Missa
do 3º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos 5,27b-32.40b-41; Apocalipse
5,11-14; João 21,1-19.
O primeiro encontro de Jesus com os
seus primeiros discípulos havia se dado à beira da praia. Jesus havia passado
por eles e feito o convite: “Sigam-me e eu farei de vocês pescadores de homens”
(Mt 4,19). O Evangelho de hoje, ao narrar a terceira vez em que Jesus
ressuscitado aparece aos discípulos, nos coloca novamente à beira da praia,
onde Jesus encontra seus discípulos tentando pescar (vs.3.4). Ora, o que
levaria esses discípulos, que haviam recebido de Jesus a missão de pescar
homens, isto é, de salvar pessoas, voltarem a fazer o que faziam antes de se
tornarem discípulos: pescar peixes? Apesar de Jesus ressuscitado já lhes ter
aparecido duas vezes, eles parecem que ainda estavam paralisados na morte da
cruz.
Não é assim que também acontece
conosco? Quando algo muito ruim nos acontece, no desempenho da missão que
abraçamos, surge em nós uma enorme saudade do passado, e junto com ela, a
tentação de ignorar tudo o que fizemos até agora e voltar, quem sabe, à
estaca zero: ‘Talvez tivesse sido melhor para mim não ter me casado, não ter
aceito este emprego, não ter tido filhos, não ter abraçado este serviço na
Igreja’. ‘Talvez teria sido melhor para mim ter seguido por um outro caminho,
não ter me envolvido tanto na luta por uma sociedade melhor, não ter colocado
tanta esperança em Deus’.
Mas, quando tentamos voltar a
pescar, isto é, voltar a ser a pessoa que éramos antes de termos conhecido Deus
e abraçado o Seu projeto a nosso respeito, percebemos que as coisas não
funcionam mais. Trabalhamos a noite toda e não pescamos nada (v.3). Parece que
desaprendemos pescar. O dia vai amanhecer novamente e nos lembrar de que
estamos no mesmo lugar, na mesma situação, enroscados no mesmo problema,
paralisados na mesma dor.
No entanto, quando o dia amanhece, Alguém
está em pé, na beira da praia, e nos observa. Por saber o que se passa dentro
de nós, ele nos oferece a sua Palavra como orientação para lidarmos com aquilo
que no momento nos mergulha no sentimento de derrota e no desânimo: “Lançai a
rede à direita da barca, e achareis” (Jo 21,6). Na medida em que confiamos na
sua Palavra e nos deixamos orientar por ela, a situação começa a mudar. Como
disse o salmista: “Se à tarde vem o pranto visitar-nos, de manhã vem saudar-nos
a alegria... Transformastes o meu pranto em uma festa... Senhor meu Deus,
eternamente hei de louvar-vos!” (Sl 30,6.12.13).
Aquele que está em pé, porque vivo e
ressuscitado, e nos oferece a sua Palavra como luz para o nosso caminho, “é o
Senhor!” (Jo 21,7). Ele já havia falado conosco outras duas vezes, para
comprovar a sua presença como ressuscitado junto a nós, mas parece que ainda não
nos deixamos convencer. Parece que achamos que, se Jesus ressuscitou, não teria
por que nós continuarmos a enfrentar problemas em nossa vida no dia a dia. Mas
esta terceira aparição de Jesus após a ressurreição quer nos ensinar que ele não
desiste de nós, assim como não quer que desistamos da missão que abraçamos em
nome dele.
Ao se dar conta de que aquele homem
em pé, na margem, era Jesus ressuscitado, Pedro se veste, pois estava nu, e
mergulha no mar. Este gesto dá a entender que Pedro precisava urgentemente ir
ao encontro de Jesus e não queria chegar nu diante dele. Pedro não quis esperar
até que a barca chegasse à margem. Havia dentro dele uma necessidade enorme de
estar diante do Senhor ressuscitado, quem sabe para dizer: ‘Eu quase joguei
tudo pro alto, Senhor; quase desisti da minha vocação. Que bom que o Senhor não
desistiu de mim!’.
De fato, esta terceira aparição de
Jesus aos discípulos parece ter como motivo principal recuperar a fidelidade e
o amor de Pedro pela missão que Jesus lhe havia confiado. Depois que os
discípulos comem com Jesus, ele faz questão de conversar com Pedro: “Tu me
amas?... Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15.16.17). Se, no momento da cruz,
a fidelidade e o amor de Pedro para com Jesus haviam se quebrado, Jesus lhe
oferece agora a oportunidade de refazer o caminho e de responder novamente ao
seu chamado.
Jesus termina o diálogo com Pedro
refazendo o convite: “Siga-me” (Jo 21,19). Hoje o Senhor ressuscitado nos dirige
a mesma palavra: Siga-me! Você sabe agora quem está seguindo: não um fracassado
na cruz, mas um vitorioso ressuscitado; não um deus morto, mas o Filho do Deus
vivo. Você sabe agora que nenhuma noite dura para sempre e que, em cada
amanhecer, eu estarei esperando por você, para retomarmos juntos a missão de
trabalhar pela salvação das pessoas. Siga-me diariamente e a cada momento, não
só quando me sentir vivo e ressuscitado a seu lado, mas também quando achar que
estou morto dentro de você. Siga-me, mantendo a fidelidade à missão que lhe
confiei, sabendo que você pode contar com a minha Palavra para orientá-lo(a)
nas horas de indecisão. Siga-me, mesmo depois de cada tropeço, de cada queda,
de cada pecado seu. Siga-me, porque, apesar das suas fragilidades, eu jamais me
arrependi de tê-lo(a) chamado para o meu serviço. Siga-me, não exigindo nem
provas, nem garantias. Siga-me apenas confiando no meu amor por você e nos dons
que eu lhe dei, para que você possa verdadeiramente ajudar a cuidar das ovelhas
do meu rebanho. Hoje eu lhe digo apenas isso: siga-me!
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