sexta-feira, 11 de setembro de 2015

POR QUE NÃO COM VOCÊ?

Missa do 24º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 50,5-9a.; Tiago 2,14-18; Marcos 8,27-35.

Para nos convencer a comprar algo, a publicidade busca agradar ao máximo o nosso ego, usando frases do tipo: “Isto foi criado/construído/fabricado/projetado para o seu conforto, para a sua segurança, para o seu bem estar, para facilitar a sua vida...”. Justamente porque a vida moderna se tornou por demais complicada, nós sempre escolhemos aquilo que promete facilitar a nossa vida: o caminho mais curto, o acesso mais rápido, a solução mais imediata. Afinal de contas, nós não temos tempo para esperar, para suportar, para sofrer.
Para tomarmos consciência do quanto isso influencia a nossa fé e a nossa compreensão de Deus e da vida, Jesus nos coloca uma pergunta: “Quem dizem os homens que eu sou?” (Mc 8,27). Aqui podemos encontrar diversas respostas: ‘Jesus é uma ilusão – promete, mas não realiza’; ‘Jesus é uma fuga da realidade’;  ‘Jesus é um fracassado (morreu numa cruz)’; ‘Jesus é uma caixa de lápis de cor: ele exclui da nossa vida o cinza e o preto’; ‘Jesus é um empreendedor bem sucedido que tem receitas infalíveis de sucesso para a vida profissional/financeira’; ‘Jesus é o remédio para livrar você de todas as dores (físicas, emocionais e espirituais)’ etc.
As “imagens” de Jesus são inúmeras. No entanto, ainda que sejamos influenciados por essas imagens alheias, sempre chega o momento em que a pergunta se dirige exclusivamente para cada um de nós: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29). Em outras palavras, Jesus está lhe perguntando: ‘O que você espera de mim quando me procura na oração, na Palavra (Evangelho) ou na Eucaristia?’ ‘Como você entende a minha presença na sua vida como Messias, Libertador e Salvador?’.  
Pedro deu a sua resposta pessoal: “Tu és o Messias” (Mc 8,29), isto é o “Esperado” desde Abraão, o “Libertador” de Israel, o “Ungido” de Deus, o “Salvador” do mundo. Todas essas respostas são perfeitamente corretas a respeito de Jesus. O problema é que Jesus esclarece que tipo de “Messias” ele é: “(...) o Filho do homem devia sofrer muito, ser rejeitado... ser morto e ressuscitar depois de três dias” (Mc 8,31). E o mais interessante é esse detalhe: “Ele dizia isso abertamente” (Mc 8,32a), ou seja: ‘Tome consciência de que a vida comporta essas coisas’; ‘Tome consciência de que você não é o centro do mundo’; ‘Tome consciência de que ninguém pode ter tudo, nem mesmo você’; ‘Tome consciência de que a cruz é maior para quem quer viver de acordo com a vontade de meu Pai’.
Mas, quem de nós quer viver conscientemente a vida? Quem de nós quer colocar as suas fantasias em diálogo com a realidade, com a sua realidade de pessoa humana? É por isso que Pedro reage: “Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo” (Mc 8,32b). Podemos imaginar o que Pedro disse a Jesus: ‘Deve haver um jeito de evitar o sofrimento!’; ou então ‘Você não merece passar por isso!’. Então, o evangelista Marcos sublinha que Jesus, olhando para os discípulos, olhando para mim e para você, que hoje supostamente somos discípulos de Jesus, repreendeu a Pedro: “Vai para longe de mim, satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens” (Mc 8,34).
Da mesma forma como satanás propôs a Jesus evitar o caminho da dor e buscar uma vida de glória na terra (cf. Mt 4,1-11), Pedro pensa a mesma coisa, assim como pensa a maioria de nós hoje em dia. Nós buscamos o bem estar próprio, o prazer, o benefício, o lucro. Enquanto isso, Deus busca o bem do outro, o direito, a justiça, aquilo que contribui para a paz, mesmo que isso custe algum tipo de renúncia e sacrifício da nossa parte. Dizendo de outra maneira, diante do sofrimento nós costumamos reclamar e perguntar: “Por que comigo?” E então, para decepção nossa, Deus responde sem meios termos: “Por que não com você?”
O Evangelho de hoje se conclui com uma palavra de Jesus dirigida a qualquer pessoa que aceite o desafio de se tornar discípula dele: ‘Ser cristão é o caminho mais difícil; não é para quem faz corpo mole, para quem se melindra, para quem quer que o seu ego seja massageado o tempo todo. Ser cristão é isso: renunciar a si mesmo (ao seu egoísmo), tomar a sua cruz e me seguir – viver como eu vivi, se comportar como eu me comportei, lidar com o sofrimento como eu tive que lidar. Quanto mais você quiser evitar dificuldades, lutas e desafios, menos você viverá a sua vida em plenitude. Quanto mais você abraçar a vida com tudo o que ela tem de alegria e tristeza, de conquista e de perda, de vitória e de derrota, mais você terá vivido a sua em plenitude.
Está dado o recado. Que cada um faça a sua escolha e tome a sua decisão. 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

2 comentários:

  1. Hoje observamos quantas 'curtidas' tivemos nas redes sociais. E ai se ninguém curtiu uma postagem nossa, que decepção! Mas Jesus propõe algo bem diferente ao perguntar "O que pensam os homens" a seu respeito e o que eu digo o que ele é.
    Ele vai no âmago do que significa ser pessoa, ser gente. Com o não se contentar em ser mero objeto ou coisa que se 'deleta' quando não mais agrada.
    Se gostamos ou nos contentamos com as superficialidades o questionamento de Jesus é absolutamente incômodo.

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