quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

COMO ANDA A SUA LIBERDADE DE ESCOLHA?

Missa do 6º. dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiástico 15,16-21; 1Coríntios 2,6-10; Mateus 5,17-37.

            É muito comum você encontrar, na internet, manifestações contrárias às igrejas e às religiões, mas não contrárias a Deus. Algumas pessoas, por exemplo, postam no seu Face afirmações do tipo: “Eu quero Deus; não quero religião, nem igreja, nem doutrina”. Pessoas rejeitam religiões, igrejas e doutrinas porque rejeitam proibições.
       Quando Jesus iniciou sua pregação, muitas pessoas se encantaram com Ele, pela forma como falava de Deus. Mas, diante da expectativa de que Jesus tivesse vindo anunciar um Deus sem doutrina, cuja Palavra não nos proíba de nada, Jesus esclareceu: “Não pensem que vim para abolir a lei e os profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17). Jesus não veio nos apresentar um Deus que nunca nos diga “Não; isso não pode, isso não deve!” Ele veio nos esclarecer o motivo pelo qual Deus às vezes nos diz: “Não; isso não pode, isso não deve!” E o motivo está em educar a nossa liberdade de escolha: “Diante de ti, ele colocou o fogo e a água; para o que quiseres, tu podes estender a mão. Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir” (Eclo 15,17-18).
            A Palavra de Deus existe para nos ensinar a escolher a vida e não a morte, a felicidade e não a infelicidade. Quem se afasta da Palavra sente Deus cada vez mais distante de si. Consequentemente, não experimenta a presença, o amor e a salvação de Deus em si. Quem se aproxima da Palavra, sente Deus cada vez mais próximo de si. Consequentemente, experimenta a presença, o amor e a salvação de Deus em si (cf. Mt 5,19-20).
  A Palavra diz: “Não matarás!”, mas Jesus aprofunda o sentido de “matar”: quando nos enchemos de cólera, ou nos deixamos dominar pela raiva, ou ainda agredimos as pessoas com palavras, isso também é “matar” (cf. Mt 5,22). Se vamos a uma igreja buscar a nossa comunhão com Deus, essa comunhão só se dará depois que tivermos nos reconciliado com a pessoa de quem estávamos distantes. Em outras palavras, quem toma a decisão de viver distante do outro não tem como sentir Deus perto de si (cf. Mt 5,23-24). E se você decide que só vai se reconciliar com a pessoa depois que ela “pagar o último centavo” do que lhe deve, saiba que é você quem ficará preso no seu ressentimento, e dali não sairá até que não beba a última gota do veneno do seu ressentimento (cf. Mt 5,26).
   A Palavra diz: “Não cometerás adultério”, mas Jesus chama a atenção para a dinâmica do desejo em nós. Um homem não escolhe sentir desejo por uma mulher, e vice-versa. O desejo está inscrito em nossa natureza humana. O problema é quando distorcemos o desejo em posse: “eu quero tal pessoa para mim!”; “tal pessoa tem que ser minha!” O problema não está em você sentir desejo por alguém, mas em permitir “ser arrastado” por esse desejo, de forma que ele destrua a sua família e/ou a família da outra pessoa (cf. Mt 5,27-28).
  Uma pergunta: Você sabe quem conhece os seus desejos? Além de Deus, de você mesmo(a) e do seu coração, também o seu celular, o seu computador, o provedor da sua internet, além de uma infinidade de espiões que vigiam seus passos toda vez que você navega na internet. Uma outra pergunta, em relação à forma como você lida com seus desejos: Você é uma pessoa “fácil”? Ao denunciar a infidelidade do povo de Israel para com Deus, o profeta Jeremias disse: “Quem quiser procurar você não terá dificuldade, ele o(a) encontra no seu mês” (Jr 2,24). A expressão “no seu mês” se refere à época do cio. No campo da sexualidade, as tentações normalmente encontram dificuldade em vencer você, ou você já se tornou para elas apenas “café pequeno”?
  Ainda em relação à forma de lidar com nossos desejos, Jesus diz que, se preciso for, devemos arrancar nosso olho ou cortar nossa mão. Em outras palavras, precisamos aprender a dizer “não” a nós mesmos, convencidos de que é muito melhor perder uma ocasião de prazer do que estragar nossa vida, nosso relacionamento, nossa família, por causa daquele momento de prazer (cf. Mt 5,29-30).
     Por fim, a Palavra de Deus nos convida a perceber se a nossa palavra humana tem crédito ou não diante dos outros: “Que o seu ‘sim’ seja sim, e o seu ‘não’, não” (Mt 5,37). Jesus nos ensina a sustentar aquilo que dizemos, a sermos coerentes, a vivermos de acordo com aquilo que falamos, sem a necessidade de “jurar”, pois uma pessoa que precisa jurar, na verdade tem uma palavra fraca, não digna de crédito. Que essas indicações do Evangelho nos ajudem a purificar a nossa liberdade de escolha de todo egoísmo de nossa parte e também da “tirania do prazer”, imposta pela sociedade em que vivemos.     

                                                                                                                                                  Pe. Paulo Cezar Mazzi

Um comentário: