Missa
do 1º. dom. do advento. Palavra de Deus: Jeremias 33,14-16; 1Tessalonicenses
3,12–4,2; Lucas 21,25-28.34-36.
No
calendário civil, nós nos encontramos no fim do ano; fim que possivelmente traga
consigo um pouco de cansaço, desânimo, decepção ou frustração. Por quê? Porque
algo que esperávamos realizar ainda não realizamos; algo que esperávamos que
chegasse ainda não chegou. Contudo, no calendário religioso, nós nos
encontramos no início de um novo ano litúrgico, que marca a caminhada da nossa
fé. Justamente porque estamos no início, o ano litúrgico se abre com o tempo do
“advento”, palavra que significa “vinda”, “chegada”, no sentido de espera por
algo que deve vir; mais do que isso, espera
por Alguém que deve chegar. Desse modo, mais do que olhar para trás, para o
passado, e recordar Alguém que veio, o advento nos convida a olhar para frente,
para o futuro, na espera por Aquele que está vindo.
Para
onde seus olhos estão voltados neste momento da sua vida? Para trás, lamentando
um passado que não volta mais, ou para frente, esperando por um futuro
prometido por Deus, que hoje mesmo está nos dizendo: “Farei cumprir a promessa
de bens futuros” (Jr 33,14)? Você ainda consegue esperar em Deus e por Deus? Muitos
deixaram de ter esperança, no sentido de que deixaram de esperar em relação a
si mesmos, ou em relação às outras pessoas, ou em relação a alguma situação, ou
mesmo em relação a Deus. Mas o que alimenta a nossa esperança é a palavra do
Senhor, que hoje nos diz: “Farei brotar... a semente da justiça, que fará valer
a lei e a justiça na terra” (Jr 33,15).
Semente:
algo está enterrado e, aparentemente, morto. No entanto, debaixo da terra, sem
que nossos olhos possam ver, a semente está brotando. Você tem aberto o terreno
do seu coração para acolher as sementes de Deus? Você confia que, mesmo não
vendo e não podendo comprovar, cada semente que Deus lança no terreno da sua
vida brotará? Lembre-se: a obra é d’Ele. Ele garante: “Farei cumprir... Farei
brotar” (Jr 33,14.15). É Deus quem faz, mas é preciso que você permita que Ele
faça em você. É Deus quem lança a semente, mas é preciso que você acolha a
semente no terreno da sua vida e regue diariamente esse terreno com a água da
esperança.
Jesus,
ao falar da sua segunda vinda, nos chama à esperança. Ele desperta a nossa
consciência para nos darmos conta do que está acontecendo. Aos poucos, a
humanidade vai sendo contagiada por angústia e pavor, por causa do mal que se multiplica
grandemente. Isso faz com que o medo tome conta das pessoas, principalmente
daquelas que não estão firmes na fé. Mas, “quando essas coisas começarem a
acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está
próxima” (Lc 21,28). Enquanto muitos caem no desespero e caminham de cabeça
baixa, porque abandonaram sua esperança, Jesus diz que precisamos confiar na
sua promessa de vir ao nosso encontro e nos trazer a libertação definitiva.
Qual é
o grande perigo? Como não sabemos quando Jesus virá, podemos ser tentados a
desistir de esperá-Lo; podemos abandonar a nossa fé e passar a crer que tudo o
que fizemos em favor da salvação nossa e da humanidade foi uma grande perda de
tempo; podemos chegar à conclusão de que a vida aqui não tem muito sentido e o
melhor que temos a fazer é desfrutar do que o mundo tem a nos oferecer, antes
que tudo seja destruído pela injustiça, pela corrupção e pela maldade do
próprio ser humano que, de humano, demonstra ter cada vez menos.
Como
não deixar morrer nossa esperança? Como não desistir de esperar em Deus e por
Ele? Jesus nos deu uma pista: “(...) ficai atentos e orai a todo momento, a fim
de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé
diante do Filho do homem” (Lc 21,36). Orar a todo momento não significa apenas
recobrarmos a consciência da importância da oração em nossa vida, mas também
entendermos que tudo o que fazemos devemos fazê-lo com a consciência e o
coração voltados para Deus. Para quem ainda tem dificuldade em criar o hábito
diário de orar, vale esta definição de oração de Santa Teresa de Jesus: “Orar é
estar a sós, muitas vezes, com quem sabemos que nos ama”.
Jesus
deixa claro que, quando vier, quer nos encontrar “em pé” e não deitados,
caídos, desprovidos de fé, de esperança e de amor. Ele quer nos encontrar como homens
e mulheres que, mesmo vivendo num país cuja lama tóxica da corrupção, da
maldade e da injustiça vai aos poucos contaminando todos os setores da
sociedade, não desistiram de semear a honestidade, o bem e a justiça com as
nossas atitudes diárias. Jesus não quer nos encontrar presos na armadilha da
distração, do vício e da falta de sensibilidade para com o que acontece à nossa
volta. E aqui vale à pena, mais uma vez, nos questionar a respeito do uso
diário do celular. Há no seu celular algum aplicativo que alimente a sua
oração, a sua fé, a sua intimidade com o Senhor? Ou ele está funcionando como uma
“armadilha” para manter você distante de Deus, do próximo que está à sua volta
e da sua responsabilidade para com a salvação da humanidade?
Neste
início de advento, coloque-se em pé, levante sua cabeça, abra as janelas e
portas da sua casa interior e permita que o vento da esperança renove os ares
da sua existência. Abra-se ao futuro de Deus. Abra-se Àquele que vem. Abra-se
ao novo que Deus quer fazer brotar em você e, por meio de você, no coração da
humanidade. Lembre-se: “O melhor do Deus que vem é que Ele se manifesta de
maneiras inesperadas: desfaz certezas, rompe convenções, renova sonhos. A
esperança abre passagem por onde menos esperamos. E Deus continua aparecendo
onde e quando ninguém espera” (Pe. Adroaldo).
Pe. Paulo Cezar Mazzi