sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

CRER NO CUIDADO DE DEUS

Missa do 8º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 49,14-15; 1Coríntios 4,1-5; Mateus 6,24-34.

       Tome consciência das suas preocupações: E se eu ficar doente? E se eu perder meu emprego? E se eu não tiver dinheiro para honrar com meus compromissos? E se eu sofrer? E se eu fracassar? E se eu morrer? E se meu filho não passar neste concurso ou nesta entrevista de emprego? E se minha filha cair nas drogas? E se determinado mal atingir a minha família?... A lista das nossas preocupações não tem fim, e parece aumentar a cada dia.
   Nunca como hoje as pessoas estiveram não apenas muito ocupadas, mas também excessivamente preocupadas. Mas, de onde nascem as nossas preocupações? A primeira causa, segundo Jesus, é que decidimos nos colocar a serviço do dinheiro e do consumismo. Primeiro, ficamos preocupados em conseguir dinheiro e adquirir certos bens; depois, além de ficarmos preocupados em manter os bens que adquirimos, nos preocupamos em ganhar mais dinheiro para adquirir mais bens, pois essa é a dinâmica do consumismo: “o que é demais nunca é o bastante” (Legião Urbana, Teatro dos vampiros)... No mundo de hoje, todos precisamos de dinheiro e de alguns bens, mas é bom lembrar quem manda em quem, quem possui quem.
A segunda causa do excesso de preocupação que nos consome é a falta de confiança no Pai, que está no céu. Ao afirmar que o Pai tem o cuidado de alimentar até mesmo os pássaros, Jesus nos pergunta: “Vós não valeis mais do que os pássaros?” (Mt 6,26). Numa outra passagem bíblica, Jesus esclarece que nenhum passarinho cai por terra (morre) sem o consentimento do Pai, que está no céu (cf. Mt 10,29). Essa é a questão: saber que Deus cuida de nós não significa esperar que nunca sofreremos ou morreremos; significa, sim, saber que nada nos acontecerá sem que o Pai consinta, permita, e se Ele permitir, se Ele consentir, será sempre em vista do nosso bem, da nossa salvação.
       Para muitas pessoas, soa irônico e até mesmo sarcástico Jesus dizer que o Pai cuida dos pássaros, e devemos ter confiança, porque nós valemos para Ele muito mais do que os pássaros. Como acreditar que Deus é nosso Pai e que Ele cuida de nós, quando há tantas pessoas com câncer, inclusive crianças e jovens; quando há tanta violência e tanta morte acontecendo ao nosso redor? Aqui nós esbarramos na frágil linha divisória que separa o que é consentimento de Deus daquilo que é fruto de uma liberdade humana mal administrada. Em todo caso, para quem deseja recuperar a sua fé na confiança em Deus em meio a uma situação de sofrimento, é importante ter claro que nenhum mal nos atingirá sem o consentimento do Pai, e se Ele consentir, continuaremos a confiar que Ele tudo está conduzindo segundo o Seu desígnio de salvação para conosco.
        Nossa confiança em Deus nunca é inabalável. Também o povo de Israel, vivenciando uma experiência de sofrimento, se sentiu abandonado e esquecido por Deus: “O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim!” (Is 49,14). Aliás, o próprio Jesus se sentiu abandonado pelo Pai na hora da cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46). Sentir-se abandonado e esquecido por Deus não significa ter perdido a fé; significa que a nossa fé deve refazer a sua confiança em Deus na noite escura da dor, do sofrimento e da dúvida, até que voltemos a experimentar o cuidado d’Ele para conosco, confiando naquilo que Ele mesmo disse: “Acaso pode a mãe esquecer-se do filho pequeno...? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti” (Is 49,15).
      Quando você estiver preocupado(a) em excesso; quando a ansiedade crescer em você a ponto de se transformar em crise de pânico, lembre-se de que as nossas preocupações não têm o poder de prolongar a duração da nossa vida (v.27). Elas não vão mudar em nada o que tiver que acontecer, o que tivermos que enfrentar. “Não vos preocupeis, dizendo: O que vamos comer? O que vamos beber? O que vamos vestir?... Vosso Pai, que está nos céus, sabe que precisais de tudo isso” (Mt 6,31-32). Jesus nos convida a transformar o nosso medo em confiança, a nossa tentativa de controle em entrega de todas as coisas nas mãos do Pai que sabe do que necessitamos. Ele providenciará a força necessária para lidarmos com o que tivermos que lidar, para enfrentarmos o que tivermos que enfrentar.
        Enfim, se você é o tipo de pessoa que se orgulha de viver correndo e acha que não tem o direito de parar (quem sabe, dizendo que não precisa disso!), torne-se consciente de que a doença é a forma que a vida tem de nos obrigar a parar ou reduzir o ritmo, porque estávamos correndo e trabalhando contra nós, contra os nossos limites, contra a nossa natureza, contra a nossa necessidade de repouso. Lembre-se das palavras do salmista: “Só em Deus a minha alma tem repouso, porque dele é que me vem a salvação!... Povo todo, esperai sempre no Senhor e abri diante dele o coração” (Sl 62,6.9). Ocupe-se, esforce-se, trabalhe pelo reino de Deus e por sua justiça, e tudo o mais que você precisa será providenciado pelo Pai (cf. Mt 6,33). Retire sua alma das mãos da ansiedade e coloque-a nas mãos do Pai, onde ela encontra repouso e salvação. Espere pelo Senhor e abra diante d’Ele o seu coração, para que você volte a se sentir cuidado(a) pela Providência Divina.

                                                           Pe. Paulo Cezar Mazzi

2 comentários:

  1. Parabéns pelo trabalho especial através do blog. Deus o ilumine sempre. Att. Pe. Anderson Nascimento

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir