sexta-feira, 29 de abril de 2016

FOCAR NO ESSENCIAL PARA RECUPERAR A PAZ

Missa do 6º. Dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos 15,1-2.22-29; Apocalipse 21,10-14.22-23; João 14,23-29.

            Na maior parte do tempo, temos a impressão de que a nossa vida funciona no “piloto automático”: ela se desenvolve dentro de uma rotina; rotina que nós nem sempre escolhemos, mas que nos é “imposta” pela realidade sócio-político-econômica – e por que não dizer também “religiosa”? – na qual estamos inseridos. Ora, viver no “piloto automático” de fato pode parecer mais fácil; no entanto, a vida nos surpreende com problemas e desafios que exigem de nós escolhas, decisões e tomadas de atitude, as quais nos obrigam a sair do “piloto automático” e assumir a responsabilidade que nos cabe pela direção da nossa própria vida.
            Um exemplo concreto: a Igreja de Jerusalém, até então funcionando no “piloto automático” de levar o Evangelho somente aos judeus, agora se vê “desorientada” com a conversão dos pagãos. E aí? Ela – a Igreja – deveria impor aos pagãos certas práticas religiosas que eram próprias dos judeus (circuncisão)? Buscando a orientação do Espírito Santo, os apóstolos se reuniram e concluíram que não deveriam impor coisa alguma aos pagãos, a não ser o essencial: manter-se fiéis ao Evangelho de Jesus Cristo.
            Aqui temos uma luz importante: diante de tantas propostas/opiniões, e de tantos conselhos/apelos que nos são dirigidos diariamente, seja pelas pessoas, seja pela mídia, devemos orientar as nossas escolhas/decisões/tomadas de atitude por aquilo que é essencial: o Evangelho de Cristo. A nossa própria Igreja foi desafiada, desde a Conferência de Aparecida (2007), a abandonar as suas “estruturas ultrapassadas” que não estão mais ajudando as pessoas de hoje a terem um verdadeiro encontro com Jesus Cristo (DAp, n.365). Estamos caminhando neste sentido? Nós, como Igreja ou pessoalmente, estamos abertos aos apelos que o Espírito Santo nos tem feito nos tempos atuais?
            O livro do Apocalipse nos trouxe hoje uma imagem da Igreja, prefigurada na Jerusalém celeste: ela tem doze portas, sendo três para o norte, três para o sul, três para o leste e três para o oeste, o que significa uma Igreja aberta a todos os povos – aberta para ir aos outros, a todos os outros, e aberta para acolher a todos. No entanto, esta acolhida só será efetiva, como nos mostrou a 1ª. leitura, se a preocupação maior da Igreja for aproximar as pessoas de Deus, e não verificar em que medida essas pessoas estão dentro das normas* da Igreja.
            Jesus nos faz hoje uma confortadora promessa: ele estará conosco e nos dará a sua assistência por meio do Espírito Santo. Precisamos, como fizeram os apóstolos, pedir a orientação do Espírito Santo, a fim de nos libertarmos das exigências de tantas orientações que nos mantém sob o peso da culpa, do medo, da ignorância religiosa e da condenação diante de Deus, e orientar a nossa vida para aquilo que é essencial, para aquilo que nos ajuda a viver segundo o Evangelho ensinado por Jesus. Aliás, o próprio Jesus garantiu que o Espírito Santo nos recordará e nos ajudará a compreender o seu Evangelho no dia a dia da nossa vida.
            Quando reorientamos a nossa vida para o essencial, encontramos a paz que tanto procuramos e que o próprio Jesus quer que tenhamos. Ele disse: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz”**. A paz que Jesus nos dá é Ele mesmo: “Ele é a nossa paz” (Ef 2,14). A paz de Jesus é a paz de quem prometeu ficar e caminhar conosco todos os dias, assistindo-nos com o seu Espírito. Então, verifique se o seu coração tem paz. Se não tem, é provável que você esteja focando não naquilo que é essencial para a sua salvação, mas no que é acidental, supérfluo e, portanto, totalmente desnecessário. Jogue isso fora e volte a focar no essencial.
          Por fim, Jesus nos diz hoje: “Não se perturbe nem se intimide o vosso coração”. Um coração perturbado e intimidado é um coração que se perde nas coisas urgentes, supérfluas e acidentais da vida, ao invés de cuidar do essencial. Jesus quer que você tenha um coração forte, animado pelo Espírito Santo e orientado pela verdade do Evangelho. Além disso, na sua convivência com as pessoas, tente perceber o quanto você perturba e intimida o coração delas por se prender a tantos detalhes, picuinhas e minúcias desnecessárias, ao invés de olhar para aquilo que é essencial na sua relação com elas.

*Obviamente, a questão não é: ou as normas, ou a essência do Evangelho. A questão é: em que medida esta ou aquela norma ajuda a viver segundo o Evangelho e em que medida se distancia da sua essência.

**Na última quinta-feira, os telejornais noticiaram um bombardeio num hospital da Síria, fazendo 24 vítimas e ferindo tantas outras. Por trás desta guerra absurda, que já dura cinco anos e matou até agora cerca de 500 mil civis, está o jogo de poder entre Estados Unidos e Rússia. Isso mostra que os presidentes desses dois países se distanciaram do essencial – a vida humana – e se perderam atrás de detalhes como petróleo, dinheiro (esses dois países também lucram muito com a venda de armas onde quer que existam guerras) etc.. Enquanto um cinegrafista filmava a catástrofe humanitária em que se encontra a cidade de Alepo, uma menina bem pequena que passava por ali, conduzida por uma mulher, olhou para câmera e perguntou: “O que foi que nós fizemos?”...

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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