Missa
do 8º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 49,14-15; 1Coríntios 4,1-5; Mateus
6,24-34.
Tome consciência das suas
preocupações: E se eu ficar doente? E se eu perder meu emprego? E se eu não
tiver dinheiro para honrar com meus compromissos? E se eu sofrer? E se eu
fracassar? E se eu morrer? E se meu filho não passar neste concurso ou nesta
entrevista de emprego? E se minha filha cair nas drogas? E se determinado mal
atingir a minha família?... A lista das nossas preocupações não tem fim, e
parece aumentar a cada dia.
Nunca
como hoje as pessoas estiveram não apenas muito ocupadas, mas também
excessivamente preocupadas. Mas, de onde nascem as nossas preocupações? A
primeira causa, segundo Jesus, é que decidimos nos colocar a serviço do
dinheiro e do consumismo. Primeiro, ficamos preocupados em conseguir dinheiro e
adquirir certos bens; depois, além de ficarmos preocupados em manter os bens
que adquirimos, nos preocupamos em ganhar mais dinheiro para adquirir mais
bens, pois essa é a dinâmica do consumismo: “o que é demais nunca é o bastante”
(Legião Urbana, Teatro dos vampiros)...
No mundo de hoje, todos precisamos de dinheiro e de alguns bens, mas é bom
lembrar quem manda em quem, quem possui quem.
A segunda causa do excesso de
preocupação que nos consome é a falta de confiança no Pai, que está no céu. Ao
afirmar que o Pai tem o cuidado de alimentar até mesmo os pássaros, Jesus nos
pergunta: “Vós não valeis mais do que os pássaros?” (Mt 6,26). Numa outra
passagem bíblica, Jesus esclarece que nenhum passarinho cai por terra (morre)
sem o consentimento do Pai, que está no céu (cf. Mt 10,29). Essa é a questão:
saber que Deus cuida de nós não significa esperar que nunca sofreremos ou
morreremos; significa, sim, saber que nada nos acontecerá sem que o Pai
consinta, permita, e se Ele permitir, se Ele consentir, será sempre em vista do
nosso bem, da nossa salvação.
Para muitas pessoas, soa irônico e
até mesmo sarcástico Jesus dizer que o Pai cuida dos pássaros, e devemos ter
confiança, porque nós valemos para Ele muito mais do que os pássaros. Como acreditar
que Deus é nosso Pai e que Ele cuida de nós, quando há tantas pessoas com
câncer, inclusive crianças e jovens; quando há tanta violência e tanta morte
acontecendo ao nosso redor? Aqui nós esbarramos na frágil linha divisória que
separa o que é consentimento de Deus daquilo que é fruto de uma liberdade
humana mal administrada. Em todo caso, para quem deseja recuperar a sua fé na
confiança em Deus em meio a uma situação de sofrimento, é importante ter claro
que nenhum mal nos atingirá sem o consentimento do Pai, e se Ele consentir,
continuaremos a confiar que Ele tudo está conduzindo segundo o Seu desígnio de
salvação para conosco.
Nossa confiança em Deus nunca é
inabalável. Também o povo de Israel, vivenciando uma experiência de sofrimento,
se sentiu abandonado e esquecido por Deus: “O Senhor abandonou-me, o Senhor
esqueceu-se de mim!” (Is 49,14). Aliás, o próprio Jesus se sentiu abandonado
pelo Pai na hora da cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt
27,46). Sentir-se abandonado e esquecido por Deus não significa ter perdido a
fé; significa que a nossa fé deve refazer a sua confiança em Deus na noite
escura da dor, do sofrimento e da dúvida, até que voltemos a experimentar o
cuidado d’Ele para conosco, confiando naquilo que Ele mesmo disse: “Acaso pode
a mãe esquecer-se do filho pequeno...? Se ela se esquecer, eu, porém, não me
esquecerei de ti” (Is 49,15).
Quando você estiver preocupado(a) em
excesso; quando a ansiedade crescer em você a ponto de se transformar em crise
de pânico, lembre-se de que as nossas preocupações não têm o poder de prolongar
a duração da nossa vida (v.27). Elas não vão mudar em nada o que tiver que
acontecer, o que tivermos que enfrentar. “Não vos preocupeis, dizendo: O que
vamos comer? O que vamos beber? O que vamos vestir?... Vosso Pai, que está nos
céus, sabe que precisais de tudo isso” (Mt 6,31-32). Jesus nos convida a
transformar o nosso medo em confiança, a nossa tentativa de controle em entrega
de todas as coisas nas mãos do Pai que sabe do que necessitamos. Ele
providenciará a força necessária para lidarmos com o que tivermos que lidar,
para enfrentarmos o que tivermos que enfrentar.
Enfim,
se você é o tipo de pessoa que se orgulha de viver correndo e acha que não tem
o direito de parar (quem sabe, dizendo que não precisa disso!), torne-se
consciente de que a doença é a forma que a vida tem de nos obrigar a parar ou
reduzir o ritmo, porque estávamos correndo e trabalhando contra nós, contra os
nossos limites, contra a nossa natureza, contra a nossa necessidade de repouso.
Lembre-se das palavras do salmista: “Só em Deus a minha alma tem repouso,
porque dele é que me vem a salvação!... Povo todo, esperai sempre no Senhor e
abri diante dele o coração” (Sl 62,6.9). Ocupe-se, esforce-se, trabalhe pelo reino
de Deus e por sua justiça, e tudo o mais que você precisa será providenciado
pelo Pai (cf. Mt 6,33). Retire sua alma das mãos da ansiedade e coloque-a nas
mãos do Pai, onde ela encontra repouso e salvação. Espere pelo Senhor e abra
diante d’Ele o seu coração, para que você volte a se sentir cuidado(a) pela Providência
Divina.
Pe. Paulo Cezar Mazzi