Missa do
2º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 15,5-12.17-18; Filipenses
3,14–4,1; Lucas 9,28b-36.
Nós não conseguimos ver o coração
das pessoas, mas vemos o rosto delas, e o rosto sempre expressa o nosso estado
interior, a nossa alma, o nosso coração. O nosso rosto quase sempre revela se
estamos transfigurados ou desfigurados em nossa alma. Sobretudo no mundo atual,
é muito comum vermos pessoas com o rosto desfigurado: desfigurado pelas
preocupações quanto à vida financeira; desfigurado pelos desencontros na vida
afetiva; desfigurado pela dependência química; desfigurado pelo cansaço da
correria da vida, sobretudo aqueles que, na cidade grande, têm que enfrentar
ônibus e metrôs lotados, seja para ir ao trabalho, seja para retornar para
casa; desfigurado pela angústia de uma alma que, ou não sabe como, ou desistiu de
buscar a Deus.
Os textos bíblicos de hoje nos
colocam diante de dois homens cujo rosto estava desfigurado: Abrão e Jesus.
Enquanto o rosto de Abrão expressava a sua falta de esperança, pois se
encontrava quase no fim da vida e achava que iria morrer sem deixar
descendência, o rosto de Jesus expressava a sua angústia quanto ao fato de
saber que deveria enfrentar a morte quando chegasse a Jerusalém. Os dois, Abrão
e Jesus, se colocaram em oração, procurando buscar em Deus a melhor forma de
lidar com aquilo que desfigurava o coração deles.
O que você faz quando olha no
espelho e vê seu rosto desfigurado? Como você lida com aquilo que angustia sua
alma e inquieta seu coração? Você olha para o rosto das pessoas com as quais
convive no dia a dia? Sua presença junto delas é uma presença que só faz
aumentar a desfiguração em que se encontram, ou é uma presença que ajuda a
provocar a transfiguração nelas? Às vezes uma palavra, um sorriso, um pequeno
gesto de afeto e de consideração pode ser um ponto de luz de transfiguração
para alguém que se sente trancado no quarto escuro da desfiguração.
Abrão foi conduzido “para fora” da
sua desfiguração quando, na sua oração, Deus lhe disse: “Olha para o céu e
conta as estrelas se fores capaz! Assim será a tua descendência” (Gn 15,5). Ora,
as circunstâncias não eram favoráveis para que isso acontecesse! Abrão estava
velho e Sara, além de idosa, era estéril! Humanamente não havia como, desse casal,
nascer uma descendência, muito menos tão numerosa como as estrelas do céu! No
entanto, “Abrão teve fé no Senhor...” (Gn 15,6). Você tem fé em Deus mesmo
quando tudo em sua vida parece conspirar contra aquilo que Deus lhe prometeu? A
fé é justamente isso: quanto mais os fatos revelam que aquilo é impossível,
mais Deus se revela como Aquele para quem nada é impossível. Não se esqueça: a
sua fé é condição básica para que Deus transfigure o que em você se encontra
desfigurado.
Jesus, humano como nós, também
experimentava momentos de desfiguração em seu interior, mas ele sempre buscava
a Deus na oração, e saía dela transfigurado! É isso que vemos no Evangelho de
hoje: “Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito
branca e brilhante” (Lc 9,29). O assunto da oração de Jesus era a morte que ele
sofreria em Jerusalém. Sobre qual assunto eu converso com Deus em minha oração?
Eu tenho a coragem de reconhecer o que sinto e falar sobre aquilo com Deus? Eu
permito que Deus se aproxime da minha dor mais profunda, ou me coloco
superficialmente diante dele na oração? Quando minha oração me ajuda a ajustar
a minha vida à vontade do Pai, saio dela transfigurado. Mas quando ela se
resume a uma luta, onde tento de todas as formas impor a minha vontade,
rejeitando o que Deus me pede, saio dela desfigurado.
Pedro, Tiago e João estavam junto
com Jesus na montanha. A nuvem, símbolo bíblico da presença de Deus, desceu
sobre eles e os cobriu com sua sombra. Apesar de os nossos sentidos não se
darem conta disso, quando rezamos acontece a mesma coisa: o Pai desce com sua
presença e nos envolve em seus braços. Rezar é isso: nós subimos até Deus e ele desce
até nós. Ali, dentro da nuvem, sem enxergar Deus e, muitas vezes, sem mesmo
sentir a sua presença, ele, por meio da sua graça, coloca em ordem os nossos
afetos, apazigua o nosso coração e nos dá a orientação correta. Desse modo, aquilo
que antes estava desfigurado começa a se transfigurar em nós.
Um lembrete final. Se, por um lado,
a transfiguração é obra da graça de Deus em nós, ela é, por outro, missão nossa
também. Hoje, após termos ouvido a Palavra e recebido o Senhor Jesus na
Eucaristia, devemos retornar para a nossa casa com uma pergunta no coração: a
quem eu preciso ajudar a transfigurar? O apóstolo Paulo nos lembrou que nós “somos
cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele
transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo
glorioso...” (Fl 3,20-21). Ser discípulo do Senhor transfigurado é ajudar a
transfigurar o corpo que se encontra humilhado perto de nós – humilhado pela
dor, pela doença, pela violência, pela fome, pela injustiça, pela morte...
Em tempo, a Campanha da Fraternidade
nos desafia a transfigurar o meio ambiente, nossa casa comum, desfigurada pela
ganância e pelo desperdício... Além disso, para quem quase que constantemente
tem seu rosto desfigurado, até o ponto de afastar as pessoas de si, vale
perguntar-se: eu realmente tenho motivos para viver com meu rosto desfigurado?
Que bom, mesmo de longe, poder contar com as suas inspiradoras reflexões!! Um grande abraço dos amigos Vlader e Mayara
ResponderExcluirOlá!!!! Muito legal o contato de vocês! Esperam que estejam bem! Deus os abençoe! Pe. Paulo.
ResponderExcluirOlá!!!! Muito legal o contato de vocês! Esperam que estejam bem! Deus os abençoe! Pe. Paulo.
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