Missa do 4º. dom. da Páscoa. Palavra de
Deus: Atos 13,14.43-52; Apocalipse 7,9.14b-17; João 10,27-30.
Você consegue escutar? Seus ouvidos
estão abertos ou fechados? Estão livres ou ocupados? Você tem conseguido ouvir
seu próprio interior? Você tem interesse em ouvir a pessoa que convive com você?
Você é capaz de ouvir Deus?
Ninguém escuta no barulho. Nós só
conseguimos escutar quando silenciamos. Silenciar significa ter a coragem de
afastar-se do barulho exterior, e também ter paciência, até que o nosso barulho
interior se acalme e possamos voltar a ouvir Deus. “Se hoje você escutasse a
sua voz!” (Sl 95,7), diz o salmista, convidando-nos a escutar o Senhor, que a
cada dia, na sua Palavra, quer nos trazer a paz, nos curar, nos reorientar, nos
animar, nos salvar.
Jesus, o Pastor que deseja nos conduzir
para as fontes de água da vida (cf. Ap 7,17), disse: “As minhas ovelhas escutam
a minha voz” (Jo 10,27). Escutar a voz do pastor é a única coisa que mantém uma
ovelha junto daquele que pode cuidar dela. Assim, entendemos que escutar significa deixar-se cuidar. Enquanto
você aceita ouvir Deus, ele pode cuidar de você. A partir do momento em que
você decide não mais ouvir Deus, ele não tem mais como cuidar de você.
Escutar também tem a ver com liberdade.
A ovelha é essencialmente livre. Nada a mantém presa ao pastor: nenhuma corda,
nenhum cabresto, nenhuma coleira. A única
coisa que vincula a ovelha ao pastor é a voz dele. Deus, o Pastor, sabe que
precisamos ouvir a sua voz para termos vida, mas ele respeita a nossa
liberdade: “Ouve, meu povo, eu te conjuro, oxalá me ouvisses, Israel! (...) Mas
meu povo não ouviu minha voz, Israel não quis obedecer-me; então os entreguei
ao seu coração endurecido: que sigam seus próprios caminhos! (Sl 81,9.12-13).
A
ovelha que livremente decide não mais ouvir a voz do seu Pastor coloca-se numa
situação de autodestruição. Quantas feridas se abriram em nós, ou quantas
feridas nós abrimos nos outros e na sociedade, unicamente por não querermos
mais ouvir Deus? Quantos erros cometemos e quanto sofrimento causamos a nós e
aos outros porque não quisemos mais ser cuidados por Deus e passamos a seguir
os impulsos do nosso próprio egoísmo? Quanta dor e quanta injustiça poderiam
ser eliminadas da nossa vida pessoal e social se cada um decidisse voltar a
escutar Deus?
Quando Paulo e Barnabé se deram conta de
que os judeus não queriam escutar a Palavra, decidiram dirigir-se aos pagãos.
Mas, antes disso, deixaram bem claro: quem rejeita a Palavra (decidindo não
escutar Deus), considera-se indigno da vida eterna; quem acolhe a Palavra
(decidindo obedecer a Deus), abraça a fé e destina sua existência à vida eterna
(cf. At 13,46.48).
Pertencendo a este imenso rebanho que é
a humanidade, cada um de nós precisa perguntar-se: Quem eu tenho escutado? Que
tipo de voz interior tem guiado minha consciência e meu coração? Eu tenho
permitido que Jesus, o Cordeiro, seja de fato o meu Pastor e conduza a minha
vida para as fontes de água da vida? Minha vida está sendo conduzida por Deus
ou tem sido arrastada de um lado para outro, segundo a desorientação do meu
coração? Como está a minha capacidade de escuta na convivência com as pessoas?
Como pai/mãe, escuto meus filhos? Como filho(a), escuto meus pais? No ambiente
de trabalho, escuto as pessoas que convivem comigo?
O pastor simboliza o cuidado. Todos os
dias, a vida coloca pessoas e situações sob os nossos cuidados. Estamos
cuidando? Estamos sendo verdadeiros e bons pastores? Jesus fala das mãos; das
suas mãos e também das mãos do Pai. Na medida em que procuramos nos colocar nas
mãos de Jesus, podemos ter essa firme confiança: ninguém e nenhuma situação
podem nos arrancar das mãos de Jesus. O Pai, que quis confiar cada um de nós
aos cuidados de Jesus, é maior que todos. Assim, às mãos de Jesus e às mãos do
Pai confiamos a vida de cada ser humano, sobretudo das ovelhas feridas, dispersas,
descuidadas, porque seus pastores deixaram de cuidar delas para cuidarem apenas
de si mesmos.
No final desta reflexão, lembremos as
palavras do salmista: “Eu me desvio como ovelha perdida: vem procurar o teu
servo!” (Sl 119,176). Pai, sabemos que o teu Filho foi enviado por ti para
procurar e salvar o que estava perdido (cf. Lc 19,10). Descerra os nossos
ouvidos, para que possamos ouvir e obedecer à sua voz de Pastor, que deseja nos
conduzir para as fontes de água da vida. Muitos se desviam de ti, Senhor, pelo
enfraquecimento da fé, pelas injustiças sofridas, pelo crescimento da maldade
no mundo. Vem nos procurar, Pai! Precisamos ser reencontrados e reconduzidos. Traze-nos
de volta às tuas mãos. Temos consciência de que cada um de nós é também um
pastor, porque o Senhor confiou pessoas e situações aos nossos cuidados. Por
isso, te pedimos: fortalece também as nossas mãos, para que elas não desistam
de procurar e salvar aqueles que se extraviaram. Suscita no meio de nós – nas famílias,
nas escolas, nas empresas, nos hospitais, nas creches, nos presídios, nas
igrejas, no campo da política e da economia – pastores segundo o teu coração
(cf. Jr 3,15). Devolve-nos a todos, Pai, às mãos redentoras de teu Filho Jesus.
Amém!
Esplêndido,claro,maravilhoso... Palavras sábias... Que o espírito santo vcontinye a te iluminar
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