo do poder salvador de Jesus Cristo.
Neste dia da Ascensão de Jesus ao
céu, nós recebemos uma promessa: “Esse Jesus que vos foi levado para o céu,
virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). A ligação entre
Jesus e sua Igreja, entre a Cabeça da Igreja (Jesus) e seu Corpo (nós, membros
desse Corpo), é tão profunda e verdadeira que Jesus, antes de voltar para o Pai,
enviou Maria Madalena para anunciar aos discípulos: “Subo para meu Pai e vosso
Pai, para meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17). Jesus quer que nós estejamos
também um dia onde Ele se encontra agora (cf. Jo 17,24): na plena comunhão com
o Pai, no Céu.
Nós cremos
no Céu? Nós desejamos e temos esperança de estar no Céu com Jesus? A maioria
das pessoas vive hoje como se o Céu não existisse. Ora, quem não tem esperança
do Céu acaba por permitir que sua vida seja consumida pelo desespero aqui na
terra. Quem não tem medo de perder o Céu já perdeu tudo (cf. Mc 8,36-37). Quem
despreza o Céu está se privando da verdadeira e profunda alegria que só pode
vir de Deus, pois Jesus comparou a entrada no Céu à entrada na alegria de Deus:
“entra na alegria do teu Senhor!” (Mt 25,21).
Não nos esqueçamos de que crer,
esperar e desejar o Céu significa também esforçar-nos por tornar a terra um
lugar melhor, mais justo, mais humano, mais parecido com o Céu: “Quem não faz
nada para mudar este mundo não crê num mundo melhor. Quem não luta contra a
injustiça não crê num mundo mais justo. Quem não faz nada para mudar a terra
não crê no céu” (J. A. Pagola).
O mesmo Jesus que se elevou ao Céu sempre
se inclinou sobre o ser humano caído, ferido, desprezado e perdido. Antes da
elevação, deve existir o inclinar-se. Esta é a missão que Jesus confia a cada
um de nós: inclinar-nos para elevar os que estão caídos à nossa volta; despedir-nos de toda atitude de soberba, de arrogância, de elevação artificial
e mentirosa, esvaziar-nos do nosso ego tão inflado, para sermos, de fato, um
sinal do Céu para quem se encontra nos abismos que foram cavados pelos homens
na terra.
Preparemo-nos desde já para
Pentecostes. Especialmente nesta semana, peçamos ao Pai o dom do Espírito Santo
(cf. Lc 11,13). Esvaziemo-nos de nós mesmos; reconheçamos a nossa pobreza, a
nossa miséria, o nosso nada, a nossa fraqueza, e peçamos pelo socorro do Espírito
Santo. Humilhemo-nos debaixo da poderosa mão do Pai, pois a Sua graça resiste
aos soberbos, mas é concedida aos humildes (cf. 1Pd 5,5); supliquemos que Ele
se compadeça de nós e nos conceda uma presença renovada do Espírito Santo.
Peçamos ao Espírito Santo, que sonda as profundezas do coração humano (1Cor
2,10), que visite as nossas profundezas, bem como aqueles que se encontram nas
profundezas da sociedade humana, concedendo a todos nós a força de nos
elevarmos com Cristo e sermos, uns para os outros, uma presença do Céu já aqui
na terra.
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