quinta-feira, 7 de abril de 2016

EU NUNCA ME ARREPENDI DE TER CHAMADO VOCÊ

Missa do 3º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos 5,27b-32.40b-41; Apocalipse 5,11-14; João 21,1-19.

            O primeiro encontro de Jesus com os seus primeiros discípulos havia se dado à beira da praia. Jesus havia passado por eles e feito o convite: “Sigam-me e eu farei de vocês pescadores de homens” (Mt 4,19). O Evangelho de hoje, ao narrar a terceira vez em que Jesus ressuscitado aparece aos discípulos, nos coloca novamente à beira da praia, onde Jesus encontra seus discípulos tentando pescar (vs.3.4). Ora, o que levaria esses discípulos, que haviam recebido de Jesus a missão de pescar homens, isto é, de salvar pessoas, voltarem a fazer o que faziam antes de se tornarem discípulos: pescar peixes? Apesar de Jesus ressuscitado já lhes ter aparecido duas vezes, eles parecem que ainda estavam paralisados na morte da cruz.
            Não é assim que também acontece conosco? Quando algo muito ruim nos acontece, no desempenho da missão que abraçamos, surge em nós uma enorme saudade do passado, e junto com ela, a tentação de ignorar tudo o que fizemos até agora e voltar, quem sabe, à estaca zero: ‘Talvez tivesse sido melhor para mim não ter me casado, não ter aceito este emprego, não ter tido filhos, não ter abraçado este serviço na Igreja’. ‘Talvez teria sido melhor para mim ter seguido por um outro caminho, não ter me envolvido tanto na luta por uma sociedade melhor, não ter colocado tanta esperança em Deus’.  
            Mas, quando tentamos voltar a pescar, isto é, voltar a ser a pessoa que éramos antes de termos conhecido Deus e abraçado o Seu projeto a nosso respeito, percebemos que as coisas não funcionam mais. Trabalhamos a noite toda e não pescamos nada (v.3). Parece que desaprendemos pescar. O dia vai amanhecer novamente e nos lembrar de que estamos no mesmo lugar, na mesma situação, enroscados no mesmo problema, paralisados na mesma dor.
            No entanto, quando o dia amanhece, Alguém está em pé, na beira da praia, e nos observa. Por saber o que se passa dentro de nós, ele nos oferece a sua Palavra como orientação para lidarmos com aquilo que no momento nos mergulha no sentimento de derrota e no desânimo: “Lançai a rede à direita da barca, e achareis” (Jo 21,6). Na medida em que confiamos na sua Palavra e nos deixamos orientar por ela, a situação começa a mudar. Como disse o salmista: “Se à tarde vem o pranto visitar-nos, de manhã vem saudar-nos a alegria... Transformastes o meu pranto em uma festa... Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!” (Sl 30,6.12.13).  
            Aquele que está em pé, porque vivo e ressuscitado, e nos oferece a sua Palavra como luz para o nosso caminho, “é o Senhor!” (Jo 21,7). Ele já havia falado conosco outras duas vezes, para comprovar a sua presença como ressuscitado junto a nós, mas parece que ainda não nos deixamos convencer. Parece que achamos que, se Jesus ressuscitou, não teria por que nós continuarmos a enfrentar problemas em nossa vida no dia a dia. Mas esta terceira aparição de Jesus após a ressurreição quer nos ensinar que ele não desiste de nós, assim como não quer que desistamos da missão que abraçamos em nome dele.  
            Ao se dar conta de que aquele homem em pé, na margem, era Jesus ressuscitado, Pedro se veste, pois estava nu, e mergulha no mar. Este gesto dá a entender que Pedro precisava urgentemente ir ao encontro de Jesus e não queria chegar nu diante dele. Pedro não quis esperar até que a barca chegasse à margem. Havia dentro dele uma necessidade enorme de estar diante do Senhor ressuscitado, quem sabe para dizer: ‘Eu quase joguei tudo pro alto, Senhor; quase desisti da minha vocação. Que bom que o Senhor não desistiu de mim!’.
            De fato, esta terceira aparição de Jesus aos discípulos parece ter como motivo principal recuperar a fidelidade e o amor de Pedro pela missão que Jesus lhe havia confiado. Depois que os discípulos comem com Jesus, ele faz questão de conversar com Pedro: “Tu me amas?... Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15.16.17). Se, no momento da cruz, a fidelidade e o amor de Pedro para com Jesus haviam se quebrado, Jesus lhe oferece agora a oportunidade de refazer o caminho e de responder novamente ao seu chamado.
            Jesus termina o diálogo com Pedro refazendo o convite: “Siga-me” (Jo 21,19). Hoje o Senhor ressuscitado nos dirige a mesma palavra: Siga-me! Você sabe agora quem está seguindo: não um fracassado na cruz, mas um vitorioso ressuscitado; não um deus morto, mas o Filho do Deus vivo. Você sabe agora que nenhuma noite dura para sempre e que, em cada amanhecer, eu estarei esperando por você, para retomarmos juntos a missão de trabalhar pela salvação das pessoas. Siga-me diariamente e a cada momento, não só quando me sentir vivo e ressuscitado a seu lado, mas também quando achar que estou morto dentro de você. Siga-me, mantendo a fidelidade à missão que lhe confiei, sabendo que você pode contar com a minha Palavra para orientá-lo(a) nas horas de indecisão. Siga-me, mesmo depois de cada tropeço, de cada queda, de cada pecado seu. Siga-me, porque, apesar das suas fragilidades, eu jamais me arrependi de tê-lo(a) chamado para o meu serviço. Siga-me, não exigindo nem provas, nem garantias. Siga-me apenas confiando no meu amor por você e nos dons que eu lhe dei, para que você possa verdadeiramente ajudar a cuidar das ovelhas do meu rebanho. Hoje eu lhe digo apenas isso: siga-me!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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