sexta-feira, 15 de abril de 2016

ESCUTAR SIGNIFICA DEIXAR-SE CUIDAR

Missa do 4º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos 13,14.43-52; Apocalipse 7,9.14b-17; João 10,27-30.

Você consegue escutar? Seus ouvidos estão abertos ou fechados? Estão livres ou ocupados? Você tem conseguido ouvir seu próprio interior? Você tem interesse em ouvir a pessoa que convive com você? Você é capaz de ouvir Deus?
Ninguém escuta no barulho. Nós só conseguimos escutar quando silenciamos. Silenciar significa ter a coragem de afastar-se do barulho exterior, e também ter paciência, até que o nosso barulho interior se acalme e possamos voltar a ouvir Deus. “Se hoje você escutasse a sua voz!” (Sl 95,7), diz o salmista, convidando-nos a escutar o Senhor, que a cada dia, na sua Palavra, quer nos trazer a paz, nos curar, nos reorientar, nos animar, nos salvar.
Jesus, o Pastor que deseja nos conduzir para as fontes de água da vida (cf. Ap 7,17), disse: “As minhas ovelhas escutam a minha voz” (Jo 10,27). Escutar a voz do pastor é a única coisa que mantém uma ovelha junto daquele que pode cuidar dela. Assim, entendemos que escutar significa deixar-se cuidar. Enquanto você aceita ouvir Deus, ele pode cuidar de você. A partir do momento em que você decide não mais ouvir Deus, ele não tem mais como cuidar de você. 
Escutar também tem a ver com liberdade. A ovelha é essencialmente livre. Nada a mantém presa ao pastor: nenhuma corda, nenhum cabresto, nenhuma coleira. A única coisa que vincula a ovelha ao pastor é a voz dele. Deus, o Pastor, sabe que precisamos ouvir a sua voz para termos vida, mas ele respeita a nossa liberdade: “Ouve, meu povo, eu te conjuro, oxalá me ouvisses, Israel! (...) Mas meu povo não ouviu minha voz, Israel não quis obedecer-me; então os entreguei ao seu coração endurecido: que sigam seus próprios caminhos! (Sl 81,9.12-13).
A ovelha que livremente decide não mais ouvir a voz do seu Pastor coloca-se numa situação de autodestruição. Quantas feridas se abriram em nós, ou quantas feridas nós abrimos nos outros e na sociedade, unicamente por não querermos mais ouvir Deus? Quantos erros cometemos e quanto sofrimento causamos a nós e aos outros porque não quisemos mais ser cuidados por Deus e passamos a seguir os impulsos do nosso próprio egoísmo? Quanta dor e quanta injustiça poderiam ser eliminadas da nossa vida pessoal e social se cada um decidisse voltar a escutar Deus?      
Quando Paulo e Barnabé se deram conta de que os judeus não queriam escutar a Palavra, decidiram dirigir-se aos pagãos. Mas, antes disso, deixaram bem claro: quem rejeita a Palavra (decidindo não escutar Deus), considera-se indigno da vida eterna; quem acolhe a Palavra (decidindo obedecer a Deus), abraça a fé e destina sua existência à vida eterna (cf. At 13,46.48).
Pertencendo a este imenso rebanho que é a humanidade, cada um de nós precisa perguntar-se: Quem eu tenho escutado? Que tipo de voz interior tem guiado minha consciência e meu coração? Eu tenho permitido que Jesus, o Cordeiro, seja de fato o meu Pastor e conduza a minha vida para as fontes de água da vida? Minha vida está sendo conduzida por Deus ou tem sido arrastada de um lado para outro, segundo a desorientação do meu coração? Como está a minha capacidade de escuta na convivência com as pessoas? Como pai/mãe, escuto meus filhos? Como filho(a), escuto meus pais? No ambiente de trabalho, escuto as pessoas que convivem comigo?
O pastor simboliza o cuidado. Todos os dias, a vida coloca pessoas e situações sob os nossos cuidados. Estamos cuidando? Estamos sendo verdadeiros e bons pastores? Jesus fala das mãos; das suas mãos e também das mãos do Pai. Na medida em que procuramos nos colocar nas mãos de Jesus, podemos ter essa firme confiança: ninguém e nenhuma situação podem nos arrancar das mãos de Jesus. O Pai, que quis confiar cada um de nós aos cuidados de Jesus, é maior que todos. Assim, às mãos de Jesus e às mãos do Pai confiamos a vida de cada ser humano, sobretudo das ovelhas feridas, dispersas, descuidadas, porque seus pastores deixaram de cuidar delas para cuidarem apenas de si mesmos.
No final desta reflexão, lembremos as palavras do salmista: “Eu me desvio como ovelha perdida: vem procurar o teu servo!” (Sl 119,176). Pai, sabemos que o teu Filho foi enviado por ti para procurar e salvar o que estava perdido (cf. Lc 19,10). Descerra os nossos ouvidos, para que possamos ouvir e obedecer à sua voz de Pastor, que deseja nos conduzir para as fontes de água da vida. Muitos se desviam de ti, Senhor, pelo enfraquecimento da fé, pelas injustiças sofridas, pelo crescimento da maldade no mundo. Vem nos procurar, Pai! Precisamos ser reencontrados e reconduzidos. Traze-nos de volta às tuas mãos. Temos consciência de que cada um de nós é também um pastor, porque o Senhor confiou pessoas e situações aos nossos cuidados. Por isso, te pedimos: fortalece também as nossas mãos, para que elas não desistam de procurar e salvar aqueles que se extraviaram. Suscita no meio de nós – nas famílias, nas escolas, nas empresas, nos hospitais, nas creches, nos presídios, nas igrejas, no campo da política e da economia – pastores segundo o teu coração (cf. Jr 3,15). Devolve-nos a todos, Pai, às mãos redentoras de teu Filho Jesus. Amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

Um comentário:

  1. Esplêndido,claro,maravilhoso... Palavras sábias... Que o espírito santo vcontinye a te iluminar

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