Missa
do 26º. Dom. comum. Palavra de Deus: Números 11,25-29; Tiago 5,1-6; Marcos
9,38-43.45.47-48.
No último domingo de setembro, mês
da Bíblia, celebramos o dia da Bíblia.
Para entendermos a importância da Palavra de Deus em nossa vida, poderíamos
lembrar aqui quando Deus mandou o profeta Ezequiel anunciar a Palavra aos exilados
na Babilônia, os quais diziam: “Os nossos
ossos estão secos, a nossa esperança está desfeita. Para nós está tudo acabado”
(Ez 37,11). Então Deus disse a Ezequiel: “Profetiza a respeito desses ossos
secos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a
palavra do Senhor... Eis que vou fazer com que sejais penetrados pelo espírito
e vivereis” (Ez 37,4-5).
Este dia da Bíblia precisa despertar
em nós a consciência a respeito da força da Palavra de Deus em nossa vida e da
importância do Espírito da profecia em nosso tempo. A Palavra é espírito e
vida: só ela pode fazer com que sejamos penetrados pelo Espírito de Deus e
tenhamos uma postura ativa diante das dificuldades. Além disso, a Palavra deve
ser profetizada, isto é, anunciada, proclamada, principalmente diante de
situações onde as pessoas dizem: “a nossa esperança está desfeita; para nós
está tudo acabado”.
A Palavra é profecia: ela nos ajuda
a ver além das circunstâncias, a enxergar aquilo que Deus quer para nós e para
a humanidade. Ela denuncia a ilusão da riqueza (“Vossa riqueza está apodrecendo... Vosso ouro e vossa prata estão
enferrujados...” Tg 5,3), desmascara a injustiça (“O salário... que deixastes de pagar está gritando...” Tg 5,4) e revela
a consequência dela para a vida de quem a pratica (“Vós vivestes luxuosamente... cevando os vossos corações para a
matança” Tg 5,5).
Todos nós somos chamados a
profetizar/proclamar/pronunciar a Palavra de Deus (“Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta” Nm 11,29), não
esquecendo de que o Autor da profecia é o Espírito, pois é Ele quem sonda os
corações. Isso significa que, antes de a Palavra passar por nós e chegar às
outras pessoas, ela precisa penetrar em nós, dando retidão às intenções do
nosso coração (cf. Hb 4,12). Além disso, devemos ter a humildade de reconhecer
que o Espírito é livre (“O Espírito sopra
onde quer...” Jo 3,8): Ele suscita a Palavra em quem Ele quer, até mesmo em
pessoas que não são da nossa Igreja, como acabaram de nos mostrar a primeira
leitura e o Evangelho. É o Espírito que se apropria de nós; nós nunca nos
apropriamos d’Ele. É o Espírito quem nos diz a quem devemos levar a Palavra;
nunca somos nós a dizer ao Espírito quem é que deve receber a Palavra.
A profecia sempre “escandaliza”,
porque desmascara as falsas boas intenções e denuncia as injustiças, até mesmo daqueles
que se sentem muito “tranquilos” diante da Palavra. Da mesma forma, a liberdade
do Espírito também escandaliza (cf. Nm 11,27-28; Mc 9,38). No entanto, Jesus
acabou de deixar claro que o verdadeiro escândalo é a tentativa sempre
frequente de “domesticar” o Espírito e de “alisar” as “asperezas” da Palavra,
para que ela não venha a provocar alguma crise em nossa consciência. O verdadeiro escândalo é deixar de profetizar
para não ser perseguido, para não perder “privilégios”, inclusive dentro
das igrejas, ou para não ser privado dos mesmos.
“Profetiza a respeito desses ossos
secos...” (Ez 37,4). Crie
o hábito diário de ler a Bíblia. Peça a Deus uma Palavra sobre os ossos secos
do seu relacionamento, da sua vida profissional, da sua vida de fé... Profetize
o Espírito sobre as famílias com as quais você tem contato, sobre aqueles com
os quais você trabalha/estuda/convive diariamente. Profetize o Espírito sobre
as estruturas sociais injustas, frutos da corrupção disseminada em nosso país.
Permita que o Espírito sonde as profundezas da sua consciência e revele o quê
você precisa cortar/modificar nas suas atitudes para não condenar-se ao
“inferno”, isto é, a uma vida onde você tenha de admitir que os seus ossos
estão secos, que a sua esperança está desfeita, e que, para você, tudo está definitivamente acabado...
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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