sexta-feira, 22 de abril de 2016

O AMOR, QUANDO VERDADEIRO, SUPORTA SER MACHUCADO

Missa do 5º. dom. da páscoa. Palavra de Deus: Atos 14,21b-27; Apocalipse 21,1-5a; João 13,31-33a.34-35.

Algumas pessoas desistiram de amar. Os motivos podem ser vários. Eu posso ter sido traído no meu amor; posso ter dado demais e recebido de menos, ou nada recebido; posso ter sido violentado no meu amor; posso ter sofrido uma grande injustiça e me deparado com um mal tão grande que aquilo me fez desacreditar que vale a pena amar. De fato, Jesus disse que o mal crescerá de tal modo no mundo que o amor vai se esfriar no coração de muitas pessoas. Mas aquele que perseverar até o fim, aquele que decidir amar até o fim, esse será salvo (cf. Mt 24,12-13).
Enquanto algumas pessoas desistiram de amar, outras nunca aprenderam a amar, porque nunca fizeram a experiência de serem amadas. Seja por causa de uma extrema pobreza ou da desestruturação familiar, seja por causa das drogas e da violência dentro de casa, da ausência de um ou de ambos os pais, muitas crianças cresceram ou estão crescendo sem se sentir de fato amadas. As escolas, as salas de aula, os professores conhecem de perto as consequências disso.  
            Jesus nos convida a recuperar o amor. Ele é a única força capaz de salvar uma pessoa. O amor é a única experiência que faz com que o ser humano creia em Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8). Aliás, a Escritura afirma que cada ser humano foi amado por Deus antes mesmo de existir (cf. Ef 1,4). O simples fato de existirmos deveria ser a primeira “prova” de que somos amados. A existência de nenhum ser humano é fruto de um acidente ou do acaso, mas fruto de um desejo de Deus, que ama cada ser humano e por isso o chamou à existência.     
Ainda que tenhamos desistido de amar, ou que nunca tenhamos feito a experiência de sermos amados, Jesus nos convida a olhar para ele: “amem-se uns aos outros com eu amei e amo vocês”. Como foi que Jesus nos amou? Ele nos amou com um amor que ama até o fim (cf. Jo 13,1), com um amor que tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (cf. 1Cor 13,7). O amor de Jesus pelo ser humano é um amor incondicional: ‘Eu não vou te amar se você for bom e justo, se for obediente e correto, se isso ou aquilo. Amo você pela pessoa que você é, porque meu Pai criou você digno de ser amado. Amo você não porque você merece o meu amor, mas porque precisa dele para crescer e para desenvolver como pessoa e como filho de Deus’.
            O amor de Jesus por nós é um amor capaz de sofrer por aquele que ama, é um amor capaz de suportar a cruz, capaz de morrer para si mesmo para que possamos viver. Ouvimos agora a pouco uma verdade bíblica muito séria: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus” (At 14,22). Muitas pessoas só vão se abrir para o amor de Deus quando enfrentarem uma situação de dor. Além disso, o nosso amor só é verificado como verdadeiro pela maneira como nós lidamos com a dor.
            O nosso grande desafio como discípulos de Jesus é não desistir de amar por causa da dor que as pessoas ou o mundo possa nos causar. E nós só conseguiremos isso olhando para Jesus, que mesmo sendo rejeitado por uma parte da humanidade, amou até o fim, na sua cruz, cada ser humano. Madre Teresa de Calcutá conseguiu seguir Jesus tão de perto, na sua maneira de amar, que ela disse: “O amor, para ser verdadeiro, tem de doer. Não basta dar o supérfluo a quem necessita, é preciso dar até que isso nos machuque”.
            Este é o amor de Jesus por nós: um amor que se machucou duramente na cruz para nos resgatar. É igualmente este amor que Jesus nos convida a reavivar dentro de nós, um amor que, sofrendo e se machucando diariamente, pode devolver à humanidade a fé no Deus que é amor, no Deus que nos prometeu criar um novo céu e uma nova terra, enxugar a lágrima de todos os olhos, eliminar para sempre a morte, o luto, o choro e a dor, e fazer novas todas as coisas. Diante dessas palavras, “dignas de fé e verdadeiras” (Ap 21,5), renovemos a nossa fé.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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