Missa do 23º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 35,4-7;
Tiago 2,1-5; Marcos 7,31-37.
O que
vem primeiro: o ouvir ou o falar? A criança só aprende a falar se consegue
ouvir. Se ela nasce surda, consequentemente se torna muda. O nosso falar
depende do nosso ouvir. Mas também pode acontecer que fechemos os nossos
ouvidos e tomemos a decisão de não mais ouvir: não mais ouvir Deus, ou as
pessoas da nossa casa; não mais ouvir o pedido de ajuda de quem está à nossa
volta, ou as nossas próprias emoções. Também pode acontecer que, mesmo ouvindo,
nós tomemos a decisão de não mais falar: nos calamos na oração e no louvor
porque estamos com raiva de Deus; nos calamos porque estamos com raiva da
pessoa que nos machucou; nos calamos diante das injustiças ou porque nos
tornamos individualistas, ou porque não acreditamos que um outro mundo seja
possível...
O encontro de Jesus com esse homem surdo e que
falava com muita dificuldade nos coloca algumas perguntas: O quê ou quem você
ainda ouve? O quê ou quem você decidiu não mais ouvir? Com quem você tem
conversado cada vez menos? Quantas palavras estão engasgadas na sua garganta?
Quantas coisas você gostaria de “gritar” ou de dizer a Deus ou a uma
determinada pessoa? Por quê não o faz? Por medo de ser “castigado” por Deus? Por
medo de perder o afeto da pessoa?
Falar é necessário. Falar liberta; faz a água que está
represada dentro de nós voltar a fluir novamente. Falar é necessário porque a
outra pessoa não tem como adivinhar o quê você está sentindo. Mas ouvir também
é importante. Vencer o medo de ouvir é tão necessário quanto vencer o medo de falar.
Quando ouvimos a palavra que o outro nos dirige, podemos passar a ver as coisas
de uma outra forma, podemos enxergar coisas que não estávamos enxergando antes,
seja a nosso respeito, seja a respeito do relacionamento, seja a respeito da
outra pessoa, seja a respeito de Deus e da realidade à nossa volta.
Para curar aquele homem surdo, Jesus afastou-se com ele
para fora da multidão. Quem quer começar a ouvir, precisa fazer silêncio. A
Palavra que cura, salva e liberta só pode ser ouvida no silêncio. Para ouvir a
voz de Deus em sua consciência, você precisa se afastar para fora da multidão
do barulho dos seus pensamentos, das suas preocupações e dos seus desejos. Você
precisa também ouvir suas emoções. Quanto mais se recusa a ouvi-las, mais elas
vão “gritar” com você, e esse grito vai se tornar sempre mais “agressivo”, até
que ele seja ouvido.
Depois de tocar
nos ouvidos e na língua daquele homem, Jesus, olhando para o céu, suspirou e
lhe disse: “Efatá!” (Abre-te!). Abre-te! O que se fechou em você? Seus olhos
decidiram não ver mais, para não se sentir questionado pela necessidade do
outro? Seus ouvidos decidiram não mais ouvir os da sua casa? Você tem se
tornado uma pessoa muda, sem vontade ou sem coragem de falar com o outro? O
corpo fala, os gestos falam. Eu sei interpretar o que o outro está me dizendo
com seu silêncio ou com suas atitudes? Estou fechado para os outros, para os
que sofrem? Talvez eu tenha meus olhos, meus ouvidos e minha boca abertos, mas
o meu coração fechado... Além disso, preciso questionar se as minhas palavras,
quando dirigidas aos outros, abrem ou fecham o coração deles...
“O Senhor abre os olhos aos cegos, o Senhor faz erguer-se
o caído” (Sl 146,8). Estamos no mês da Bíblia, e precisamos nos lembrar de que Deus
escolheu se manifestar a nós como Palavra. Nossos ouvidos estão abertos para ouvir
Deus? Nosso coração está disposto a obedecê-Lo? A cena mais comum nas ruas e
nas academias é ver pessoas com seus ouvidos “tapados” por fones. No entanto, a
Escritura afirma que “a fé só pode ser despertada na pessoa que ouve a palavra
de Cristo” (citação livre de Rm 10,17). Como “educar” as pessoas hoje,
especialmente as crianças, os adolescentes e jovens, para a escuta de Deus? Além
disso, a Palavra de Deus existe não só para ser ouvida, mas também anunciada. O
que você e eu temos feito concretamente para que ela chegue aos ouvidos e ao
coração de outras pessoas?
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPaz, bem e lu!
ResponderExcluirParabéns padre Paulo, mais uma vez a sabedoria divina o tem iluminado. Que estas palavras sejam luzes para o nosso caminhar, viver e o mais importante, amar, amar e amar!
Pe. Renato, cs