Missa
do 7º. dom. comum. Palavra de Deus: Levítico 19,1-2.17-18; 1Coríntios 3,16-23;
Mateus 5,38-48.
Todos nós somos atingidos
diariamente pelo mal. É a notícia sobre um ato violento e injusto que chega a
nós por algum meio de comunicação; é a atitude, o olhar ou a palavra de alguém
que, em casa, ou na rua, ou na escola/faculdade ou no ambiente de trabalho fez
com que nos sentíssemos prejudicados, injustiçados ou não amados. O fato é que
todos os dias nós entramos em contato com o mal que há no mundo, e esse contato
desperta em nós uma defesa instintiva, chamada ira.
A ira, essa raiva intensa e profunda,
embora seja vista como um sentimento negativo, pecaminoso, não aceito por Deus,
é apenas um sentimento, e é bom lembrar que nós não escolhemos sentir. Se a ira
surge dentro de nós é porque estamos diante de uma situação em que nos sentimos
atacados, feridos, injustiçados, e a ira é a forma que temos de nos defender do
mal que estamos sofrendo. A questão, portanto, não é se podemos ou não sentir ira,
mas como lidamos com ela.
Se eu vejo uma imagem de violência
na televisão ou na internet, instintivamente a minha ira deseja que a pessoa
que cometeu tal violência beba do seu próprio veneno: se ela ateou fogo em
alguém, que seja ateado fogo nela também; se ela estuprou, torturou e matou
alguém, que seja também estuprada, torturada e morta. Toda vez que eu vejo ou
sofro uma injustiça, a minha ira grita: “olho por olho e dente por dente!” (Mt
5,38). No entanto, diante da atitude instintiva da nossa ira, a Escritura nos
aconselha: “Irai-vos, mas não pequeis: não se ponha o sol sobre a vossa ira,
nem deis lugar do diabo” (Ef 4, 26-27). Em outras palavras, eu tenho o direito
de sentir ira – isso não é escolhido por mim! – mas não devo dar à ira o poder
de determinar as minhas atitudes, levando-me a pecar. Antes que o dia termine,
eu preciso reconhecer a ira que possivelmente tenha se alojado dentro de mim e
dar-lhe uma direção construtiva, para que o diabo não passe a morar dentro de
mim através da minha ira.
Eis, portanto, o conselho de Jesus: “Não enfrenteis
quem é malvado!” (Mt 5,39). Não caiamos no erro de nos tornar injustos com a
desculpa de que estamos combatendo as injustiças que existem à nossa volta; não
nos tornemos maldosos com a justificativa de que estamos tentando eliminar o
mal que existe em nossa sociedade. O mal não é eliminado com o mal, mas com o
bem. Você tem o direito de se defender de quem lhe faz mal, mas não permita que
o mal passe a ser a sua nova identidade para sobreviver neste mundo.
Jesus nos lança um desafio: “Amai vossos inimigos
e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim vos tornareis filhos do vosso Pai
que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz chover
sobre justos e injustos” (Mt 5,44-45). Em que sentido somos desafiados a amar
nossos inimigos? No sentido de entender que o nosso amor não pode estar
condicionado àquilo que as pessoas nos fazem: se elas forem boas para nós,
seremos bons para elas; se elas falarem conosco, falaremos com elas. São os
pagãos que agem assim! Mas nós, cristãos, podemos dar um passo a mais e tomar a
decisão de amar.
Quando você se pergunta se vale a
pena amar, não olhe para as pessoas, para verificar se elas merecem ou não seu
amor; olhe para Deus: quando Ele decide espalhar pela terra a luz do sol ou
derramar sobre ela a bênção da chuva, não olha quem naquele momento merece receber
o sol ou a chuva. Deus ama porque decidiu amar, e não porque Seu amor é
reconhecido e correspondido na mesma medida pela humanidade. A questão,
portanto, que Jesus coloca é saber de quem você realmente é filho(a); de quem
você escolhe ser filho(a): de Deus ou do maligno?
Se você escolhe viver como filho(a) de
Deus, Jesus te lança um outro desafio: “Seja perfeito como o seu Pai celeste é
perfeito!” (citação livre de Mt 5,48). A perfeição à qual Jesus se refere é no
sentido de aperfeiçoamento. É um convite a você fazer um caminho espiritual, por
meio do qual as arestas do seu egoísmo vão sendo aparadas e você vai
aperfeiçoando o seu amor pelas pessoas, de modo que ele se torne cada vez mais
capaz de gratuidade.
Quando é que o nosso amor torna-se perfeito como
o do nosso Pai celeste? Quando compreendemos que “não há amor sem dor” (Pe.
Júlio Lancelotti, citando Edith Stein). Por que muitas pessoas deixaram de amar
depois que chegou a dor na vida delas? Porque reduziram seu amor a um
sentimento que só sobrevivia se experimentasse prazer ou alegria. Só quem
compreende que amar é uma decisão e não apenas um sentimento pode ter no
coração um amor que não apenas sobreviva à dor, mas que, também por meio dela,
se torne maduro, perfeito, gratuito, como é o amor de Deus em relação a cada
ser humano.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluir