sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O ESPÍRITO DA PROFECIA

Missa do 26º. Dom. comum. Palavra de Deus: Números 11,25-29; Tiago 5,1-6; Marcos 9,38-43.45.47-48.

            No último domingo de setembro, mês da Bíblia, celebramos o dia da Bíblia. Para entendermos a importância da Palavra de Deus em nossa vida, poderíamos lembrar aqui quando Deus mandou o profeta Ezequiel anunciar a Palavra aos exilados na Babilônia, os quais diziam: “Os nossos ossos estão secos, a nossa esperança está desfeita. Para nós está tudo acabado” (Ez 37,11). Então Deus disse a Ezequiel: “Profetiza a respeito desses ossos secos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor... Eis que vou fazer com que sejais penetrados pelo espírito e vivereis” (Ez 37,4-5).  
            Este dia da Bíblia precisa despertar em nós a consciência a respeito da força da Palavra de Deus em nossa vida e da importância do Espírito da profecia em nosso tempo. A Palavra é espírito e vida: só ela pode fazer com que sejamos penetrados pelo Espírito de Deus e tenhamos uma postura ativa diante das dificuldades. Além disso, a Palavra deve ser profetizada, isto é, anunciada, proclamada, principalmente diante de situações onde as pessoas dizem: “a nossa esperança está desfeita; para nós está tudo acabado”.     
            A Palavra é profecia: ela nos ajuda a ver além das circunstâncias, a enxergar aquilo que Deus quer para nós e para a humanidade. Ela denuncia a ilusão da riqueza (“Vossa riqueza está apodrecendo... Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados...” Tg 5,3), desmascara a injustiça (“O salário... que deixastes de pagar está gritando...” Tg 5,4) e revela a consequência dela para a vida de quem a pratica (“Vós vivestes luxuosamente... cevando os vossos corações para a matança” Tg 5,5).
           Todos nós somos chamados a profetizar/proclamar/pronunciar a Palavra de Deus (“Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta” Nm 11,29), não esquecendo de que o Autor da profecia é o Espírito, pois é Ele quem sonda os corações. Isso significa que, antes de a Palavra passar por nós e chegar às outras pessoas, ela precisa penetrar em nós, dando retidão às intenções do nosso coração (cf. Hb 4,12). Além disso, devemos ter a humildade de reconhecer que o Espírito é livre (“O Espírito sopra onde quer...” Jo 3,8): Ele suscita a Palavra em quem Ele quer, até mesmo em pessoas que não são da nossa Igreja, como acabaram de nos mostrar a primeira leitura e o Evangelho. É o Espírito que se apropria de nós; nós nunca nos apropriamos d’Ele. É o Espírito quem nos diz a quem devemos levar a Palavra; nunca somos nós a dizer ao Espírito quem é que deve receber a Palavra.
            A profecia sempre “escandaliza”, porque desmascara as falsas boas intenções e denuncia as injustiças, até mesmo daqueles que se sentem muito “tranquilos” diante da Palavra. Da mesma forma, a liberdade do Espírito também escandaliza (cf. Nm 11,27-28; Mc 9,38). No entanto, Jesus acabou de deixar claro que o verdadeiro escândalo é a tentativa sempre frequente de “domesticar” o Espírito e de “alisar” as “asperezas” da Palavra, para que ela não venha a provocar alguma crise em nossa consciência. O verdadeiro escândalo é deixar de profetizar para não ser perseguido, para não perder “privilégios”, inclusive dentro das igrejas, ou para não ser privado dos mesmos.
            “Profetiza a respeito desses ossos secos...” (Ez 37,4). Crie o hábito diário de ler a Bíblia. Peça a Deus uma Palavra sobre os ossos secos do seu relacionamento, da sua vida profissional, da sua vida de fé... Profetize o Espírito sobre as famílias com as quais você tem contato, sobre aqueles com os quais você trabalha/estuda/convive diariamente. Profetize o Espírito sobre as estruturas sociais injustas, frutos da corrupção disseminada em nosso país. Permita que o Espírito sonde as profundezas da sua consciência e revele o quê você precisa cortar/modificar nas suas atitudes para não condenar-se ao “inferno”, isto é, a uma vida onde você tenha de admitir que os seus ossos estão secos, que a sua esperança está desfeita, e que, para você, tudo está definitivamente acabado...

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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